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Curvas, singletracks, tobogã: por dentro de 12 horas


Ivam Melo encara degrau no Cemucam (foto: Coroas do Cerrado)

Para mostrar de perto o que foi pedalar no 12 Horas, a Webventure convida Ivam Melo, da categoria Tour, a dar uma visão de um não-profissional, mas veterano das duas rodas. Confira!

Todo ano é sempre assim: depois do Iron Biker rola uma semana de preguiça total e, em seguida, começam os treinos para as 12 Horas de MTB. Enquanto para o Iron o treinamento é de distâncias e resistência, nas 12 Horas tudo é explosão e técnica.

Já na véspera da prova choveu forte, o tempo amanheceu nublado no sábado e, logo pela manhã, choveu novamente. Nossa estratégia de corrida era rodar uma volta cada um, se estivesse seco, e duas voltas, em caso de chuva. Queríamos ainda fazer um ritmo consistente durante toda a prova, permitinho que não houvesse perda de rendimento com o passar do tempo e, principalmente, durante a noite ou com chuva.

O início – A largada, para variar, teve o tumulto natural do “estilo Le Mans”, onde todos largam correndo a pé para pegar suas bikes. É claro que o pessoal da categoria Elite já saiu disparado na frente. O maior problema era a pista ainda estava muito molhada e em alguns trechos foi ‘preciso’ escorregar. Com o decorrer da prova, a pista começou a secar e permitiu então ‘zerar’ os trechos mais técnicos.

A troca de braçadeira se dava logo depois da cronometragem e já larguei socando de coroão na trilha paralela à estrada de chegada. Logo em seguida, uma curva fechada (switchback) à esquerda e uma descida em singletrack com um final em um degrau enorme, mas sem mistérios. Segui descendo pela estradinha em velocidade máxima, com uma curva à direita escorregadia e sem visibilidade, mas que todos sabiamos que dava para fazer sem medo.

Mais descida e uma freada forte, redução de marchas para a coroa do meio e catraca média, uma curva em 90 graus à esquerda com uma subida curtissima mas muito inclinada, que nos levava para um dos trechos mais técnicos do circuito. Era uma descida em singletrack absolutamente escorregadia, no meio das árvores, sem espaço para erros e com um ‘drop’ no final muito traiçoeiro. Não era à toa que o
lugar estava infestado de fotógrafos…

Seguíamos num gramado numa subida suave, entrando numa estradinha numa sequência esquerda/direita/esquerda até o campo de futebol. Mas, antes de chegar ao campo, entrávamos num single à direita com outro trecho supertécnico, cheio de lama, árvores e, pior de tudo, raízes
que faziam as rodas patinarem em todas as direções.

O ‘alto’ Cemucam – No campo de futebol começava a parte alta do circuito. Bótavamos a coroa grande logo no início e seguíamos em alta velocidade pela estradinha com descidas suaves, uma sequência de retas, um pequeno S, uma curva de 90 à esquerda (com um atalho no meio das árvores) e uma curva de 180 à direita. Depois era mais velocidade, numa parte do circuito onde havia uma trilha bem marcada e pouco espaço para negociar ultrapassagens, pois estava tudo cheio de folhas e muito molhado.

No fim da estradinha havia uma subida forte à direita, onde eu subia sempre de coroinha, com um single no topo que nos levava até a pista de aeromodelismo. Depois havia um “cruzamento”, onde tinhamos de prestar atenção para não bater em outro competidor e voltávamos ao dito gramado para uma descida curta. Antes do fim do gramado havia um “tobogã” à direita, que levava a uma descida curta e grossa, ou seja, tenebrosa para alguns, mas que foi ficando “possivel” na medida em que a pista secava. Era outro lugar cheio de fotógrafos e curiosos.

Uma pequena sequência de single no meio da árvores nos deixava numa subida muito técnica de volta para o gramado. Cruzávamos novamente a pista e íamos para um lugar mais baixo do Cemucam, onde havia um
degrau que poucos se atreviam a subir pedalando. Depois vinha uma seqüência de subidas em estradinhas de retorno ao centro do parque, e uma subida curta e forte na coroa do meio nos levava de volta para a chegada.

Tudo corria sem problemas, estávamos em quarto lugar na categoria Tour, até que a chuva voltou. No revezamento, o Mauricio me passou uma geral do circuito, mas eu não sabia que a situação estava tão feia. Saí para a volta disposto a não deixar o tempo cair demais.

São Pedro não ajuda – Fiz toda a primeira parte da descida com calma, mas rápido, até que na freada forte da entrada do single da matinha um biker caiu na minha frente e eu, sem poder frear na lama, tive que desviar para a direita
e fui direto parar numa cerca de arame-farpado. Tentei baixar a cabeça e “oferecer” o capacete para a cerca, mas mesmo assim um arame me cortou o supercílio. Como estava de faixa na cabeça, puxei-a de modo a cobrir o corte e continuei na prova.

O single estava horrivel e logo, na minha frente, vi um cara cair e escorregar ladeira abaixo por uns 20 metros. Eu preferi “esquiar” com a bike ao lado e acabei acertando. A partir daí, a corrente foi
acumulando barro e tornando cada vez mais difíceis as trocas de marchas, especialmente para a coroa pequena. Havia horas em que a corrente travava entre a coroa pequena e o quadro da bicicleta e
era preciso desmontar e girar a coroa na mão para não correr o risco de quebrar a corrente.

Os organizadores sabiamente cancelaram o “tobogã” e abriram uma passagem direta pelo gramado rumo ao trecho que nos levava para a chegada. Mas foi justamente ali que ocorreu o problema de segurança que levou à suspensão da prova, pois havia pessoas armadas no
local do “degrau”. O interessante é que, em 99, no mesmo local, alguém colocou um tronco que provocou a queda de vários atletas.

As demais equipes dos Coroas do Cerrado foram igualmente bem na prova. Lembro que os integrantes possuem, em média, mais de 30 anos. Minha equipe fez a prova em alto-astral e o ótimo quarto lugar nas 12 Horas ajudou a fechar o ano com chave de ouro. A única notícia ruim é que no proximo ano vamos ter que competir na Sport…

Como preparar a bike*

Um dos aspectos interessantes no 12 Horas é o planejamento antecipado dos acessórios. Nossa equipe se equipou da seguinte maneira:

– lâmpadas halógenas de guidão com pelos menos 15 watts de potência e baterias recarregáveis de alta capacidade;

– farol de capacete Petzl Duo (o preferido nas corridas de aventura;

– farol “pisca-pisca” traseiro (obrigatório);

– páralamas plásticos

O ajuste das bicicletas não foi muito diferente do normal, pois o circuito do Cemucam não tem grandes subidas nem exige demais das suspensões. Eu, pessoalmente, optei por usar a minha Gary Fisher 1996 velha de guerra, porém com peças recentes como suspensão dianteira Rock Shox SID, cubos White Bros e canote de banco Rock Shox com suspensão.

Devido ao tempo incerto, com muita possibilidade de chuva e lama, o correto seria tomar maiores cuidados na escolha de pneus e pedais. No último caso, os pedais Time são comprovadamente a melhor opção para a lama, e os pneus deveriam ser finos (no máximo 2.0), com “cravos” altos e bem espaçados (para não agarrar a lama) e com calibragem mais baixa que o normal, segundo nosso “mestre” e “Coroa Honorário” Abraão Azevedo (campeão na categoria Mista).

Optei por pneus Continental Traction Pro atrás e Navigator na frente, mas gostaria de ter corrido com o modelo Cross-Country atrás e na frente. Dava pena ver alguns equipados de pneus semi-slicks, mas é importante deixar claro que pneus são uma escolha extremamente pessoal.

Para aqueles ainda mais preocupados com equipamentos seria bom ter óculos com lentes translúcidas ou amarelas para correr à noite e instalar travões de metal nas sapatilhas (se possivel, é claro).

(*) As marcas e modelos de equipamentos são apenas sugestões do autor.


Ivam Melo é biker e pára-quedista, integrante da equipe Coroas do Cerrado, de Brasília (DF). O time em que ele correu o 12 Horas tinha ainda Augusto Willeman (Floco), Maurício Gonçalves (Bruce) e Gilvan Silva.

Este texto foi escrito por: Ivam Melo