Bonjean em cima da moto. (foto: Divulgação)
A maior aventura da vida de Bernardo Bonjean foi um sucesso. Pelo menos é assim que o piloto brasileiro encara sua participação na categoria motos do Rally Dakar 2006. Apesar da 90ª colocação na classificação geral (93 motos chegaram), ele não vê motivos para decepção.
Ganhei na categoria Bernardo Bonjean, brinca o piloto, esbanjando bom-humor. Fui para o Dakar com o sonho de completar a prova e consegui, por isso minha avaliação é bastante positiva, acrescenta Bernardo, que está longe de ser um atleta profissional. Aos 28 anos, ele passa a maior parte de seu tempo trabalhando como operador de bolsa pelo Banco Factual.
O esporte é apenas uma opção de lazer para Bernardo, que começou a pilotar motos em 1994, disputando enduros de regularidade. O sonho de enfrentar o rali mais temido do mundo começou a ganhar corpo dez anos depois. Tinha me preparado para correr em 2005, mas sofri um acidente e tive que adiar para esse ano, conta.
Marinheiro de primeira viagem, Bernardo passou inúmeros sufocos no Dakar. A ponto de estar certo de que não volta mais. Você já viu alguém servir o exército duas vezes? Eu já servi uma e está bom demais, avisa o piloto, que desembolsou cerca de US$ 60 mil na brincadeira. Foi a aventura da minha vida. Agora, só retornaria se fosse para disputar a categoria carros, na companhia dos filhos, por exemplo.
Muita história – A experiência de 16 dias e 9.043 quilômetros percorridos deu a Bernardo muitas novas histórias. Não há amigo que ainda não tenha escutado que o brasileiro esteve com o australiano Andy Caldecott durante quase toda a travessia de navio entre a Espanha e o Marrocos. Dias depois, Caldecott morreu em um acidente.
Fiquei triste com o ocorrido. Tinha dividido o navio com o Caldecott e nunca esperava que isso pudesse ocorrer. Mas o terreno do Dakar é muito perigoso e traiçoeiro, avalia o piloto, que levou um tempo total de 105h59min57 para cumprir todas as especiais o campeão do rali, o espanhol Marc Coma, terminou com 50h31min50 de vantagem.
Bernardo garante não ter se preocupado em momento algum com a distância para os ponteiros. Tinha me preparado demais para esse rali, na parte física, psicológica e técnica, e não queria jogar tudo fora por ter acelerado demais, adverte. A tática, ao menos, funcionou e ele não sofreu qualquer acidente grave. Apenas alguns tombos.
O momento mais complicado para o piloto se deu na nona especial, entre Nouakchott e Kiffa. Eram 600 quilômetros cronometrados e tive problema com a bateria da moto. Por causa disso, a prova que era para ser feita em 13 horas durou quase 20 horas para mim, relembra Bernardo, que se acostumou a dormir mal. Vários dias eu parava de pilotar às 19 horas e já tinha que estar acordado para começar a correr no dia seguinte à 1h30 da manhã, conclui.
Este texto foi escrito por: Jorge Nicola