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Dakar cancelou etapa de hoje por falta de segurança; prova já foi ameaçada outras vezes

Redação Webventure/ Offroad

Deslocamento em 2004 (foto: Arquivo Webventure)
Deslocamento em 2004 (foto: Arquivo Webventure)

Novembro de 2006, França. O Serviço Secreto desse país emite um alerta para a organização do Rally Dakar afirmando que existe uma ameaça terrorista real nas etapas do Mali, incluindo seqüestro de pilotos e de pessoas da organização.

Chamadas e manchetes começam a circular no mundo inteiro colocando em xeque a segurança da prova. A organização demorou um pouco para se manifestar, mas decidiu por cancelar as etapas no Mali, tranqüilizando um pouco os ânimos da opinião pública que já julgam o Dakar como sendo “sangrento”.

A informação foi divulgada pelo respeitado jornal francês Le Monde, que afirmou ainda que o Grupo Salafista para a Predicação e Combate (GSPC), recentemente unido à Al Qaeda, pode levar a sério as ameaças. O grupo está ativo na zona de Néma e no Mali e tem ligações com o tráfico de armas. O GSPC é herdeiro do Grupo Armado Islâmico (GIA) e conta com 500 a 800 ativistas.

“É uma ação de prevenção que a organização faz visando a segurança dos integrantes do rali. Foi um dia a mais de descanso que o pessoal aqui não reclamou muito não, em vista da segurança, ou da falta de segurança, que iríamos ter se fossemos ao Mali nesse momento”, afirmou André Azevedo com exclusividade para o Webventure.

Modificações – O rali já teve etapas canceladas em anos anteriores, mas foi a primeira vez que vetaram trechos antes mesmo da largada. A organização modificou os dois dias de prova que passariam pelo Mali. A 10ª etapa seria um percurso de Néma à Timbuctu e a 11ª, de Timbuctu à Néma. Somadas, teriam 1.205 quilômetros de percurso.

Para contornar um pouco a situação, a organização modificou a 10ª etapa e fez um percurso em laço ao redor da cidade de Néma, na Mauritânia, sem entrar no Mali. A 11ª etapa foi mesmo cancelada e transformada num deslocamento de 280 quilômetros até Ayon, ainda na Mauritânia, onde a prova larga novamente na quinta-feira, para a 12ª etapa.

“Infelizmente, não é a primeira vez que o rali é alvo de grupos destes, utilizando a prova como um trampolim para a imprensa, divulgando suas causas. Já sofremos ameaças em etapas anteriores. A ameaça é para uma etapa específica e a organização deve dar segurança aos participantes”, afirmou André Azevedo.

A última vez que o rali foi cancelado por falta de segurança foi em 2004, e justamente eram duas especiais no Mali. Na época, o rali ganhou as manchetes do mundo inteiro por causa da ameaça terrorista. “Naquela época, os organizadores também foram alertados pelos serviços secretos franceses, criando o temor por roubos e atentados”, lembrou Klever Kolberg.

Na ocasião, foi feito um acordo entre a organização do Dakar e autoridades malinesas e francesas. A prova iria de Néma (Mauritânia) para Mopt (Mali), depois de Mopt para Bobo Dioulasso (Burkina Faso). Ambas as etapas foram transformadas em deslocamento e, como havia também um dia de descanso programado, a prova ficou três dias parada.

“Por razões de segurança do rali e seus participantes nos pareceu necessário proceder modificações no traçado das etapas deste sábado e domingo. Esta decisão foi tomada após consultar as autoridades do Mali e da França”, explicou a nota de imprensa distribuída pela organização do Dakar em 2004.

Os carros e caminhões seguiram por terra para Bamako, no Mali, e as motos foram transferidas de avião.

Cancelamentos por luto – Algumas etapas foram canceladas não por ameaças terroristas, mas por respeito aos companheiros que morreram durante a prova. Em 2006, o trecho entre Kiffa e Kayes foi transformado apenas em deslocamento para as motos. Os competidores, organizadores e chefes de equipe resolveram cancelar a especial como uma homenagem ao piloto de moto australiano Andy Caldecott.

O australiano de 41 anos caiu em alta velocidade na especial do dia anterior. Os médicos que chegaram 25 minutos depois do acidente, constataram que o piloto quebrou o pescoço e morreu na hora. Carros e caminhões fizeram o trecho cronometrado.

Em 2005, o italiano Fabrízio Meoni morreu vítima de um ataque cardíaco durante a especial, o que provocou forte comoção entre todos os pilotos de moto do Dakar. O italiano era piloto oficial da KTM, ganhou diversas vezes o Dakar e competia sua última prova.

A pedido dos próprios pilotos, a etapa foi cancelada para as motos. Os pilotos seguirão de avião direto para Bamako. “Precisamos de uma jornada de reflexão para saber o que é mais adequado ser feito”, desabafou, na época, o piloto Isidre Esteve Pujol. A equipe KTM cogitou de abandonar a prova, mas acabou por continuar.

Na década de 90, dois pilotos, carro e moto, foram seqüestrados no deserto por gangues terroristas. Em 1999, outras duas etapas foram suspensas por alertas do serviço secreto francês sobre possíveis ataques terroristas.

Em 1991, o incidente mais grave envolvendo terrorismo. Uma rajada de metralhadora atingiu a cabine de um caminhão durante a especial em In Kaduane, no Mali. Os tiros acertaram o piloto francês Charles Cabanne, que acabou falecendo. A região é dominada por tropas desse país que enfrentavam a população touareg do norte.

Em 2003, um caminhão da KTM passou por cima de uma mina, na fronteira da Líbia com o Egito, que danificou a roda traseira do veículo. O austríaco Johann Peter Reif e o italiano Arnaldo Nicoli nada sofreram. A organização informou que poderiam ser explosivos usados na 2ª Guerra Mundial. Após o incidente, todos os veículos que vinham atrás foram parados na fronteira e a prova só continuou após a certeza da segurança.

Em 2001, na fronteira do Marrocos com a Mauritânia, um caminhão de apoio saiu da rota, passou por cima de uma mina e explodiu. O piloto português José Eduardo Ribeiro teve sérios ferimentos nos pés.

Deslocamento espetacular – Em 2000, a ameaça terrorista veio do Níger, com prováveis ataques terroristas. Nesse ano, a organização cancelou quatro etapas e todos seguiram direto para a Líbia. Como não era seguro fazer o deslocamento pelo solo, a organização fretou inúmeros aviões Antonov, de fabricação russa, para fazer o deslocamento da caravana Dakar.

Todos os veículos, carros, motos, caminhões e apoio entraram nos aviões que os levaram com segurança até a Líbia, onde seguiu a prova. Estima-se que a organização teve um prejuízo, na época, de 5 milhões de dólares.

Este texto foi escrito por: Redação Webventure

Last modified: janeiro 17, 2007

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