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Como saber se a segurança outdoor é levada a sério

Como saber se a segurança é um aspecto que está sendo levado a sério na sua viagem/passeio para prática de aventura? Foi para buscar uma resposta a esta importante questão que nossa equipe conversou com algumas personalidades ligadas à aventura. Atuando em áreas como rally, montanhismo, trekking, corridas de aventura, paraquedismo e rafting, profissionais de ponta como o médico Clemar Corrêa e o bombeiro Valdir Pavão dão algumas dicas para que você perceba se a segurança está sendo valorizada no seu pacote de aventura.

Começamos com as dicas de João Carlos Ramalho, o Juneca, especialista em rafting da Rios de Aventura e ex-instrutor da Canoar, pioneira no esporte no Brasil. Ele destaca a iniciativa do turista se informar sobre a empresa que pretende contratar para realizar um passeio ou viagem. Este comportamento é apontado pelos especialistas como fundamental para quem quer estar seguro.

Antecedentes da empresa – “A segurança envolve muitas coisas. Há alguns anos os esportes de aventura eram chamados de ‘esportes radicais’, justamente por existir a possibilidade de se machucar. Quando uma pessoa decide procurar uma empresa que lhe proporcione a prática desse tipo de esporte, deve procurar saber pelo menos os antecedentes da instituição”, relata Juneca. Deve-se ficar atento ao tempo de experiência no mercado, se as pessoas envolvidas são certificadas, se elas têm cursos de primeiros socorros e se a existe algum tipo de apoio durante a prática de aventura.

É importante ficar atento se a empresa é certificada e tem profissionais experientes. Foto: Martinfredy/Fotolia

“Os instrutores devem ter uma boa formação sobre as atividades que estarão exercendo e também devem passar constantemente por cursos de ‘reciclagem’. Os principais aspectos a serem considerados são o tempo de experiência da empresa e os equipamentos que ela utiliza”, finaliza o especialista em esportes aquáticos.

Montanhismo e trekking – No montanhismo, por exemplo, os equipamentos devem ser certificados pela Uiaa (União Internacional das Associações de Alpinismo), entidade reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional como autoridade máxima no mundo em relação ao alpinismo.

“Os procedimentos têm de estar claros para os usuários, podendo ser por escrito, ou seja, a empresa deve detalhar a atividade ao cliente, dizendo como será a seqüência da atividade, o grau de dificuldade, os procedimentos preliminares e todos os detalhes. Creio que isso ainda não exista, mas é um grande desejo no montanhismo”, relata Silvério Nery, presidente da Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo (Femesp) e da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (Cbme).

Já no trekking, a segurança é primordial, muito mais importante do que o desafio, de fazer coisas arrojadas ou da aventura em si. “O ponto principal é o deslocamento das equipes de resgate, que deve ser feito de forma ágil em caso de um eventual acidente”, afirma Esdras Martins, organizador do Campeonato Paulista de Trekking (Enduro a Pé).

“A pessoa deve prestar atenção à organização e à estrutura do local onde ela vai praticar o esporte. No trekking, essa pessoa deve ter certeza de que terá um acompanhamento durante o tempo em que está caminhando.”

Em trekkings é importante que o local tenha fácil acesso a equipes de socorro. Foto: Warren Goldswain/ Fotolia

Resgate – A primeira preocupação que o cliente tem que ter com a empresa, é saber se ela possui profissionais qualificados, que tenham conhecimento em técnicas de primeiros socorros e se possui equipamentos mínimos para atender a uma pessoa numa emergência. “Hoje, as boas empresas que estão no mercado têm essa preocupação com segurança e estão procurando bons profissionais no mercado. Infelizmente ainda não são todas, mas a boas empresas têm a segurança como prioridade”, comenta Valdir Pavão, bombeiro, especialista em resgate e atleta de corridas de aventura.

A empresa tem a obrigação de informar e o cliente tem o direito de perguntar se realmente esses itens citados existem. “O praticante também deve saber quem é a pessoa responsável pela sua segurança e se essa ela tem as qualificações necessárias”, afirma o militar.

Nas corridas de aventura, sempre existe uma reunião pré-competição, onde o participante deve exigir que o organizador apresente quem são os responsáveis por cada modalidade que será praticada. “O organizador também deve se preocupar com os itens de segurança levados pelo próprio competidor. Seria muito bom se o participante também tivesse conhecimentos de primeiros socorros”.

Medicina – Para o médico de aventura, Clemar Correa, “é muito difícil para um atleta ou uma pessoa comum que queira praticar um esporte de aventura, avaliar com segurança a seriedade da empresa”. Mas, segundo o profissional, o feeling do praticante conta bastante nessa hora, além do interesse em pesquisar o histórico da empresa.

“Algumas pessoas não estão dando atenção ao aspecto do resgate. Algumas corridas estão se transformando em provas de sobrevivência. Estamos lutando para que o pessoal dessa modalidade invista mais na segurança, pois estão acontecendo provas muito difíceis, onde o risco aumenta”, relata. “Assim como a organização cobra algumas obrigações dos atletas na inscrição e durante a participação, os competidores devem cobrar a segurança e essa consciência ainda não existe.”

Os guias devem estar aptos a prestar primeiros socorros. Foto: Daviles – Fotolia

Socorro em ambientes hostis – “O termo aventura representa hoje atividades ao ar livre, fora de centros urbanos e de estruturas de nossa civilização longe de nosso alcance”, comenta Ricardo Contel, paraquedista, e editor da revista Aventura e Ação.

Se fôssemos atropelados nas ruas de São Paulo e isso ocasionasse um quadro clínico grave, nossas chances de sobrevivência seriam bem generosas, pois certamente haveria mais de um cidadão munido de aparelho celular que acionaria o serviço de Resgate do Corpo de Bombeiros (193) para socorrer em poucos minutos a vítima, removendo-a a uma unidade de Pronto-Socorro. “E no meio do mato? O que fazer? Sua defesa contra acidentes em expedições comerciais, turismo de aventura ou ecoturismo é a prevenção. E isso cabe ao seu guia. Se ele está mais preocupado em dizer o que será feito no passeio, o que será visto e tudo o que faz do passeio uma maravilha, cuidado! Antes de se aventurar por um local inóspito, é preciso que todos tenham a consciência das dificuldades que poderão ser enfrentadas e dos cuidados a serem tomados com relação ao ambiente que, por mais belo que possa parecer, ainda assim é hostil”, comenta o aventureiro.

Questione se o seu guia possui treinamento para socorrismo e peça que lhe mostre o credenciamento. Isso também é uma ajuda que você presta à comunidade da aventura, pois você passa a ter “armas” que auxiliarão no bom preparo dos profissionais que ainda deixam essa questão – a do socorrismo – em segundo plano, criando neles uma importante conscientização que visa o bem comum.

“Mas não se assuste ou se desanime com o descrito acima. Os riscos existem em quase todas as atividades e nós podemos diminuí-los a níveis próximos de zero pelo bom preparo, utilização de equipamentos adequados e a prevenção”, finaliza Contel.

Nota da Redação:uma dica é pesquisar quais agências são registradas na Embratur (o órgão que regulamenta a atividade das empresas de turismo) e na Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav). Sites: www.embratur.gov.br e www.abav.com.br.

Este texto foi escrito por: Samir Souza, especial para o Webventure