Saímos de Curitiba dia 24/04 ás 23:00, após coquetel oferecido pela Starmoto, revenda autorizada da Suzuki, onde estavam presentes os parentes e amigos para darem seu adeus e nos desejarem boa sorte. Neste primeiro dia fomos até Ponta Grossa onde passamos a noite.
Nos próximos dois dias percorremos por estradas dentro do território nacional até Cáceres no Mato Grosso, próximo a fronteira com a Bolívia, passando por Campo Grande, Rondonópolis e Cuiabá. Durante este trajeto o único problema que tivemos foi um pneu furado, ou melhor, deslocamento do bico de uma câmara de ar.
No dia 27/04 entramos em território boliviano pela cidade de San Ignácio, passando por uma região conhecida como Circuito dos Jesuítas, por terem sido as cidades fundadas pelos jesuítas na época da olonização. Esta região está no meio da selva boliviana e constantemente víamos cobras e outros animais selvagens cruzando a
estrada.
Dificuldades – e Seguimos até Santa Cruz de La Sierra, num trajeto de 934 km, ondeaproximadamente 800 km foram por estradas de terra, os quais levamos dois dias para percorrer. O estado de conservação destas estradas é péssimo, e em função das fortes chuvas dos últimos dias, em alguns trechos a estrada estava alagada, com água atingindo o tanque da moto.
Algumas pontes foram levadas pela chuva, tivemos que atravessar rios
sobre troncos de madeira.
Enfrentamos todo tipo de estrada: lama, buracos, água, pedras e poeira. Uma estrada muito ruim que exigiu muito das motos que superaram majestosamente todos os obstáculos, e também muita habilidade e concentração dos pilotos, pois numa estrada como estas os tombos são quase inevitáveis. Num momento de descuido o Clodoaldo foi para o chão. Por sorte não aconteceu nada grave nem com ele e nem com a moto.
Beleza Inca – De Santa Cruz seguimos para La Paz passando por Cochabamba. Optamos por fazer este trajeto pela estrada antiga que contorna os Andes e passa por uma parte da Bolívia pouco explorada e que tem uma beleza particular.
Pequenos vilarejos com casas de barro cobertas de palha e
com chão batido, onde vivem os campesinos, descendentes dos antigos Incas, que disputam cada centímetro quadrado das terras nas encostas das montanhas para tirar o seu sustento.
Não dá para acreditar como é que conseguem plantar e até criar pequenos rebanhos de animais como lhamas, ovelhas, cabritos e até vacas, numa região tão árida, e ainda usando métodos tão primitivos de agricultura.
Em La Paz ficamos dois dias para conhecer a cidade e seus arredores.
Tivemos a oportunidade de assistir ao desfile em comemoração ao dia
do trabalho, onde os trabalhadores protestavam por melhores condições
de trabalho. O grupo das cholas (índias), com suas roupas coloridas
proporcionou um espetáculo a parte.
De La Paz seguimos em direção ao Peru passando pelas ruínas de Tiwanaco e pelo lago Titicaca.
A primeira queda – Entramos no Peru passando por Juliaca, Puno e Cuzco, cruzando á noite uma região onde – conforme informações levantadas – ocorrem muitos assaltos. Por sorte não tivemos problemas, a não ser numa parada,
quando um bêbado veio puxar briga. Como não estávamos afim de encrenca saímos de fino.
De Cuzco tomamos um trem e fomos conhecer as maravilhosas ruínas de Matchu Pitchu. Saindo de Cuzco seguimos para Lima, passando por Abancay, Puquio e Nazca. A região entre Abancay e Puquio é também muito perigosa, pois a estrada segue serpenteando os andes, obrigando que os veículos sigam em baixa velocidade, o que facilita a ação dos assaltantes.
Também foi uma região que exigiu muita atenção na
pilotagem e desta vez, num pequeno descuido, eu é que fui para o chão.
Ilhas misteriosas – Em Nazca paramos para conhecer as misteriosas linhas de Nazca. Ficamos dois dias em Lima conhecendo a cidade. Fomos muito bem recebidos pelo seu povo. Rodamos até aqui 5.600 km dos quais aproximadamente 2.000 foram por estradas de terra em péssimas condições, contornando os Andes numa altitude que varia entre 500 e 4.500 metros em relação ao nível do mar. Da mesma forma a temperatura também varia intensamente, dos 38 graus nas regiões mais baixas, a 5 graus negativos nas regiões mais altas, onde a estrada segue entre morros cobertos de gelo.
De Lima Seguimos pela rodovia Panamericana em direção ao Equador, cruzando um grande deserto ao norte do Peru, onde fomos parados por dois policiais mau encaradas que queriam nos multar em 200 dólares cada um por excesso de velocidade. Passamos pela cidade de Chiclayo onde enquanto dávamos uma entrevista para um jornal local, minha máquina fotográfica foi roubada.
Como que num passe de mágica, saímos do deserto no Peru e entramos no Equador em meio a selva Amazônica. Rodamos 853 km para atravessar o Equador passando por Guaiaquil, Babaoyo e Quito.
Entramos na Colômbia por Ipiales e seguimos por Calli, Medellin e Santa Rosa de Ossos, até chegar em Cartagena no mar do Caribe.
Até Cartagena rodamos 9.434 km, cumprindo a primeira etapa de nosso projeto, e como prêmio passamos alguns dias fazendo turismo pela cidade e aproveitando um pouco das belas praias do Caribe.
Para fazer a travessia entre a Colômbia e o Panamá, apesar de existir ligação por terra, não existem estradas. A alternativa e viajar de barco. Não existe também nenhum serviço regular de transporte entre estes dois países, tivemos que tratar com os próprios donos de barcos particulares para conseguir uma embarcação. Pegamos um veleiro com o qual viajamos por 3 dias até o porto de Collón no Panamá. Enfrentamos noites de mar agitado no Caribe, onde o barco sacudiu muito. Foi uma experiência nada agradável.
Atravessamos a América Central e o México passando pelo Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala, enfrentando em cada fronteira além dos trâmites burocráticos, um grande número de cambistas, agentes aduaneiros, pedintes e curiosos que não nos deixavam em paz, fazendo pressão psicológica para nos deixar vulneráveis a seus inúmeros golpes.
Apesar dos problemas que enfrentamos e das estradas na América
Central não serem muito boas, a beleza natural compensou este sofrimento. Viajamos seguindo por entre lagos, montanhas e inúmeros
vulcões, e a cada curva éramos presenteados com uma paisagem
maravilhosa.
Para atravessar o México havíamos planejado fazê-lo pela costa Oeste, mas como já estávamos cansados do povo latino e de suas insistentes tentativas de nos estorquir, resolvemos chegar aos EUA mais rápido e seguimos então pela costa do Caribe chegando ao Texas.
Entramos nos EUA dia 30/05, após percorrer 14.000 km em 36 dias de
viagem, finalizando assim a segunda etapa de nosso projeto, e aliviados por deixar para trás todos os problemas com fronteiras, preocupação com assaltos e aquele povo que de tão curioso era até pegajoso.
Nos EUA, seguimos pelo sul do Texas, Novo México, Arizona e Califórnia, chegando até Los Angeles onde fizemos uma revisão completa nas motos. Trocamos Pneus e relação.
No deserto do Arizona enfrentamos temperaturas altíssimas.
Seguimos pela costa oeste passando por São Francisco, Portland, Seatle e chegamos a Bellinghan, próximo à divisa com o Canadá.
De Bellinghan fizemos um pequeno cruzeiro até a cidade de Vitória, na Ilha de Vancover. Durante o cruzeiro tivemos a oportunidade de observar focas, aves e baleias que rodeando o barco deram um show maravilhoso.
Mundo gelado – Resolvemos tomar um barco de Bellinghan até Skagway no Alasca, que segue contornando por 3 dias a costa canadense e sul do Alasca, passando por fiordes entre montanhas com os picos cobertos de neve e rodeados de uma vida selvagem intensa.
Desembarcamos em Skagway e seguimos atravessando a região de Yukon por entre lagos maravilhosos e montanhas cobertas de neve. Não bastando o frio, a chuva nos castigou um pouco nesta região. No Alasca o clima muda rapidamente, num instante o céu esta aberto, em seguida uma nuvem escura trás uma forte chuva e logo vai-se embora. Chegamos a Fairbanks no centro do Alasca.
Sediados em Fairbanks, num dia conhecemos a cidade, noutro fomos ao
Parque Nacional Denali, próximo a Anchorage e finalmente seguimos
para Prudhoe Bay.
Para chegar A Prudhoe Bay, a última cidade alcançável por terra antes
do polo norte, seguimos por uma estrada de terra de 800 km, cruzando o Círculo polar Ártico e uma região muito inóspita e praticamente sem
recursos.
Atingimos desta forma o nosso objetivo, chegando a Prudhoe Bay, nas
margens do Mar Ártico, no dia 21/06, o dia mais longo do ano – nesta época, o dia amanhece no final de maio e só volta a escurecer três meses depois.
Agora só restava a última fase do projeto: a volta. Do Alasca rodamos
9.234 km até Miami, cruzando o Canada e os EUA.
No Canada passamos por uma região a qual considero a mais bonita de toda a viagem, a região entre Jasper e Banff. Cercados a todo instante por lagos verde esmeralda e montanhas cobertas de neve. Passamos também por Calgari, uma maravilhosa cidade ao sul do Canadá.
Cruzamos os EUA chegando a Miami, de onde despachamos as motos
para o Brasil e voltamos de avião.
Este texto foi escrito por: Marcos Vojciechovski