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Com improviso, raça e feijoada, equipe brasileira larga sábado no Mundial de Corrida de Aventura


Quasar Lontra na Escócia (foto: Arquivo Pessoal)

O quarteto brasileiro formado por Rafael Campos, Fabrizio Giovannini, Tessa Roorda e Erasmo Cardoso, o Xiquito, está nos últimos preparativos para a largada do ARWC 2007, o Campeonato Mundial de Corridas de Aventura. O evento teve a abertura oficial hoje, com a checagem de material e habilidades.

A equipe brasileira Mitsubishi Quasar Lontra teve problemas no envio das caixas com equipamentos e alimentação para o mundial. A empresa aérea perdeu-as, temporariamente. Hoje todas já foram recuperadas, “mas se ficar faltando algo, vamos improvisar, aqui a gente dá um jeito, vamos largar com certeza”, informou Rafael Campos, capitão e navegador da equipe. Para Xiquito, estreante no mundial, uma caixa em especial continha um item obrigatório. “Como bom baiano, ele tem que comer feijoada com farinha durante a prova”, revelou Rafael.

Além dos quatro brasileiros, Eleonora Audrá, a Nora, também está presente no Mundial. Vai competir com a equipe sueca FJS. Na noite desta quarta-feira, Rafael Campos falou com exclusividade ao Webventure, confira a entrevista.

Webventure – Como está a situação do equipamento? Receberam tudo?
Rafael Campos –
Na noite de terça-feira chegou a maioria das caixas, menos a do Fabrizio, que contém principalmente alimentos e alguns equipamentos gerais. Tivemos notícias que essa caixa está no aeroporto, mas não chegou nas nossas mãos ainda. A organização já está sabendo da nossa situação. Tem mais equipes com o mesmo problema. Isso atrasou um pouco a nossa rotina de preparação dos equipamentos. Passamos o dia montando tudo, checando, verificando alimento e fomos comprar o que faltava antes da checagem.

Como são os testes de habilidades?
Todas as equipes precisam demonstrar que os equipamentos estão em boas condições, técnicas verticais, caiaque, e se a equipe tem condições de se orientar, de realizar primeiros socorros pelo menos um atleta na equipe. Depois tem um teste mesmo de técnicas verticais, precisaremos fazer um rapel e ascensão com corda. E também o teste de caiaque, vamos ter que remar, virar e desvirar, enfim, provar que conseguimos entrar com ele no mar. Isso dura o dia todo, até 19h.

A equipe está pronta para largar para o mundial?
Com a última caixa que falta estaremos prontos para largar. Se não chegar, daremos um jeito, vamos improvisar, comprar o que ficou faltando, enfim, com certeza vamos largar no Mundial. Notamos que a maioria das grandes equipes do mundo está aqui, já cruzamos com grande parte delas no auditório onde fica a concentração para a prova. Conversamos com algumas, o pessoal que vimos no Ecomotion/Pro ou na edição passada do Mundial. E também a Nora, outra brasileira que está aqui, com uma equipe Sueca.

Fale sobre essa formação da Quasar. Não faz muito tempo que correm juntos
É uma formação diferente com exceção no Fabrizio, que já corre comigo faz tempo. Ele é especialista em provas longas, de expedição, está indo para o terceiro mundial. A Tessa entrou no fim do ano passado, mas já teve uma experiência internacional em Portugal [XPD Expedition Race], na qual ficamos em terceiro. Ela é muito forte e tem bastante vontade. E o Xiquito, que pegamos esse ano para vir ao mundial. É um cara muito forte e tem um astral muito grande, é fácil de lidar. A equipe não tem experiência correndo junto, mas o conjunto é bom: um tem experiência, outro força de vontade, outro força física. Acho que vai dar uma união boa para esse mundial.

A navegação continua com você?
Sim, e o bom para mim aqui é que temos poucas horas de escuridão. Escurece aqui por volta das 22h, quando é 4h já está amanhecendo, não tem mais do que seis horas de escuridão. Eu tenho dificuldade de navegar no escuro, que é quando o sono bate forte.

O que vocês compraram de comida aí na Escócia?
Trouxemos algumas coisas do Brasil, como gel de carboidrato, e também uma feijoada e batata. O Xiquito, como bom baiano, tem que comer feijão e farinha. Aqui compramos o que é perecível: frios, pão, macarrão, atum e carne enlatados.

A logística de transporte dos equipamentos nessa prova é da organização. Por outro lado, vocês precisam levar mais material o tempo todo. O que isso dificulta?
Antes da largada tem uma complicação muito grande na distribuição de equipamentos e alimentos pelas caixas. Não são todas que vão para todos os pontos de apoio e transições. Algumas caixas são para algumas transições, o que faz com que a gente distribua os equipamentos de todo mundo nelas, especificamente para esses trechos. É preciso calcular bem para que não tenha excesso ou falta em alguma pernada. Alguns equipamentos precisam estar conosco todos os momentos: primeiros socorros, GPS, rádio, corda, saco de dormir, o que deixa a mochila bastante pesada.

Pelo que viram dos mapas da região, quais serão as dificuldades naturais da prova?
Demos uma verificada no que tem de pontos turísticos aqui em alguns mapas. É uma região bastante montanhosa, o Ben Nevis, que é a montanha mais alta da Grã Bretanha (1.344m), está aqui do nosso lado. Nós estamos praticamente no nível do mar, então vamos subir mil metros, descer a quase zero, subir de novo. Também tem muitos lagos e braços de mar, todos com uma corrente bastante forte, porque venta muito o tempo inteiro. Estamos a 100km do famoso lago Ness, a nordeste, acreditamos que a prova irá passar por lá também.

Como está o clima das equipes para a largada
O clima é sempre amistoso. As equipes praticamente não mudam. Esse é o momento que temos para nos reencontrar, saber como anda o esporte nos outros países. Tem umas equipes muito fortes, um pessoal da Nova Zelândia, Estados Unidos, suecos, um pessoal da Espanha, o Paul Romero e a Sole. Será muito difícil.

A neblina pode ser um agravante?
Os dois dias que estivemos aqui amanheceram com neblina. Nos pontos mais altos, já mais ou menos aos 600m de altitude, as montanhas estão sempre encobertas, e isso durante a noite pode dificultar muito a navegação. Ainda mais no trekking, onde deveremos ter pouquíssimas trilhas.O terreno aqui é de vegetação baixa, sem árvores. Quando o tempo está aberto, é ótimo para navegar, mas com tempo fechado, ou noite, isso fica bem mais complicado, perdemos a referência.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa