Maquete do Brasil 1 (foto: Divulgação)
O primeiro veleiro brasileiro a competir na Volvo Ocean Race será batizado hoje (23/06) com o nome de Brasil 1. Foram quase nove meses de gestação em um estaleiro em Indaiatuba. Nesse tempo a família cresceu, a equipe se formou, e o país ganhou mais um ícone para torcer além da seleção brasileira de futebol.
Todo o projeto começou com Alan Adler, que idealizou o veleiro, um VO70, e passou para as mãos do uruguaio Horácio Carabelli, a tarefa de ser o pai da criança. Carabelli é o responsável pela construção do Brasil 1. Para tutor, Adler escolheu seu parceiro, Torben Grael, cinco vezes medalhista olímpico, que será o comandante da tripulação durante mais oito meses de prova, a partir de novembro desse ano.
Horácio Carabelli tem 37 anos, é naturalizado brasileiro há 30. Morou em Santa Catarina, onde se formou em engenharia mecânica pela USC e depois se tornou projetista naval. Tenho um escritório onde faço barcos de 25 a 60 pés. Mas recentemente participamos na construção de um veleiro de 156 pés, na Alemanha, disse.
Em entrevista ao Webventure, o projetista do Brasil 1 revela fases da construção e do projeto do barco, além dos planos da equipe para os próximos meses. É um barco mais orientado para navegar com ventos reais de 18, 20 nós principalmente mais ao largo, na popa. Toda a investigação meteorológica mostrou que serão essas as condições predominantes durante a prova, disse. Ele afirmou ainda que o Brasil 1 poderá participar da regata Ilhabela-Alcatrazes, na Semana de Vela, e que no final de julho a equipe parte para a primeira travessia, rumo à Europa.
Ele está no Rio de Janeiro para o batismo de amanhã. “Fiquei mais de oito meses no sofrimento, agora é hora da festa”, brincou. Confira a entrevista:
Webventure – Como foi o processo de construção?
Horácio Carabelli – Fiquei tempo integral no acompanhamento da construção, tivemos algumas pessoas especializadas no processo, montagem e na parte final. A maioria de peças foram feitas no exterior, como mastro, quilha e toda a parte de equipamento e de áudio. Depois, a pintura foi feita em Indaiatuba e o barco foi levado para a Marina da Glória para a montagem final.
Como funciona o Nomex?
Carabelli – O nomex é um papel de aramida feito em blocos, com o formato de colméia de abelha e dá a estrutura central do casco. Isso é colado no barco entre as lâminas internas e externas de carbono. Na linha neutra do painel tem um material extremamente leve que é o Nomex e nas camadas externas, que são as mais requisitadas na flexão, se tem um carbono que tem maior resistência mecânica.
A maior preocupação foi reduzir o peso?
Carabelli – O nosso objetivo foi esse, em toda a parte estrutural do barco. Cada componente foi pesado. E todos que ficaram acima do peso, ou que poderiam ser mais leves, a gente refez com o objetivo final de ter o mínimo de peso dentro do casco e da estrutura.
Quais medidas tomaram para deixar o barco mais leve?
Carabelli – Toda a parte de pintura interna praticamente não existe, é feita por um produto extremamente leve. E as outras áreas, na região estrutural da quilha, onde tinha alguns componentes um pouco além do necessário, a gente reduziu bastante. Na parte de laminação também, depois de comprovada a resistência do material, foi possível repensar a laminação. Trocamos o número de camadas que foram colocadas no casco, uma vez que a gente reduziu um pouco a parte de casco e convés.
O carbono utilizado é o mesmo do dos carros de Fórmula 1?
Carabelli – É similar. A lâmina tem flanges nas quais ocorre o maior esforço de tração e compressão, que recebem mais material do que a região central. Esse é o princípio.
O que todo barco Volvo precisa ter?
Carabelli – Tem uma regra, a regra do Volvo70, que prevê um mínimo e um máximo para todas as medidas do barco. Desde comprimento, boca, de largura, testa, de altura do mastro e o costado, tem que ter um máximo de calado. O barco tem que estar dentro desses parâmetros para ser classificado como um Volvo70.
O que sobra para cada barco se diferenciar do outro?
Carabelli – Na verdade esses parâmetros, de máximo e mínimo, têm uma diferença de um metro em alguns casos. É nesse metro que está o nosso trabalho de investigação e de projeto, para se conseguir desempenho em diferentes condições e direções de vento. Você joga com isso. Caso tenha muito contra-vento, é melhor um barco mais pesado, se tem pouco vento, precisa de um barco mais leve, mais estreito. Então essa parte de investigação e desenvolvimento da etapa do projeto é que vai diferenciar um de outro e levar às vantagens de um e de outro em diferentes condições de vento.
Na sua opinião, qual será o ponto forte do Brasil 1?
Carabelli – É um barco mais orientado para navegar com ventos reais de 18, 20 nós principalmente mais ao largo, na popa. Toda a investigação meteorológica mostrou que serão essas as condições predominantes durante a prova. O barco promete, acredito que terá muito bom desempenho nessas condições e vai velejar muito bem no resto. Acredito que o resultado final será bem positivo.
Já tem dois barcos VO70 na água, sendo que um deles bateu o recorde de velocidade. Qual é a expectativa para o Brasil 1?
Carabelli – Acreditamos que dentro de uma semana, com a instalação e teste de todos os sistemas, já estaremos prontos para puxar o barco, que é tirar o máximo de rendimento dele. E aí cruzaremos o Atlântico para testar, mas quebrar esse recorde vai depender muito das condições meteorológicas. O Movistar quebrou o recorde no sul, onde tem ondas relativamente altas e ventos fortes, então as condições são extremamente favoráveis para se quebrar um recorde. Essa região do Brasil até a Europa é um pouco mais difícil, mas se o tempo estiver adequado, é possível que o Brasil 1 bata esse recorde.
Então o primeiro teste do Brasil 1 será atravessar o Atlântico?
Carabelli – Temos a expectativa de participar da regata de Ilhabela até Alcatrazes, que é uma regata longa, que acontece no dia 9 de julho. No final de julho o barco estará velejando para a Europa.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa
Last modified: junho 23, 2005