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De volta ao deserto


Cenas do deserto do Atacama no Chile. (foto: Arquivo pessoal)

Em nova coluna, Carlos Sposito conta tudo sobre a corrida em trilha da qual ele vai participar em pleno Deserto do Atacama, no Chile.

Ah, nem acredito! Estou de volta aos desertos!

Depois de alguns desafios e treinamentos de resistência em áreas de florestas e praias, estou voltando às origens, onde me sinto realmente em casa. Desta vez estou retornando ao Deserto de Atacama, no Chile, onde fiz, há alguns anos, trekkings solitários, mas nenhuma corrida. Agora participarei da competição Atacama Crossing, da qual também sou o representante no Brasil para divulgação e inscrições.

Tal como na Marathon des Sables, no Deserto do Saara, esta prova tem como ponto-chave a auto-suficiência do competidor. Na prática isto significa, nada mais nada menos, que o corredor deve “se virar” sozinho durante os sete dias da prova. Não existe Equipe de Apoio para arrumar sua mochila nas paradas, fazer uma maravilhosa macarronada cheia de carboidratos ou te lembrar de levar algum equipamento para o próximo trecho.

Também não tem, diferente das corridas de aventura sem equipe de apoio, alguém da Organização da prova para carregar seus equipamentos de um acampamento para o outro. Nada disso!

A partir da manhã do dia quatro de julho, indo até a tarde do dia dez, cada participante correrá com sua mochila recheada de TUDO que será necessário para sua sobrevivência (literalmente falando) neste período. Será vedada qualquer ajuda externa, seja de que tipo for.

A comida deverá ser feita isoladamente em seu fogareiro e sua panela, carregados arduamente junto com sua comida, quilômetro após quilômetro, montanha após montanha, duna após duna.

Após cada uma das etapas diárias, que variam entre trinta e oitenta quilômetros, cada competidor deverá fazer seu ritual estratégico: tomar banho com meio litro de água, já que este líquido precioso será racionado em dez litros por competidor, por dia; alongar-se, tentando evitar câimbras causadas pelo excesso de esforço; fazer seu almoço “ajantarado”, normalmente uma quantidade para duas pessoas, graças à “fome de leão” com que chegamos ao final de cada etapa; cuidar das bolhas novas e dos ferimentos de bolhas antigas; enviar e-mails para a família e para as assessorias de imprensa dos patrocinadores; bater papo; e tentar dormir.

Não necessariamente nesta ordem nem todos os itens…

É claro que nem tudo é perfeito. Esta auto-suficiência tem limites práticos que, caso fosse levada aos extremos, com certeza inviabilizaria este período tão longo de atividades, de sete dias. Se pensarmos que a água estará limitada em dez litros por dia, chegamos ao resultado de setenta litros de água utilizada durante a competição. Esta necessidade de hidratação que temos é exatamente o que atrapalha vários projetos de aventuras e expedições que são planejadas mundo afora.

É inviável correr, seja lá quantos quilômetros for, com setenta quilos nas costas somente de água, sem contar a comida, fogareiro, casaco, saco de dormir, e outras cositas más. Para resolver este detalhe a Organização da pova dará, em cada Posto de Controle, uma garrafa de um litro e meio, totalizando os dez litros até o final do dia.

Para termos mais moleza ainda, a Organização também se preocupará em rmar, desarmar e transportar de um acampamento ao outro todas as endas que usaremos para dormir. Muita moleza correr estes quase duzentos e cinqüenta quilômetros em dunas, montanhas e areia, né?

Se você quiser conhecer mais detalhes desta prova, seja para ainda se inscrever este ano, ou quem sabe no próximo, ou ainda por pura curiosidade, o site oficial da prova é www.racingtheplanet.com. Existe um link com o site traduzido para o português. Se ainda restarem dúvidas, me escreva.

Este texto foi escrito por: Carlos Sposito