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Dengue

Redação Webventure/ Aventura brasil

Quando alguns amigos vieram me consultar, preocupados em pegar dengue no meio do mato, “com tantos mosquitos”, eu achei que já era hora de explicar algumas coisa sobre esta doença, aproveitando para trazer informações mais completas que o básico MOSQUITO, ÁGUA PARADA e NÃO TOMAR ASPIRINA.

Dengue é uma doença tipicamente urbana, mas não exclusivamente. Em grandes aglomerações de pessoas, o número de criadouros artificiais disponíveis para o mosquito é muito maior. Juntando isto à grande oferta de sangue humano para as fêmeas produzirem seus ovos, temos uma população de mosquitos muito maior que em ambientes naturais.

Além disso, a chance de um destes mosquitos picar uma das muitas pessoas contaminadas e depois vir picar você é muito maior na cidade que no meio do nada, com uma dúzia de mosquitos e meia dúzia de pessoas.

Agente
O dengue é uma doença infecciosa provocada por um arbovírus. Existem quatro vírus causadores de dengue (tipo 1, 2, 3 e 4), sendo que os 1, 2 e 3 existem no Brasil (o 3, desde dezembro de 2000). O tipo de vírus contraído não importa para a gravidade da doença, podendo ocorrer a forma grave (dengue hemorrágica) com qualquer um dos quatro vírus.

A reincidência da doença também não é necessária para a ocorrência da forma grave, podendo ter dengue hemorrágica pessoas que nunca tiveram dengue antes. Na segunda, terceira ou quarta vez que se pega dengue as chances da forma grave aumentam, mas ainda continuam baixas.

A boa notícia é que, depois de curada de uma infestação por um dos quatro tipos de vírus de dengue, a pessoa fica imunizada contra este vírus, o que diminui a chance de uma segunda contaminação, mas que ainda pode ocorrer por um dos outros três tipos de vírus restantes.

Os sintomas
A infecção causada por um dos quatro tipos de vírus produz os mesmos sintomas e a determinação do tipo de vírus é irrelevante para o tratamento. O dengue, em 95% dos casos, causa apenas desconforto e transtornos. Os sintomas iniciais são febre alta, dor de cabeça, muita dor no corpo e eventualmente vômito.

Após três ou quatro dias de febre, podem aparecer manchas cutâneas vermelhas parecidas com sarampo e coceira, ou, eventualmente, sangramentos no nariz e gengivas. Após cinco dias, a maioria das pessoas começa a melhorar e se recupera em até 10 dias.

Em alguns casos (menos de 5%), nos primeiros dias após a febre começar a baixar, pode ocorrer grande queda da pressão sangüínea, o que caracteriza a forma mais grave da doença ou dengue hemorrágico.

Até este momento, da baixa da febre, não é possível diagnosticar a forma grave. Apesar do nome hemorrágico, não é sempre que ocorrem sangramentos aparentes e a gravidade está relacionada à queda da pressão sanguínea, que deve ser tratada imediatamente. Caso contrário, pode levar o paciente à morte.

É importante lembrar que os sintomas iniciais de dengue são semelhantes a outras doenças como gripe, febre-amarela, malária e leptospirose. Estes sintomas também não servem para indicar se o dengue será da forma grave ou branda.

O vetor
Como já mencionamos anteriormente, o mosquito vetor do dengue é o grande vilão desta doença, uma vez que não existe vacina. Os vírus do dengue podem ser transmitidos pela picada da fêmea de duas espécies de mosquitos do gênero Aedes: Aedes aegypti e Aedes albopictus.

Ao contrário do mosquito comum do gênero Culex, que picam à noite, os Aedes picam de dia, com um apetite bastante voraz no crepúsculo, mas ainda presentes ao longo do dia. O Aedes aegypti é o mais urbano das duas espécies do gênero, reproduzindo-se em qualquer canto com água parada, de pneus a tampinhas de garrafas, sendo o maior responsável, no Brasil, pelo dengue.

Prevenção
No momento, não existe vacina para o vírus do dengue, apesar das pesquisas nesta área estarem avançando rapidamente. Sendo assim, a única forma de prevenir o dengue é não ser picado pelo mosquito.

Como a grande maioria das picadas ocorre em casa, o uso de telas nas janelas e inseticidas de tomada ou aerosol podem ajudar a diminuir a chance de picada. Ar condicionado esfriando o ambiente e ventiladores sobre as pessoas também ajudam. Estes cuidados devem ser tomados de dia ou de noite, uma vez, que fora do horário de expediente dos Aedes, outros mosquitos estão atacando, como o Anopheles, transmissor da malária.

Fora de casa, os cuidados já são mais difíceis, mas a incidência de picadas também é menor. O uso de meias, calças e camisas de manga compridas, mesmo no calor, diminuem substancialmente a área do corpo disponível para picadas.

Caso haja muitos mosquitos e eles continuem perturbando, picando na cabeça, pescoço e mãos, pode-se sempre cobrir estas áreas com uso de filó sobre o chapéu e por dentro da camisa e luvas.

Pode-se ainda usar repelentes à base de DEET. É importante observar as concentrações máximas de 10% para crianças e 30% para adultos. O DEET também pode ser aplicado sobre as roupas caso os mosquitos estejam picando sobre estas.

Mas lembre-se que o uso de repelente das opções mencionadas acima é sempre a última e não a primeira, pois por bem ou por mal, estamos falando de veneno. Eu, pessoalmente, dificilmente uso repelentes, preferindo passar calor com mangas compridas e calças, luvas e até mosquiteiro na cabeça.

Na área de saúde pública, na falta da vacina, campanhas de combate aos criadouros dos mosquitos e “fumacê” para matar os adultos poderiam impedir as epidemias, se não fossem realizadas somente nos anos de grandes epidemias no Rio e em São Paulo e depois do estrago já ter sido feito.

Vale lembrar que, na década de 30, o Aedes aegypti foi erradicado no Brasil, no programa de saúde pública de controle da febre amarela. Faça a sua parte e cobre dos governos municipais, estaduais e federal o combate contínuo ao mosquito, também nos anos em que não há epidemias.

E, em casa ou na vizinhança, combata os criadouros dos mosquitos. Lembre-se que até uma tampinha de garrafa com água da chuva pode criar vários mosquitos.

Locais de risco
O dengue é uma vírus de ocorrência tropical ou sub-tropical em todo mundo. As epidemias, e conseqüentemente o maior risco de contágio, ocorrem no verão. As áreas de maior risco são a América do Sul, com exceção do Chile, Paraguai e Argentina, América Central, incluindo o México para quem o considera América do Norte, África, Austrália, Caribe, com exceção de Cuba e Ilhas Cayman), China, Ilhas do Pacífico, Índia, Sudeste Asiático e Taiwan.

Nos Estados Unidos é incomum, mas já foram registrados casos no Texas. No mundo inteiro estima-se que algo entre 50 e 100 milhões de pessoas sejam contaminadas pelo dengue. Ano passado, no Brasil, foram 370 mil casos.

Montanhistas a salvo – O risco de contágio em áreas urbanas é grande, nas áreas rurais é baixo e em ambientes naturais distantes de aglomerações humanas é muito baixo. Acima de 1.200 metros de altitude, o dengue é incomum. Montanhistas: se estiverem com neuras contra o dengue, voltem para as altas montanhas pois lá é o lugar mais improvável de pegarem dengue, apesar do aumento das chances de pegarem outras coisas…

Diagnóstico e tratamento
Ao sinal de febre alta, dor de cabeça e muita dor no corpo, desconfie de dengue e PROCURE UM MÉDICO. Este sintomas podem ainda ser acompanhados de vômitos e pequenas hemorragias nasais e nas gengivas.

Podem também, eventualmente, surgir manchas vermelhas como as do sarampo. São sintomas facilmente confundíveis com uma forte gripe, malária e outras doenças e apesar de na maioria dos casos não ser grave, é urgente a procura por auxílio médico.

A forma grave da doença, ou dengue hemorrágica somente pode ser diagnosticada quando a febre começa a baixar, quatro ou cinco dias depois da doença aparecer, quando ocorre uma forte queda da pressão sangüínea. Nestes casos, a procura do médico e o imediato tratamento da queda da pressão é fundamental e imprescindível, pois o não tratamento pode levar o paciente a morte.

Para a doença não existe tratamento específico. O médico lhe receitará analgésicos para a dor, que não pode ser qualquer um sob risco de agravamento da forma grave ou de mascaramento da doença.

Não tome remédio por conta própria, especialmente com suspeita de dengue ou gripe forte. Mesmo tomando o remédio correto, sem orientação médica, corre-se o risco de uma overdose, causando lesão hepática (no fígado).

E o mais importante: beber líquidos em grande quantidade. Não é necessária dieta especial. Alimente-se normalmente.

Este texto foi escrito por: Cláudio Patto

Last modified: março 25, 2002

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