Caconde – Pilotos profissionais e amadores de mountain bike protestaram contra a Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), entidade que determina as regras do esporte no país. Cerca de 200 competidores assinaram o “Manifesto pelo Crescimento do Esporte”, onde cobram mais “responsabilidade” e denunciam atitudes “mesquinhas” por parte da instituição.
O que gerou a revolta dos atletas foi o fato da CBC agendar uma etapa do Campeonato Brasileiro de Mountain Bike para o dia seguinte de outra importante prova, o Desafio Noturno. Muitos tiveram que optar por uma delas ou se desgastaram demais participando das duas corridas.
O Desafio foi a primeira competição da modalidade disputada totalmente à noite. A largada aconteceu neste sábado, às 20 horas, na praça central da pequena Caconde, cidade com aproximadamente 18 mil habitantes no interior de São Paulo, próxima à divisa com Minas Gerais. A prova foi vencida por Edivando Souza Cruz, que completou o trecho de 36 quilômetros em 1h07m35. A etapa do Brasileiro está sendo disputada neste domingo em Amparo, que fica a cerca de 200 quilômetros de Caconde.
O piloto Odair José foi o mais prejudicado pela confusão patrocinada pela Confederação Brasileira de Ciclismo. Vencedor da Supercopa de Mountain Bike no ano passado, campeonato do qual o Desafio Noturno é uma das três etapas, Odair era o atual líder e estava tentando o bicampeonato neste ano. “Ele optou em correr o Brasileiro e perdeu a posição”, explica Paulo de Tarso, diretor do clube de mountain bike Sampa Bikers, organizador do Desafio Noturno e de outro importante evento, o MTB 12 Horas, a maior competição da América do Sul que acontecerá em 30 de novembro.
O campeão geral da Supercopa leva, depois de três provas, um prêmio de R$ 3.000,00, valor considerado alto para o esporte amador no Brasil. Ao contrário de Odair, outros pilotos decidiram correr as duas provas devido a compromissos com patrocinadores. “Mas isso é extremamente desgastante”, lamentou Paulo de Tarso.
O organizador do Desafio Noturno contou que foi pego de surpresa com a decisão da CBC. “O Brasileiro era para ter sido realizado semanas atrás, mas como a data coincidia com uma etapa do mundial de bicicross, em Paulínia (SP), a Confederação resolveu modificar o calendário e transferiu o Brasileiro para este final de semana.
O detalhe é que a CBC não tem nenhuma ligação com o bicicross e ninguém corre as duas modalidades. Ou seja, se a instituição mantivesse a data original, ninguém seria prejudicado”, afirmou. Paulo de Tarso contou que a data do Desafio Noturno foi escolhida no final do ano passado e não batia com nenhuma outra. “Aí veio a CBC e, de última hora, agendou o Brasileiro para o dia seguinte do Desafio Noturno”, reclama.
O Manifesto pelo crescimento do esporte, assinado no sábado pelos participantes do Desafio Noturno antes da largada, tem o objetivo, além de mostrar o descontentamento dos atletas, de “abrir os olhos” da CBC para que problemas deste tipo não aconteçam mais.
“Nós precisamos unir forças; não dividi-las. Confederação, organizadores de eventos e patrocinadores precisam trabalhar em conjunto pelo crescimento do esporte no Brasil. Marcar duas importantes corridas praticamente na mesma data é o cúmulo do absurdo”, lamentou Paulo de Tarso. O documento com as assinaturas dos atletas será entregue à Confederação neste domingo, durante a prova em Amparo, por Adriana Nascimento, atual campeã brasileira. Ela também correu o Desafio Noturno.
O Desafio Noturno de Mountain Bike é organizado e promovido pelo Sampa Bikers e tem patrocínio da Reebok e Power Bar. O apoio é da Caloi, Prefeitura de Caconde, Confederação Brasileira de Ciclismo, Federação Paulista de Ciclismo, Bici Sport, By Roupas Esportivas, Hotel Alvorada e Rudy Project.
Leia a íntegra do manifesto dos pilotos
Brasil, 24 de agosto de 2002
MANIFESTO PELO CRESCIMENTO DO ESPORTE
“Infelizmente não temos interesse em patrocinar a sua equipe”.
“Nossa verba para esse ano já está comprometida com outros esportes”.
“O mountain bike não faz parte das estratégias de marketing da empresa”.
Cansamos de ouvir frases do gênero quando saímos em busca de patrocínios. Mas, felizmente, essa realidade está mudando. O aumento do interesse da mídia na cobertura das provas, principalmente das TVs, e a visão moderna de grandes marcas, como a Reebok, Power Bar e Caloi, estão contribuindo para o crescimento do mountain bike no Brasil.
Enquanto somos testemunhas desta evolução, ao mesmo tempo presenciamos atitudes no mínimo irresponsáveis e mesquinhas por parte da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), instituição que rege as regras do ciclismo e do MTB no país.
Um exemplo claro do descaso com o esporte foi o fato da CBC agendar uma etapa do Campeonato Brasileiro de Mountain Bike praticamente na mesma data do Desafio Noturno de Mountain Bike, competição que já estava marcada muito tempo antes de ser anunciado o calendário definitivo da Confederação.
Atitudes como essa só prejudicam o desenvolvimento do nosso esporte no Brasil, deixam patrocinadores insatisfeitos e separam os atletas e a mídia, que são obrigados a optar por um dos dois eventos.
Esse documento tem o objetivo de registrar o nosso descontentamento e insatisfação com as atitudes arbitrárias e a falta de visão empreendedora por parte da Confederação Brasileira de Ciclismo. Afinal, ninguém mais quer ouvir aquelas frases que lembramos na abertura deste texto.
Amamos o nosso esporte e queremos que ele cresça.
Mas é preciso somar forças; não dividi-las.
Este texto foi escrito por: Ricardo Ribeiro
Last modified: agosto 25, 2002