Selo de segurança UIAA e CE. (foto: Cristian Dimitrius / Arquivo Triboo!)
Não há outro equipamento que simbolize tão bem a escalada e a dependência do escalador de uma outra pessoa como a corda. Poucos sabem que as cordas que temos hoje em dia são bem diferentes das que se usava há uns 50 anos. Antigamente, cordas feitas de fibras naturais, como o algodão ou o sisal, eram usadas para proteger escaladores. Entretanto, não eram muito resistentes para segurar grandes quedas. Com o desenvolvimento das fibras artificiais e o surgimento das cordas de nylon, tudo mudou. Escaladores passaram a ter cordas mais leves e capazes de segurar mais de duas toneladas. Além disso, as cordas de nylon oferecem muito mais elasticidade do que as cordas anteriores.
Do que são feitas
No começo estas cordas eram apenas filamentos de nylon torcidos em feixes ou trançados, como se vê em cordas náuticas até hoje. Entretanto elas eram difíceis de manusear, criavam um atrito muito grande nas proteções e também esticavam demasiadamente quando um escalador necessitava fazer uma ascensão em corda fixa.
Com o passar do tempo as cordas foram evoluindo e uma macia capa de nylon foi incorporada a esses feixes de nylon trançado. Desenhadas especialmente para escaladores, as novas cordas mantinham as vantagens do nylon, mas minimizavam os problemas citados anteriormente. Estas cordas, com capa e alma, são as que utilizamos hoje em dia.
A alma (o interior) da corda pode ser composta por feixes lisos, originando uma corda estática, ou por feixes trançados ou torcidos, criando assim uma corda dinâmica, com maior elasticidade.
Cordas estáticas – são quase inelásticas. Alongam-se pouco, cerca de 1 a 2%, e são úteis em situações em que a elasticidade pode atrapalhar ou até mesmo ser perigosa. Além disso são recomendadas apenas em situações em que o risco de impacto não existe. Sendo assim são usadas como cabos fixos, para içar ou baixar cargas, e para permitir que escaladores subam ou desçam por ela. As atividades que mais empregam o uso deste tipo de corda são espeleologia, rapel, resgate, big-walls, e operações táticas e de segurança industrial. Geralmente são vendidas por metro.
Cordas dinâmicas – possuem uma elasticidade de cerca de 6 a 10% sob cargas normais e são as utilizadas para a segurança na escalada. Sua função é segurar choques intensos e abruptos, como uma queda de um escalador por exemplo, desacelerando o impacto do escalador que cai e absorvendo a energia, tanto no escalador, como nas bases que o sustentam. São encontradas em comprimentos padronizados. As mais comuns são as cordas de 50 e 60 metros. O diâmetro também varia, indo 8 a 11 milímetros. Cordas com o diâmetro de 8 a 9mm foram projetadas param serem usadas em dupla, embora seja comum ver pessoas utilizando cordas de 9mm para a escalada esportiva. Já as de 10,5 e 11mm são as mais comuns para o uso em escalada em rocha.
Existem também as cordas dry (cordas secas), que recebem uma camada de silicone ou teflon, o que as torna impermeáveis. Estas são utilizadas em escaladas em gelo, evitando que a corda se molhe e fique mais pesada.
Ao saber para que serve cada tipo de corda, fica mais fácil escolher qual você vai comprar. Antes de adquiri-la, certifique-se de que a corda contenha a etiqueta do fabricante, especificações como comprimento, diâmetro, porcentagem de alongamento e número de quedas em que ela pode suportar.
É importantíssimo que esta corda tenha o selo da UIAA (União Internacional de Associações de Alpinismo), que realiza testes que verificam a carga de ruptura, a capacidade de resistência a quedas, a força de impacto da corda, elasticidade, entre outros fatores. Todas as cordas utilizadas na escalada devem obedecer aos padrões exigidos nestes testes.
Conservação
Uma vez que você tenha adquirido sua corda é preciso aprender como conservá-la para que ela tenha uma vida útil maior. Mantê-la limpa é fundamental, pois partículas de sujeira e poeira penetram pela capa e provocam um desgaste interno devido a abrasão das fibras com estas partículas. Evite com que a corda mantenha contato com o solo usando um plástico ou uma capa especial sob a corda e nunca pisoteie sua corda, pois isto força com que mais partículas abrasivas penetrem em sua corda.
Caso você note sujeiras, lave sua corda no tanque com sabão neutro e água fria. Depois deixe secar a sombra. Guarde-a desenrolada e sem nós. Nunca marque sua corda com canetas que não sejam específicas para este fim, pois certos produtos químicos da tinta podem danificá-la.
É preciso sempre fazer uma inspeção avaliando o estado da capa e deformidades no corpo da corda, e verificar se há algum ponto onde a corda dobra mais facilmente que o resto, revelando assim danos na alma. Caso se perceba um dano pode ser necessário cortá-la ou até abandonar a corda.
Durabilidade
Mesmo que não haja danos evidentes, será necessário abandonar a corda após um longo período de uso, pois o nylon deteriora com o tempo. Em linhas gerais uma corda usada diariamente deve ser aposentada após um ano. Se for usada quase todos os fins de semana, após 2 anos. E mesmo que usada poucas vezes a corda deverá ser aposentada, após 4 a 5 anos.
Outro fator a ser considerado são as quedas. Uma corda nova pode suportar cerca de 5 a 7 quedas sérias, mas se sua corda já não é muito nova seria conveniente retirá-la de uso após uma queda bastante séria.
E, não se esqueça, nunca utilize sua corda em outras atividades, somente na prática da escalada. Lembrem-se nunca devemos improvisar. Todas as cordas utilizadas na escalada devem seguir os padrões e cuidados citados acima. Existem cordas de todos os tipos, mas nem todas garantem a sua segurança na parede. A corda é realmente um investimento caro e não ceda à tentação de comprar uma mais barata em uma casa não especializada para equipamentos de montanhismo. Sua vida vale bem mais que isso.
Caso você ainda não possa comprar a sua própria corda, junte-se com seus parceiros de escalada e faça uma vaquinha para poderem comprar uma corda que realmente irá garantir diversão, aventura e, principalmente, a sua segurança e a de seus amigos. Boas escaladas!
Este texto foi escrito por: Cristian Dimitrius, especial para o Webventure