O contador de passos deve procurar manter o mesmo padrão durante a prova (foto: Arquivo Pessoal/ George Hirata)
O treinamento para uma prova de Enduro a Pé exige muito mais do que resistência física, é importante ter uma boa orientação, raciocínio rápido e principalmente espírito de equipe. George Hirata, conselheiro administrativo da Associação Brasileira dos Praticantes de Enduro a Pé (Abrapep) e presidente do Clube dos Amigos Reunidos pela Aventura e Amor à Natureza (Caravana) passou algumas dicas sobre a prática da modalidade.
Segundo ele, não existe um treino físico específico para a prática do Enduro a Pé, basta freqüentar uma academia e manter um condicionamento regular, pelo fato de as provas em geral serem de curta duração e não terem a necessidade de correr. O enduro a pé não exige que o praticante tenha muita resistência, muito menos explosão, comenta.
Na parte de orientação o uso da bússola é essencial e é importante estar familiarizado com seu uso para não correr riscos durante a prova. Hirata afirma que é importante ficar atento às influências de diversos campos magnéticos. “Não se deve deixá-la perto de relógio e outros equipamentos eletrônicos, e mantenha sempre na posição horizontal, diz. Dessa forma, não é necessário ser muito experiente com interpretação de mapas, basta apenas saber onde é o norte e posicionar o equipamento nos 360 graus possíveis.
Por se tratar de uma prova disputada em equipes, saber dividir bem as tarefas e executá-las com perfeição é essencial para obter bons resultados. George diz que as equipes principiantes devem escolher uma posição e fazer um rodízio conforme participam de provas para definir com qual função se identificam mais. Tem gente que prefere ler mapa, fazer as contas, ou tem concentração suficiente para contar os passos, afirma.
Quem faz o que? – As funções em uma prova de enduro a pé são: o navegador; o contador de passos e o calculista. Esse último, com base nas informações do navegador e do contador, precisa dizer o tempo exato em que a equipe deve passar por cada referência.
Mas como contar os passos na trilha? Existe um padrão, um tamanho de passada? E como fica a margem de erro? Para o especialista George Hirata, que participa de competições com uma das equipes mais experientes do país, a Curtlo Caravana North, uma série de detalhes precisam ser levados em conta.
O tamanho do passo varia em relação à inclinação e o tipo do terreno, a velocidade e até mesmo a passada do contador, que mede de forma diferente no começo e no final da prova, explica. Ele diz ainda que o membro da equipe que tiver essa função deve andar o mais natural possível.
Porém, mesmo experientes contadores não têm como andar na mesma passada durante toda a prova e, para solucionar essa questão, algumas empresas adaptaram aparelhos de navegação das provas de off-road para o enduro a pé. Nessas máquinas é possível inserir a quantidade de passos percorridos, assim como definir o tamanho do passo.
O praticante pode fazer um treino usando o metrônomo, aparelho sonoro que fornece ritmos de batidas constantes. Nesse caso, o esportista deve medir uma distância com uma fita métrica, como por exemplo 100 metros, ajustar o metrônomo para uma certa freqüência, contar quantos passos deu e quanto tempo levou.
Em posse dessas informações, Hirata diz que é possível obter o tamanho do passo: dividindo os 100m pela quantidade de passos é possível obter o tamanho do passo; dividindo os 100m pelo tempo chega-se na velocidade na qual andou. Ele diz ainda que para cada tipo de terreno é necessário fazer um novo cálculo, pois o tamanho do passo será diferente.
Dentre as funções na equipe essa é a mais árdua, as outras são bem tranqüilas e não necessitam de conhecimentos muito aprofundados. Para ele, se a pessoa tiver uma boa calculadora, não precisa ser tão boa de contas, a calculadora é que precisa ser rápida. Já o navegador, se souber ler a bússola adequadamente e tiver familiaridade com caminhadas, consegue se orientar bem.
Treinos – Um problema que atinge praticantes de diversas modalidades de esportes de aventura é o tempo para treinar, principalmente para aqueles que exercem alguma atividade que não tenha relação com o esporte. No caso do enduro a pé, o ideal é participar de provas pequenas como forma de se aprimorar. As pessoas que se dão bem no esporte são as que gostam de fazer caminhada e trilhas. Certa vez tivemos uma triatleta na nossa equipe que de tanto se machucar, desistiu do esporte, lembrou George.
Sobre o que levar de equipamentos para um enduro a pé, Hirata lista como obrigatório a todos os integrantes um relógio digital, um cantil com capacidade de 1,5 a dois litros, bota de caminhada ou sapato de corrida de aventura, chapéu, camiseta de manga longa e calça comprida.
Alguns preferem a mochila de hidratação para não perder tempo levando o cantil até a boca; tem gente que não gosta da bota, mas ela evita torções; a calça e a manga comprida protegem do sol, de vegetação e de insetos e o boné eu recomendo aquele que tem abas laterais. Todos os equipamentos podem ser colocados em uma pochete, na mochila de hidratação ou mesmo em uma mochila de ataque pequena.
Também é necessário levar duas bússolas, uma para o navegador e outra para um dos membros da equipe efetuar a conferência; equipamento de primeiros socorros com materiais para curativos de escoriações, picadas de insetos e torções, além de uma calculadora científica e o metrônomo, para aqueles que estão acostumados a usar.
De acordo com George Hirata, existem diversos programas específicos para enduro a pé que podem ser utilizados com a calculadora científica, inclusive alguns que podem ser acessados pelo site das organizações de prova.
Para não sobrecarregar ninguém e evitar que a equipe se disperse ou perca muito tempo nas atividades, George afirma que uma equipe com quatro pessoas é ideal, pois cada um pode cumprir uma função específica e ainda sobra um integrante para fazer a conferência das informações.
Este texto foi escrito por: Alexandre Koda