Meoni poderia ser tricampeão do Dakar e terminar sua história após esta edição (foto: Gauloises Racing)
Exclusivo, da redação do Webventure – Os valentes pilotos que todos os anos participam do rali Dakar já sabem, e por isso nunca buscam desculpas nem apontam dedos acusadores quando notícias tristes ocupam espaço de aventura e adrenalina no dia a dia do maior evento off-road do mundo.
No dia 31 de dezembro passado, na largada em Barcelona, na Espanha, a 27a. edição deste rali apresentava 104 motos, 75 carros e 37, num total de 216 veículos. Ontem, na final do rali em Dakar, no Senegal, a lista final apontava 125 veículos desistentes e 2 pilotos mortos.
A cada vida que o desafio africano leva os competidores reagem da mesma maneira, com dor pelo companheiro morto e com coragem para seguir adiante por mais um dia. O rali Dakar é uma competição que vive do perigo e este ano a corrida mostrou a todos seu pior lado com uma dureza surpreendente.
O espanhol José Manuel Peréz e o italiano Fabrizio Meoni perderam a vida no curto espaço de apenas um dia, após sofrerem acidentes durante etapas distintas do rali. Foram mortes que marcaram a prova deste ano como uma edição especialmente trágica.
Um índice altíssimo de abandonos, além de três outras mortes fora da competição, mas de alguma maneira relacionadas com a prova.
A imagem que ficará do Dakar 2005 é a de Cyril Despres, Marc Coma, Isidre Esteve, Alfie Cox e Juan Brucy chorando, desesperados, com a notícia da morte do companheiro Meoni, comunicada de forma trágica ao final da etapa.
José Manuel Pérez morreu no dia 9 de janeiro, em um hospital de Alicante (Espanha). Três dias antes, Pérez havia sofrido um grave acidente após cair de sua moto KTM durante a sétima etapa do Dakar.
O piloto morreu meia hora depois de chegar a Alicante, transferido de avião desde o Dakar, onde havia sido levado de helicóptero pela organização do rali, e também onde lhe retiraram o baço, parte do fígado, além de um rim.
Piloto privado, desconhecido do grande público que acompanha a corrida à distância, a morte de Pérez não soou como uma ameaça e como manchete nos cadernos esportivos do dia seguinte.
Porém para os pilotos foi um mau sinal: Pérez era popular entre todos os pilotos, sobretudo entre os espanhóis, que formam grande número dos amadores que participam do rali.
Meoni, o italiano – Apenas um dia depois da morte de Pérez veio o golpe mais duro. O italiano Fabrizio Meoni morreu por culpa de um infarte durante a décima etapa, entre Atar e Kiffa. Piloto oficial da KTM pela equipe francesa Gauloises, Meoni venceu o Dakar em 2001 e 2002 e era o vice-líder na classificação geral até então.
Seria sua última participação no Dakar, após 13 anos na prova. Ele havia avisado seus companheiros e sua equipe que era hora de cuidar da família e dizer adeus às dunas do Saara.
As mortes de Pérez e Meoni acenderam de novo a polêmica sobre o perigo e o sentido do Dakar. A prova já provocou a morte aproximadamente 50 pessoas, entre elas seu fundador, o francês Thierry Sabine, em 1996.
Muitos criticaram o rali este ano pelo seu tamanho (quase 9 mil quilômetros) e pela organização não criar medidas mais fortes de segurança a todos os participantes. A crítica em 2005 concentrou-se na perda de identidade da prova, cada vez menos aventureira.
O próprio Meoni, antes de morrer disse que estava cansado pois a navegação deixou de ser um fator importante. “Para mim perdeu-se o espírito do Dakar”, disse na nona etapa do rali, criticando o fato de a organização impor uma estrada-faixa virtual de 3,3 km para que os pilotos não saíssem dela e com isso reduzissem o valor da navegação na prova.
Ao final da sétima etapa, quando muitos pilotos passaram a noite em plena especial perdidos, com problemas mecânicos, ou sem combustível, as críticas se tornaram mais profundas.
Não foram poucos, entre eles Klever Kolberg, que levantaram a suspeita de que ao fazer o levantamento do percurso de helicóptero, os organizadores não conseguiram medir as dificuldades reais da etapa mais longa da prova, colocando em risco a participação de centenas de competidores, por 660 quilômetros de percurso.
Após a morte de Meoni, a fábrica austríaca KTM, que tem em suas mãos os principais pilotos na competição, prometeu uma reavaliação de sua participação no Dakar. Pode-se esperar mudanças profundas para o próximo ano. Mas o certo é que o Dakar 2005 chega ao fim balançando entre a paixão que a aventura desperta e gosto ruim da realidade que as mortes de Meoni e Peréz trouxeram à tona.
Este texto foi escrito por: Cristina Degani
Last modified: janeiro 17, 2005