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Como é a vida e o trabalho de um cinegrafista de vida selvagem

Tudo começou quando Cristian Dimitrius era instrutor de mergulho e filmava os alunos para que eles levassem para casa uma recordação de suas aventuras. “Desta forma, além de levar pessoas para a natureza, estas pessoas levavam a natureza para suas casas e ainda mostravam para seus familiares e amigos. Isso estava totalmente de acordo com o meu projeto de vida, que era fazer com que as pessoas se apaixonassem pelo planeta”, conta Dimitrius.

Então ele percebeu que com as imagens poderia atingir muito mais pessoas e foi aí que decidiu se dedicar a captação de imagens de natureza para documentários e programas de televisão.

O seu projeto de vida é fazer com que as pessoas se apaixonem pelo planeta. Foto: divulgação

Hoje, ele é um dos poucos brasileiros que dedica 100% do seu trabalho à fotografia e cinematografia de natureza e já fez projetos com a BBC, National Geographic, Discovery Channel, TV Globo, History Channel e Animal Planet. Atualmente, Cristian é também um dos apresentadores do quadro Domingão Aventura, no Domingão do Faustão da Rede Globo.

O caminho para se estabelecer no mercado não foi nada fácil. “Independente do seu sonho, seja ser um renomado cinegrafista de natureza, campeão olímpico ou até um astronauta, estando no Brasil ou em qualquer lugar, o segredo é se preparar, acreditar em você, amar o que faz e nunca, nunca desistir. No momento certo, a sua hora vai chegar.“

Segundo Cristian, o segredo é se preparar, acreditar em você, amar o que faz e nunca desistir. Foto: divulgação

E é justamente o amor pela profissão que é o mais importante para Dimitrius. “A profissão exige uma dedicação diária, muito esforço psicológico, físico e técnico. Quem não se dedica muito, não consegue alcançar um lugar de destaque.” Principalmente com a tecnologia mudando a cada dia, o aprendizado não acaba nunca. “É fundamental estar sempre na frente, buscando mais conhecimento e buscando uma nova forma de olhar o mesmo.”

Mas o grande esforço vem com grandes recompensas. E para Dimitrius, essas recompensas são as histórias que vive no trabalho. Uma de suas preferidas aconteceu recentemente, no Texas. Anualmente milhões de morcegos se reúnem em uma caverna e saem todos os fins de tarde para se alimentar. “Já tinha visto vídeos mas nunca vi nada parecido ao vivo. Chegamos mais cedo, montamos as câmeras na frente da caverna e esperamos a hora certa, de repente vimos um movimento dentro da caverna e um grupo de morcegos começou a sair. Em menos de 10 segundos milhares voavam sobre nossa cabeça. Era inacreditável. Formavam uma espécie de tornado e chegava até a ventar. Milhões e milhões de morcegos formando um dos maiores espetáculos da Terra. Fiquei realmente emocionado e tive a oportunidade de ver e filmar, por quatro dias.” A equipe conseguiu cenas sensacionais que tentam expressar um pouco do que é o evento. “Fiquei realmente satisfeito com o resultado mas nada se compara com ver o fenômeno ao vivo, fico emocionado só de lembrar”, afirma o cinegrafista.

Para Dimitrius, as recompensas são as histórias que vive no trabalho. Foto: arquivo pessoal

Algumas dessas histórias envolvem também risco e situações perigosas pois, algumas vezes, algo não sai como o planejado. “Já fiquei perdido sozinho em alto mar, em Galápagos, e já passei por uma pane aérea na Mongólia. Mas eu sempre falo que tenho mais medo na cidade do que no campo ou mesmo em alto mar.”

Dimitrius já trabalhou nos quatro cantos do planeta e dos seus lugares preferidos, as Ilhas Galápagos estão no top 10. “A concentração de vida selvagem, sua história natural e a importância que o lugar tem no contexto da biologia moderna são apenas três, entre muitos outros motivos que me fazem voltar pra lá pelo menos uma vez por ano.”

Dimitrius já trabalhou nos quatro cantos do planeta. Foto: arquivo pessoal

Independente de onde está, para ele, a paciência é extremamente necessária para um bom cinegrafista da vida selvagem. “Não podemos controlar a natureza e muitas vezes temos que esperar horas, dias, semanas ou mesmo meses para conseguir uma imagem.”

Além da paciência, é preciso saber lidar com o tédio extremo, estado como um cinegrafista de natureza trabalha na maior parte do tempo. “A espera, debaixo de um sol forte, ou debaixo de chuva, no calor ou no frio, pode ser longa e é preciso não perder o foco pois tudo muda em segundos. Costumo dizer que não há nada mais chato do que ver um leão dormir o dia todo por um mês sob o sol quente mas não há nada mais excitante e incrível do que vê-los levantar-se e caçar um gnu bem na sua frente.” Segundo ele, se o cinegrafista se irrita, fica impaciente e não se concentra neste estado de “calmaria” ele pode por tudo a perder. “E na natureza, um evento destes é algo que podemos nunca mais ter uma segunda chance.”

Este texto foi escrito por: Isabela Rios/Webventure