Consideram extremamente impactante um corredor trotar levemente sobre trilhas usuais e bastante consagradas pelo uso. (foto: Arquivo pessoal)
Desde que foi divulgado meu primeiro treino correndo em alguma trilha, tenho gasto um tempo precioso discutindo sobre o impacto que um corredor de trilhas provoca no ambiente.
De uma maneira natural, iniciei há vários anos a substituição de minha satisfação diária de correr em asfalto pelo prazer indescritível de correr em uma trilha, seja ela na Mata Atlântica, em um deserto ou nas encostas de um vulcão. Quando não tenho tempo de ir para uma trilha real, como na Floresta da Tijuca ou na Quinta da Boa Vista, ambas no Rio de Janeiro, treino perto de casa nos canteiros entre as pistas da Avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca. Contanto que o solo seja de terra, grama ou areia!
É claro que umas raízes de grandes árvores cruzando seu caminho, obrigando a saltos inesperados para evitar um joelho esfolado, têm o seu valor…
O mesmo caminho – Desafortunadamente, sempre que uma corrida minha é divulgada reacende-se a velha discussão nos meios montanhistas, principalmente entre os puristas, que consideram extremamente impactante um corredor trotar levemente sobre trilhas usuais e bastante consagradas pelo uso. Afinal, quem quer abrir trilhas novas certamente não conseguirá correr poucos metros em qualquer direção.
Um corredor de trilhas sempre escolherá correr em trilhas que não impeçam seu avanço devido ao excesso de galhos e espinhos pelo caminho. Não há nada mais desagradável em uma corrida do que ser obrigado a diminuir sua velocidade, chegando às vezes a parar, sem uma necessidade própria de recuperar o fôlego, por exemplo.
Portanto, quando falamos em correr em trilhas estamos falando exatamente naqueles caminhos onde surgem periodicamente grupos com dezenas de estreantes que gritam mais do ouvem os ruídos da mata, sujam mais do que fotografam as maravilhas a sua volta, além de andar em duplas ou trios para conversar, não percebendo que estão pisando fora da trilha e abrindo caminho para uma futura erosão.
Tempo e contemplação – Quando corro em uma trilha, apesar de trotar em velocidade baixa ou média, consigo ficar muito menos tempo dentro da mata do que aqueles que estão caminhando e que necessitarão parar para fazer sua comida e, quem sabe, dormir até o dia seguinte. Talvez nessa hora o corredor de trilhas já não esteja mais impactando o ambiente e sim confortavelmente de volta à sua casa. Ou correndo sem parar durante toda a noite!
Sempre que estou correndo em uma trilha, sozinho ou não, admirando cada árvore ou pássaro que vejo, cada som provocado por um animal ou um galho movido pelo vento, fico me perguntando por que não há mais praticantes de corrida em trilha curtindo tudo o que esta atividade me proporciona. Exatamente como pensam os montanhistas enquanto caminham…
Este texto foi escrito por: Carlos Sposito