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Conheça detalhes da Estrada Real entre Ouro Preto e São Lourenço

Redação Webventure/ Destino Aventura

Muita lama no final do trecho entre Caxambu e São Lourenço  (foto: Arquivo Pessoal/ Mauricio Marengoni)
Muita lama no final do trecho entre Caxambu e São Lourenço (foto: Arquivo Pessoal/ Mauricio Marengoni)

Em Julho de 2008 viajei pela Estrada Real no trecho Caminho dos Diamantes, indo de Diamantina até Ouro Preto. Durante a viagem tomei como base o roteiro descrito no guia da Estrada Real de Minas Gerais editado pelo SENAC. A viagem foi feita em 3 dias com paradas em Serro e Itambé do Mato Dentro. O guia auxiliou muito, porém, este trecho da Estrada Real é relativamente fácil de ser percorrido e os marcos da Estrada Real auxiliam bem durante todo o percurso.

Na época, a maior parte do trecho foi feita por estradas de terra em boas condições. Poucos trechos em asfalto, mais próximo de Ouro Preto, e alguns trechos sendo asfaltados. As dicas do guia sobre locais de para pernoite e restaurantes nas cidades e povoados facilitaram a viagem.
Este ano resolvi dar continuidade à viagem pela Estrada Real e voltei até Ouro Preto para percorrer o Caminho Velho até São Lourenço. Como o guia do SENAC termina em Ouro Preto e não encontrei outro guia com planilhas do Caminho Velho recorri aos recursos disponíveis no sítio da Estrada Real (www.estradareal.org.br).

A partir do sítio imprimi as descrições dos trechos e as planilhas. Parei ainda no escritório da Estrada Real em Ouro Preto para obter mais informações sobre o trecho, porém, as informações disponíveis eram basicamente aquelas que eu já possuía. Em cada cidade do trecho, no sítio da Estrada Real, é possível obter mais informações sobre o que ver, onde ficar, etc, mas eu não imprimi estas informações. A atendente do escritório me pediu então para fazer um relato sobre o percurso que é o que gerou este relatório.

Dificuldades – No geral as planilhas apresentam diversos problemas, mas seria impossível fazer este trecho do Caminho Velho sem as planilhas e muito bom senso. Os erros encontrados na planilha estão relacionados a: posicionamento dos marcos (marcos indicados na planilha à esquerda que estão do lado direito e vice-versa), tulipas (os desenhos da planilha, que indicam que o marco está do lado esquerdo mas a descrição diz que o marco está do lado direito), distância entre marcos (a planilha diz, por exemplo, que a distância para o próximo marco é de 2,4 km, quando na verdade é de 1,4 km), a presença de marcos no trecho que não estão indicados na planilha, orientação (a planilha diz para virar a esquerda quando o correto é virar a direita), finalmente, as indicações da planilha para sair de uma cidade e chegar até a Estrada Real não é clara o que, muitas vezes, dificultava retomar a viagem.

A seguir vou comentar trecho a trecho desta viagem que foi percorrida entre os dias 12/01/2010 e 16/01/2010.

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Trecho 1: Ouro Preto São Bartolomeu Glaura

Até o km 4,4 foi tudo certo, neste ponto se inicia uma trilha e não é possível seguir de carro pela Estrada Real, então o motorista deve seguir pela principal, porém não há mais indicações, a não ser por algumas placas indicando São Bartolomeu, mas existem várias bifurcações sem indicação, neste caso procure seguir sempre à esquerda até chegar em São Bartolomeu.

A igreja é bonita por dentro e por fora, se estiver fechada veja em alguma das casas dos vizinhos da igreja, a chave fica sempre com um deles e o chaveiro é tão antigo quanto à igreja. Dali até Glaura basta seguir os marcos da Estrada Real e as indicações da planilha, a estrada é estreita e em alguns trechos nem parece que é uma estrada, mas os marcos estão nos locais indicados e o carro vai bem até o km 25,18 quando a Estrada Real vai por uma trilha novamente e o carro não passa.

A planilha indica para seguir em frente e virar a primeira a direita, o que é correto, porém esta bifurcação está a alguns quilômetros desta marca, siga em frente, nas bifurcações siga sempre a direita até chegar ao entroncamento, vire a direita então e siga pela principal até Glaura.

Trecho 2: Glaura Cachoeira do Campo Santo Antonio do Leite

A saída de Glaura é ao lado da chegada na matriz, o caminho é asfaltado até Cachoeira do Campo. A igreja em Cachoeira do Campo, Nossa Senhora de Nazaré, é uma parada obrigatória, porém, será fechada para restauração em março de 2010. De Cachoeira do Campo a Santo Antonio do Leite o trecho mistura asfalto com calçamento de pedra. Não encontrei o marco indicado no km 13, mas me achei depois e retomei a Estrada Real pelo calçamento. A chegada a Santo Antonio do Leite é tranqüila.

Trecho 3: Santo Antonio Leite Miguel Burnier Lobo Leite

Neste trecho existem alguns marcos indicados na planilha de forma errada, a planilha diz que os marcos estão do lado direito, porém eles estão do lado esquerdo. O trecho é bonito, principalmente o lago da Gerdau e a ponte da via férrea. Realmente existem muitos caminhões fique atento e tome cuidado.

A passagem por Miguel Burnier não acrescenta muita coisa, a não ser o preciosismo de fazer a Estrada Real completa, a vila está em péssimo estado de conservação e não há nada para ser visto, a passagem deve ter uns 500 m e retorna à estrada principal (aqueles caminhões que você ultrapassou vão estar na sua frente de novo). No último marco (km 36,98), para quem for de carro, deve entrar à direita uns 100 metros antes do marco . O trecho de terra indicado na planilha não passa carro, e mesmo para quem for a pé ou de bike, o mato esta alto. A igreja matriz é simpática e os sinos, que não ficam na torre, dão uma característica diferente ao local.

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Trecho 4: Lobo Leite Congonhas
Este trecho pode ser feito de carro sem problemas, a trilha indicada é só um corte de caminho em uma bifurcação e tem uns 150 m, siga de carro e vire a esquerda, logo a frente você vai encontrar o marco e a porteira. Neste trecho existe um erro na planilha que não foi possível de se identificar. Todas as indicações da planilha a partir do km 2,54 são de seguir na principal, porém, acabei na porteira de uma propriedade particular. Em algum ponto a indicação deveria ser de se entrar à esquerda. O dono da propriedade permitiu que eu passasse e me deu as indicações necessárias para chegar a Congonhas. Mais ou menos 1 km após sair da propriedade, encontrei os marcos novamente e cheguei a Congonhas sem maiores problemas.

Trecho 5: Congonhas Alto Maranhão Pequeri

O problema aqui já começa na saída, a planilha indica para seguir em direção à BR040, só que é possível sair para a BR040 pela frente e por trás da basílica. O correto é sair por trás, fique atento. Depois de encontrar a saída para a Estrada Real o restante do trecho não apresentou problemas. No km 13,2, porém, onde na planilha indica para seguir à esquerda, o correto é seguir pela direita.

Trecho 6: Pequeri Paraopeba São Brás do Suaçui

Este trecho não dá para fazer de carro. Siga pela BR. Você deve encontrar o marco indicado na planilha no km 6,01. O descritivo deste trecho fala sobre uma cachoeira legal, eu tentei encontrá-la e perguntei a locais sobre a cachoeira, mas não tive sucesso.

Trecho 7: São Brás do Suaçui Entre Rios de Minas

Aqui existem vários erros na planilha. A distância inicial de 2,4 km é de apenas 1,4 km e a distância de 1,4 km logo a seguir é de apenas 400m. Após o km 4,3 há um pequeno riacho, o riacho não é problema e qualquer carro deve ser capaz de atravessá-lo, porém, a saída do riacho tem um trecho ruim, se estiver chovendo ou tiver chovido carro sem tração 4×4 pode ter dificuldade de passar. A subida logo na seqüência é formada por pedras soltas e carros com tração dianteira podem não conseguir subir. No km 4,7 deve-se virar à direita e não à esquerda conforme indicado na planilha.

Trecho 8: Entre Rios de Minas Casa Grande

A planilha diz para sair no sentido da MG 383, mas não há indicação na praça e as informações que obtive no local não me ajudaram, conclusão: me perdi. Fiz o caminho oposto ao de chegada e parei em um posto de gasolina que me deu algumas dicas e acabei chegando ao marco do km 2,1. A partir deste ponto não tive mais problemas e a planilha se mostrou fiel ao trecho, com pequenos erros, como no km 7,5, a ordem de marco, mata-burro e ponte esta invertida. No inicio da trilha você vai avistar a sua esquerda umas fazendas que criam avestruzes, bem peculiar para a região.

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Trecho 9: Casa Grande Lagoa Dourada

Este trecho foi feito sem problemas. No km 14,3 o marco está à direita e não à esquerda como indicado na planilha. A partir do km 25,6 não é possível continuar de carro, quando chegar na fabrica de ração, na beira da rodovia, vire à esquerda em direção a Lagoa Dourada. Em Lagoa Dourada parei para tomar um lanche na padaria do Jaci que fica à esquerda, descendo a rua em frente à matriz. Lá pudemos experimentar o famoso rocambole de Lagoa Dourada e o Sr Jaci deu boas dicas sobre como retornar à Estrada Real.

Trecho 10: Lagoa Dourada Prados

Note que as informações da planilha não ajudam, na praça da matriz não há indicação para São João Del Rei. Se você for seguir a partir da matriz, passe em frente à igreja e vire à esquerda, siga reto na principal até a rodovia que leva a São João Del Rei. Este trecho da Estrada Real eu não fiz porque a planilha indica que há uma ponte caída (não consegui informação se já havia sido arrumada), segui direto pela rodovia até Prados.

Trecho 11: Prados Tiradentes

Chegando ao centro de Prados siga em direção a Bichinho, a igreja Nossa Senhora do Carmo é a última, na saída da cidade. O trecho é feito em calçamento e o povoado de Bichinho possui infinitos ateliês de artesanato, não parei por falta de tempo, mas era tentador. O museu do automóvel da Estrada Real em Bichinho, na beira do calçamento, é uma atração a parte. Se você é um amante de automóvel tem que parar para conhecer. A chegada em Tiradentes foi feita sem maiores problemas.

Trecho 12: Tiradentes São João Del Rei

Trecho fácil de ser percorrido, com calçamento, a chegada a São João Del Rei é um pouco confusa, mas você acaba chegando ao centro da cidade. Neste trecho você vai encontrar o totem da Estrada Real (primeiro marco da Estrada Real), ao lado de uma cachoeira muito bonita.

Trecho 13: São João Del Rei São Sebastião da Vitória

Neste trecho eu segui pela BR por duas razões: o primeiro trecho até Rio das Mortes a planilha diz que não passa carro e eu não quis arriscar e no trecho entre Rio das Mortes e São Sebastião da Vitória diz que há problema de atolamento, como havia chovido muito na noite anterior este trecho também foi abortado. A chegada a São Sebastião da Vitória pela BR é bem fácil. A igreja matriz fica na beira da BR do lado esquerdo.

Trecho 14: São Sebastião da Vitória Caquende

Antes de seguir neste trecho verifique o funcionamento da balsa, embora tenha me parecido ser bem regular, a balsa pode estar quebrada. O descritivo diz para se informar em São João Del Rei, na secretaria de turismo, mas eles não têm a informação, se quiser saber sobre a balsa ligue para a prefeitura de Carrancas, a balsa é mantida pela prefeitura de Carrancas e eles tem a informação. O trecho até Caquende é fácil de ser percorrido, a estrada é boa e a planilha é fiel neste trecho. Planeje bem a sua chegada em Caquende, pois a balsa para das 12h até às 13h para o almoço dos funcionários. O povoado do outro lado da balsa se chama Capela do Saco.

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Trecho 15: Capela do Saco Carrancas

O trecho é quase todo bom, a planilha é fiel ao trecho e o visual ao longo do trecho é muito bonito. Após o km 20 há uma longa subida em cascalho. Carro com tração dianteira pode ter dificuldade na subida. Se tiver chovido nem tente subir, a não ser que você esteja em um veículo 4×4. Chegamos em Carrancas as 14h30 e encontramos aberto um restaurante que fica na esquina, do lado direito, atrás da matriz (Restaurante Massaroca), a comida e o atendimento foram de ótima qualidade, experimente a Vaca Atolada (costela de vaca cozida com mandioca) acompanha um arroz branco com ervas e pimenta rosa de 1ª qualidade, o café com aromatizante asiático fecha a refeição de forma magnífica. O artesanato na cidade de Carrancas também merece uma visita.

Trecho 16: Carrancas Traituba

A saída de Carrancas também não está bem indicada. Siga em direção ao complexo da Zilda, para isto contorne a igreja matriz a sua esquerda e vire a direita na subida em pista dupla. A planilha é fiel ao trecho e não há problemas nesta parte da Estrada Real.

Trecho 17: Traituba Cruzília

Para seguir pela Estrada Real a partir da fazenda Traituba, estando em frente à fazenda retorne pelo caminho de chegada até a placa marrom que indica a fazenda Traituba. Vire então à direita e siga pela Estrada Real. A planilha é fiel e não há problema até Cruzilia.

Trecho 18: Cruzilia Caxambu

O Laticínio Supremo fica na saída da cidade, mas está fechado. O 1º marco está à direita na estradinha que sai em frente ao laticínio. Perguntei sobre o laticínio e ninguém soube me dizer para onde ir. Fique atento, como o laticínio está fechado a placa com o nome pode ser retirada ou o nome pode mudar. No km 12,3 deste trecho, na bifurcação, a Estrada Real segue pela direita por mais 2,5 km até o asfalto. A planilha diz que se você estiver de carro comum siga pela esquerda na bifurcação.

A minha sugestão é: siga pela esquerda com qualquer carro. Eu estava com um 4×4 e só consegui passar porque eu tinha uma pá no veículo e a terra estava macia devido à chuva. O trecho possui facões muito altos e valas são muito largas. Não vá de carro neste trecho e depois dos primeiros 300m não há como manobrar. Ainda no km 26,6 onde a planilha indica para virar à esquerda, o correto é virar à direita e seguir até Caxambu.

Trecho 19: Caxambu São Lourenço

O trecho é curto, parecia fácil e prometia, porém, havia chovido bastante na noite anterior e havia muita lama, só foi possível passar utilizando a tração 4×4 com reduzida. Se estiver com veículo comum verifique as condições do trecho antes de se aventurar. De qualquer forma o visual é muito bonito. No km 18,4 segui a orientação da planilha e segui à direita, pelo asfalto, até São Lourenço.

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O odômetro de cada carro é diferente, mesmo onde eu indico que a planilha é fiel ao trecho foram encontradas diferenças de mais ou menos 100m entre a posição do marco e a marcação do odômetro. As marcações parciais das planilhas são melhores de serem seguidas, pois há um erro cumulativo entre os marcos que ao final, dependendo do trecho, pode ser superior a 1 km.

As indicações das planilhas não são para carros e quando o trecho não permite a passagem de carro o viajante não possui muitas indicações e deve consultar pessoas locais, sempre que possível, para obter alguma orientação. Acho que acrescentar algumas dicas junto às planilhas para quem percorre a Estrada Real de carro ajudaria e não me parece algo muito difícil de ser feito.

Atualizar e corrigir as planilhas é algo que precisa ser feito. Eu, de carro, às vezes percorria mais de 1km até descobrir que estava no caminho errado, para uma pessoa a pé ou de bike esta distância é muito grande e nem sempre se encontram pessoas para pedir alguma indicação ou referência.

Cidades históricas – As cidades de Ouro Preto, Congonhas, Tiradentes e São João Del Rei possuem um acervo histórico em suas igrejas e museus de um valor incalculável. Muitas igrejas cobram uma taxa de visitação (R$2 a R$3), o que considero não só justo como também barato. Acho, porém, que estas igrejas e museus deveriam fornecer aos visitantes um folheto simples, descritivo, das obras existentes em cada igreja ou museu. O turista fica a mercê de supostos guias, que não colocam um preço, muitas vezes dão informações erradas ao turista, esperando uma gorjeta “gorda” ao final de 15 minutos de trabalho. Não quero tirar o emprego de ninguém, mas quero uma opção por aquilo que estou pagando, como ocorre na maioria dos museus pelo mundo, onde você pode pegar um folheto geral sobre o local ou existe uma descrição sobre cada obra ao lado da obra.

Um ponto fora da curva neste sentido e que merece destaque é a Casa do Conto em Ouro Preto. Por um valor irrisório de R$1,00 existem folhetos em português, inglês, francês e espanhol. Cada sala de exposição possui um descritivo próprio e/ou uma pessoa disponível para fornecer explicações.

A viagem pela Estrada Real é fascinante e mostra ainda um pouco da história do Brasil, é quase uma viagem pelo tempo. As paisagens e cachoeiras ao longo do caminho são lindas e o custo geral de uma viagem destas é relativamente barato. O que ver em cada local depende do tempo disponível, a viagem pode ser feita em alguns dias ou em 1 mês ou mais, dependendo do nível de exploração em cada cidade ou vilarejo. O custo também depende de quanto tempo se fica nas cidades principais e o tipo de hospedagem e restaurantes que se escolhe. Este trecho de Ouro Preto até São Lourenço, contando o combustível gasto, alimentação, hospedagem e passeios, teve um custo médio de R$ 120,00 por pessoa, por dia. A viagem foi feita em uma Pajero TR4 flex, com tração 4×4, em 3 pessoas. Se você tiver tempo e gostar de aventura não deixe de conhecer a Estrada Real.

Se quiser alguma dica mais específica ou quiser tirar alguma dúvida, entre em contato comigo, meu nome é Maurício Marengoni (mmarengoni@hotmail.com), sou professor universitário e tenho 50 anos.

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Este texto foi escrito por: Mauricio Marengoni, especial para o Webventure

Last modified: fevereiro 14, 2010

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