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Coordenador de Uso Público do PNI escreve sobre a travessia Ruy Braga, reaberta nesta semana

Redação Webventure/ Destino Aventura, Montanhismo, Trekking

Montanhistas no trecho entre o Posto Meteorológico e as Agulhas Negras em 1947 (foto: Arquivo Waldecy Mathias Lucena  FEMERJ)
Montanhistas no trecho entre o Posto Meteorológico e as Agulhas Negras em 1947 (foto: Arquivo Waldecy Mathias Lucena FEMERJ)

O Caminho do Planalto

A Travessia Ruy Braga no Parque Nacional do Itatiaia, reaberta oficialmente no dia 24 de setembro, tem uma longa história. Mais longa ainda do que a história do próprio Parque Nacional. Único acesso à região do planalto até a construção da BR-485, ligando a Garganta do Registro até o planalto do Itatiaia, este trecho foi largamente utilizado pelos “desbravadores” do planalto, utilizando-a para conquistar os principais cumes que hoje atraem milhares de visitantes.

A instalação de um Posto Meteorológico pelo Ministério da Agricultura no início do século XX (década de 1910) na baixada existente ao sul da linha de rochosos que contém as Prateleiras e a Pedra Assentada fez com que todos os aventureiros e “mantiqueiristas” que se dirigiam ao planalto do Itatiaia o utilizassem como abrigo de montanha. Para atingir o Posto era necessário realizar uma caminhada de cerca de 10 horas desde a porção mais baixa de Itatiaia.

Destaca-se, nas primeiras décadas de funcionamento do Posto Meteorológico, as excursões de Carlos Spierling e Oswaldo Leal que em dezembro de 1919, acompanhados de Seraphim de Freitas morador do Posto Meteorológico, conseguem chegar ao ponto mais alto, o Itatiaiaçu. Neste mesmo ano é fundado o Centro Excursionista Brasileiro, o CEB, o primeiro da América Latina. Em 1920, Spierling e Oswaldo atingem o ponto mais alto do conjunto rochoso conhecido como Prateleiras. A conquista do Itatiaiaçu em 1919 e das Prateleiras em 1920 acabou por trazer para o planalto o montanhista Richard William Brackmann. Ele realizou inúmeras e variadas excursões nos anos de 1925, 1927, 1928 e 1938; sendo dele o primeiro registro de ascensão à Pedra do Couto, em 10 de outubro de 1927.

Antes mesmo da criação do parque, outro abrigo foi crucial para manter a importância desta trilha: o Abrigo Macieiras, construído na década de 20. Destaca-se ainda a passagem de algumas personalidades na década de 30 que em sua juventude visitaram a região e ainda não tinham a fama que viriam a conquistar anos mais tarde: Burle Marx, Vinicius de Moraes e o pintor Alberto Guignard.

Em 1937, fruto dos pleitos de inúmeros naturalistas, cientistas e amantes da região, é criado o Parque Nacional do Itatiaia no dia 14 de junho. A partir da década de 40, o PNI ganha um grande impulso na visitação, chegando a mais de 10 mil visitantes no ano de 1947, tendo outro “boom” no ano de 1952, quando chega a 30 mil visitantes.

Este aumento na visitação fez com que a administração do parque na época construísse dois abrigos, sendo chamados de Abrigo Rústico e Abrigo dos Excursionistas. Mais tarde foram batizados carinhosamente, prestando homenagem a dois ilustres personagens da história do Itatiaia: Abrigo Rebouças e Abrigo Massena.

Como a travessia Ruy Braga era o caminho mais rápido para o planalto, ela foi mantida e conservada até os anos 70. A abertura e construção da estrada de acesso às Agulha Negras diminuiu a importância da travessia, que lentamente foi sendo desativada. Em homenagem a um presidente do GEAN (Grupo Excursionista Agulhas Negras) e grande entusiasta da trilha, a Ruy Braga foi perdendo importância até para outras travessias que foram a coqueluche do parque até o início dos anos 90, a Travessia Rebouças-Mauá (via Rancho Caído) e a Travessia da Serra Negra.

Décadas depois do fechamento das travessias no PNI, as federações de montanhismo dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo (FEMERJ e FEMESP), juntamente com o GEAN, AGUIMAN (Associação de Guias das Agulhas Negras) e AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) se juntam para, em conjunto com a equipe do parque, iniciar o processo de reabertura destas travessias através da Câmara Técnica de Montanhismo e Ecoturismo.

A administração do parque criou a coordenação de uso público do planalto e inaugurou, em conjunto com o GEAN, uma exposição de caráter permanente sobre a história do montanhismo no ano em que o parque fez 70 de existência. Os resultados da retomada desta história e do apoio dado pelas entidades ligadas ao montanhismo começam a aparecer neste setembro.

  • Veja as diretrizes para reabertura das travessias

    Dicas

  • Leia atentamente as diretrizes específicas antes de planejar sua caminhada.
  • O horário máximo para entrada na travessia sem pernoite é até às 08:00h.
  • É altamente recomendável a contratação de guia para acesso aos atrativos do parque. O Parque Nacional do Itatiaia sugere ao visitante que faça contato com um Condutor de Visitante cadastrado no Parque Nacional.
  • A trilha, no sentido Rebouças-Sede (descendo), é percorrida em média em 08 horas.
  • Antes de iniciar uma conquista de via de escalada no Parque Nacional do Itatiaia, leia atentamente as Regras Gerais de Escalada aprovadas pelo Grupo de Trabalho Permenente de Escalada.
  • Permaneça na trilha e não utilize outras sem autorização.
  • Leve consigo seu lixo, depositando-o no término da travessia em locais apropriados.
  • Antes de planejar sua travessia, verifique a previsão do tempo. Recomenda-se verificar antecipadamente a previsão de tempo nos meses de dezembro a março, quando a média de precipitação na região é de 200mm ao mês.


    Texto baseado na Exposição “Montanhismo em Itatiaia”, escrito em conjunto com Edson F. Santiago (atual presidente do GEAN), exposta no Centro de Visitantes do PNI.

    Este texto foi escrito por: Daniel Toffoli

    Last modified: setembro 25, 2007

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