Já tinha pedalado de Curitiba para Joinville várias vezes. Já tinha feito o caminho contrário e caminhos alternativos, mas esta pedalada era especial. Pela primeira vez pedalaria mais de 200 quilômetros num só dia (no total foram 240 quilômetros) e o trajeto era novo.
Saí de casa à 00h10 de sábado e o frio estava pegando. Por isso saí de calça de agasalho e blusa de lã. Pedalei uma hora e vinte até o
pedágio da BR 277 (28 quilômetros rodados). Neste ponto já tinha visto que o que eu estava fazendo não era nada muito inteligente, o frio castigava, o medo de estar sozinho aumentava e, principalmente, a escuridão assustava.
A luz da coragem – Meu farol era uma porcaria e não iluminava nada. Eu ia pelo acostamento, muitas vezes sem ter certeza do caminho. Na verdade eu estava rezando para que não me deixassem passar no pedágio, e me obrigassem a voltar pra casa para a “minha cama quentinha”. Mas não, nem ligaram pra mim, então segui viagem.
Às duas da manhã, não agüentando mais a escuridão, resolvi voltar, mas pensei duas vezes e continuei, felizmente. No inicio da descida da serra (trecho que mais me preocupava), um caminhão descendo devagar iluminou meu caminho por 15 minutos. Isso me deu motivação e a partir deste ponto, saí do acostamento e segui pela pista. Com mais coragem deixei o caminhão pra trás e segui viagem.
Parei no Posto do pedágio (três horas da manhã, 53 quilômetros rodados) para tomar um café, bati um papo com o atendente
e fui embora. Neste momento estava confiante e sem nenhum medo.
Segui pelo meio da pista e em alguns momentos um carro na direção contrária me cegava, me obrigava a parar. Isso fazia com que eu me lembrasse que era bom seguir com atenção. Pedalei até as seis da manhã, quando cheguei no Ferry Boat que faz a travessia de
Caiobá para Guaratuba. Neste ponto já eram 110 km rodados. Atravessei
para Guaratuba onde comi dois pastéis e tomei um pingado grande.
Deitei num banco de praça onde dormi por 40 minutos.
“A estrada vai sempre boa assim” – Eram 07h45 quando segui para Santa Catarina. Depois de uns 20 quilômetros de asfalto, começou a estrada de chão. E que estrada! Ou você pedalava pelas costelas de vaca, ou pelos bancos de areia que te impediam de seguir.
Apesar disso a viagem se tornou mais agradável, pois por momentos esqueci a pressa e curti mais. Ao parar para perguntar se estava no caminho certo (tinha esquecido o mapa em casa), falei brincando pra um senhora: “A estrada segue sempre BOA assim?”, ela me respondeu com
toda a sinceridade: “É moço, não tem chovido, a estrada vai sempre boa
assim.” !!!
Parei pra tomar um todinho, e o proprietário da mercearia me informou que pela praia era melhor, e como era! Foi a melhor parte da viagem. além de pedalar tranqüilo pela areia firme, a paisagem era magnífica. Pedalei pela praia até Figueira (10h20), onde descobri que tinha Ferry Boat para São Francisco às 11h e às 14h.
Como não ia chegar a tempo para pegar o das 11h (pois faltavam 19 quilômetros), e eu não estava afim de correr até lá, me conformei com o das 14h (além do mais poderia dormir).
Pedalei mais 13 quilômetros até a Vila da Glória, onde tomei dois caldos de cana e dormi numa sombra gostosa, de frente pro mar, por uma hora e meia.
Banho, café e cervejinhas – Cheguei ao ferry boat às 13h35, atravessei para São Francisco, onde faltavam mais 45 quilômetros até Joinville. Segui cansado,
devagar, mas com pressa. Assim às 17h cheguei na casa do meu tio em
Joinville.
Total da pedalada: 240 km em 17 horas de viagem. Tomei um banho,
um café reforçado, umas cervejinhas para relaxar, e fui para a rodoviária.
Resolvi deixar a bike em Joinville, pois não queria pedalar os 8 quilômetros da casa do meu tio até a rodoviária, nem os 15 quilômetros da rodoviária até minha casa.
Epílogo
Cheguei em casa meia-noite. Às 4h o despertador tocou, resolvi dormir
mais 5 minutinhos (que duraram uma hora e vinte), acordei e saí atrasado. Havia marcado 05h30 com uma amigo (Paulo) e sua namorada (Suemi) para ir escalar o Pico Paraná (PP). Cheguei ao ponto de encontro às 06h05, não vi ninguém e voltei pra casa dormir.
Foi só chegar em casa o telefone tocou. Era o Paulo dizendo
que tinha atrasado e que ia passar na minha casa me pegar. Pensei: “Pronto,adeus cama quentinha”.
Caminhamos 45 minutos do ponto onde deixamos o carro até o sítio que é a base para subir o PP. Iniciamos a escalada às 08h30, chegamos no cume do PP às 13h. ficamos ali por meia hora e iniciamos a descida.
Às 17h30 já estávamos lá embaixo. Caminhamos mais 45 minutos até o carro e fomos embora.
Nem acreditei quando cheguei em casa. Finalmente poderia dormir tranqüilo. Comi dois pratos de feijão com arroz, tomei mais duas cervejinhas e fui pra minha cama (até que enfim) feliz por ter
aproveitado bem o fim de semana.
Conclusão
Apesar do cansaço, a sensação de realização foi imensa, não maior que a felicidade pelo sentimento de dever cumprido. Sinceramente, agradeço a Deus por não ter desistido nos momentos difíceis.
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: junho 7, 2000