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Comunidade quilombola preserva as tradições e atrai turistas no Amapá


Igreja no centro da Vila do Curiaú (foto: Bruna Didario/ www.webventure.com.br)

A 12 quilômetros de Macapá, capital do Amapá, uma comunidade que mantém costumes e tradições das descendências de escravos refugiados há cerca de dois séculos. Assim é formado Curiaú, sob chefia do líder da comunidade, o Sr. Joaquim, que explicou tudo sobre a comunidade e não deixou de ressaltar a importância da preservação e valorização das heranças deixadas.

O local é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e que recebeu o título de comunidade quilombola em 1988, concedido pela Fundação Palmares, por preservar as tradições mantidas desde a chegada dos sete escravos refugiados. É uma das poucas comunidades negras do Brasil e que, por muito tempo, viveu do plantio e da fabricação da farinha de mandioca. Até hoje, o Sr. Joaquim produz artesanalmente sacos e sacos de farinha de mandioca para serem vendidos.

A palavra Curiaú surgiu, assim como vários nomes de cidades, povoados e atrações do Amapá, da junção de palavras de representatividade na região. No caso, veio de Cria (de cria) e Mú (do mugido do gado), que deu origem a Cria-Um e depois Curiaú.

Uma das grandes dificuldades da comunidade quilombola é manter as tradições sempre vivas na região. Para isso, parte da população se mobiliza para repassar as raízes de Curiaú aos mais jovens, que hoje possuem um contato maior com outras culturas. E isso é possível observar durante apresentações de dança, que contam com senhoras e crianças, mas poucos adolescentes.

Motivação – Sr. Joaquim relembrou, com muita emoção, tudo o que já passou na Vila de Curiaú e faz questão de passar para os mais novos todas as experiências e incentiva toda forma de cultura da região. “Aqui, quem é de fora e quer construir a sua casa, precisa casar com uma morena daqui, ou um moreno. Aí sim vai ter o direito de fazer seu território e estar em contato com a nossa cultura, e se adaptar a ela”, explicou o líder comunitário.

Os cerca de 1.500 moradores da comunidade têm ligações de parentesco e de sangue.

* A reportagem do Webventure viajou a convite do Sebrae – Amapá.

Devotos de São Joaquim, mesmo nome do líder da comunidade, a população de Curiaú não dispensa passar pela igreja durante os cultos realizados durante a manhã e à tarde e Sr. Joaquim é um dos poucos que ainda reza a missa em latim. Com santos, o padroeiro e algumas faixas coloridas, a decoração da igreja é simples, toda pintada em branco e azul.

Escolhido pelos escravos, o santo padroeiro tem dez dias de comemoração, de 9 a 19 de agosto. As festas são sempre bem animadas e reúne toda a população para cantar, pedir a benção do santo e dançar durante a noite toda.

E a dança na região é um dos traços mais fortes da cultura de Curiaú e o tambor é que dita o ritmo dos dez dias de festa. O Marabaixo é a manifestação folclórica herdada dos negros africanos, e o nome veio de uma história não muito agradável: durante a vinda dos negros para o Brasil, os que estavam doentes eram jogados no mar daí o nome mar abaixo. Os movimentos são baseados nos passos dos escravos, que sempre estavam amarrados a correntes e bolas de ferro. São passos coordenados, braços levantados, giros e, para as mulheres, muitos rodopios com as saias coloridas.

O ritmo é ditado pelo batuque dos tambores e pandeiros, que são feitos com madeira e pele de animais. Mesmo para quem não sabe dançar, os passos são simples e o molejo dos quadris se ganha com as batidas. E, apesar de fácil, o Marabaixo é cansativo para quem não tem tanta prática.

Energético – E para combater o cansaço e dar mais pique, os moradores preparam uma bebida chamada gengibirra, a base de cachaça, gengibre e açúcar para agüentar até o fim das festas e dançar por horas seguidas, sem cansar. “Esse aqui é o nosso energético, igual àquele que dá asas”, contou um dos moradores.

Após um gole de gengibirra, para quem não está acostumado, vale comer um caju, que tira o gosto forte do gengibre. Aos que “sofrem” com dores de garganta, a gengibirra é um santo remédio para curar.

Este texto foi escrito por: Bruna Didario