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Da “conquista” à febre na maior montanha do mundo

Redação Webventure/ Montanhismo

A cultura e a generosidade dos nepaleses cativaram Hillary. (foto: Helena Coelho)
A cultura e a generosidade dos nepaleses cativaram Hillary. (foto: Helena Coelho)

29 de maio, 11h30: chegam ao cume do Everest Edmund Hillary, um apicultor neozelandês, e Tenzing Norgay, um nepalês que começou a vida conduzindo iaques (animais usados como transporte no Nepal). Naquele momento, eles escreveram seus nomes da história como os primeiros homens a vencerem a maior montanha do mundo.

A atmosfera de mistério, admiração, ousadia e sacrifício que até hoje relacionamos ao Everest na verdade já havia sido criada desde décadas atrás. Antes da expedição de Hillary e Tenzing, liderada pelo inglês John Hunt, outras 10 expedições já haviam tentado vencer os 8.848m da montanha localizada entre o Nepal e o Tibet.

Dúvida eterna – Dessas tentativas, uma se tornou a maior incógnita do alpinismo mundial: a de George Mallory e Andrew Irvine. Em 1924, eles foram vistos pela última vez a poucas centenas de metros do topo. Nunca voltariam para contar a história. Teriam alcançado o cume e antecipado em quase 30 anos a façanha de Hillary e Tenzing? A resposta permanece guardada até hoje na montanha, tudo porque ainda não foram encontradas evidências suficientes de sucesso ou fracasso.

Assim, Hillary e Tenzing continuam sendo os “conquistadores” do Everest. O nome da montanha vê uma homenagem a sir George Everest, do País de Gales, topógrafo da Índia no século 17. Antes, a montanha era conhecida como Pico XV e acreditava-se que ela tinha 8.840m. Posteriormente chegou-se aos convencionais 8.848m. E em 1998, uma expedição da National Geographic colocou um GPS no cume e constatou que o Everest teriam dois metros a mais do que se pensava (8.850m).

Hillary e Tenzing chegaram ao cume pelo lado do Nepal, via Circo Oeste e Colo Sul. Em 25 de maio de 1960, uma expedição chinesa alcança o cume pelo Colo Norte e Crista Nordeste. Já foram descobertas outras 13 rotas para o cume do Everest. E milhares de histórias, de drama e glória, foram vividas ali.

Na época de Mallory e Hillary, alpinistas eram figuras raras que surpreendiam os locais com o objetivo considerado “tolo” de apenas escalar a montanha-sagrada, Chomolungma para os tiberanos, Sagarmatha para os nepaleses. Mais tarde, chegar ao topo do mundo viraria uma “febre”, hoje acessível a quem estiver disposto a pagar até 65 mil dólares numa expedição comercial.

O valor acima se tornou uma referência ao comércio no Everest foi usado por Jon Krakauer, autor do maior best-seller envolvendo o tema montanhismo, “No Ar Rarefeito”, em que narra o efeito terrível desta exploração: numa tarde de maio de 1996, uma tempestade pegou duas expedições comerciais próximo ao cume. Oito morreram, entre clientes e guias extremamente experientes. Ao todo 15 alpinistas seriam vitimados naquela temporada, até hoje o maior número de vítimas do Everest em um só ano.

Para as comemorações desses 50 anos da “conquista” do Everest, mais uma vez a montanha suporta centenas de escaladores. Um acidente com um helicóptero perto da base deixou três mortos na última quarta-feira e a temporada já conta com vidas perdidas. Hillary, que está no Nepal para a comemoração, considera esta nova fase uma afronta ao verdadeiro montanhismo: “Pessoas pagando US$ 65 mil para serem levados ao topo da montanha por experientes montanhistas, eu pessoalmente acho que isto está longe de ser interessante. Isto não é realmente montanhismo”, afirmou à BBC.

Opção pela solidariedade – O neozelandês foi nomeado sir pela rainha Elizabeth, dias depois da conquista. Mas não usou a glória em benefício próprio: passou a vida levantando fundos e construindo até com seus próprios braços escolas, hospitais e clínicas para os sherpas (o povo da montanha). “Isso foi para devolver toda a ajuda que eles me deram”, diz o criador do Himalayan Trust. Ele reconheceu que o turismo na região ajudou e muito a melhorar a vida dos nepaleses.

Depois do Everest, Hillary esteve no Pólo Norte e no Pólo Sul, saiu em busca do Yeti, o lendário monstro das neves do Nepal, e diz que se sente “em casa” quando está naquele país. Aos 83 anos, em artigo para a revista National Geographic deste mês, Hillary escreveu: “Desde a manhã de 29 de maio de 1953 tenho sido chamado de grande aventureiro. A verdade é que sou apenas um neozelandês rústico que desfrutou de muitos desafios na vida”.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: maio 29, 2003

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