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Desafio Volta da Floresta – parte 1

Redação Webventure/ Corrida de aventura, Outros

9h21 - Sposito na trilha. (foto: Arquivo pessoal)
9h21 – Sposito na trilha. (foto: Arquivo pessoal)

Nesta coluna, Sposito conta todos os detalhes de seu último desafio, correr pela trilha do Parque Nacional da Tijuca.

A idéia deste desafio surgiu durante a leitura descompromissada de uma reportagem sobre o Parque Nacional da Tijuca. Após alguns meses debruçado sobre mapas do Parque e dois anos colocando as botas de trekking na terra e na lama, Pedro Menezes, diretor do Parque na época, unificou cerca de 42 km de trilhas em um árduo trabalho de reabertura de antigos caminhos fechados pelo desuso e fechamento de indesejáveis atalhos abertos por pseudo-montanhistas preguiçosos, criando a Trilha Externa Major Archer.

E não foi necessária a abertura de uma trilha nova sequer para conseguir manter a continuidade total do percurso!

Para coexistir com a proibição oficial de pernoites dentro dos limites do Parque, houve a preocupação da rota de cada dia de caminhada na Trilha terminar em algum trecho de asfalto da malha interna de trânsito. Assim, ao final de cada dia de trekking, o montanhista se deslocaria para fora do Parque continuando o trecho seguinte em uma próxima oportunidade, completando o percurso total em quatro dias de caminhadas.

Idéia – Com a atenção sempre voltada para corridas em trilha, a primeira coisa em que pensei ao ler a reportagem foi, como sempre: “se existe o caminho, eu quero fazê-lo correndo!”. Ato contínuo, liguei para Giovanni Mello que, logicamente, aceitou na hora o desafio, sem ao menos pedir tempo para pensar.

Dias depois estávamos na Floresta da Tijuca, em plena Trilha Major Archer, fazendo anotações de tempos e distâncias. Exatamente neste dia, coincidentemente, encontramos o Pedro Menezes por lá e expusemos nosso projeto do Desafio. Ele nos deu total apoio e combinamos um contato futuro para conseguirmos mais informações.

Como os projetos de corridas em trilha estão sempre fervilhando em nossas mentes, pusemos temporariamente na gaveta esta corrida para concretizar dois outros projetos que já se encontravam em andamento: a corrida no Deserto de Mojave e a Volta na Ilha Grande.

Divulgando opções – Ao fazermos o planejamento dos desafios de 2002 decidimos voltar à idéia da Trilha Externa Major Archer, que muito nos agradava, principalmente por homenagearmos nossa cidade e divulgarmos as diversas opções de caminhadas disponíveis na maior floresta urbana do mundo, tentando quebrar a velha trilogia “Pico da Tijuca-Bico do Papagaio-Morro da Cocanha”.

Durante a fase de estudo e análise do desafio anotamos os tempos de cada ponto da trilha, incluindo todos os desvios onde, na prática, se encontravam as maiores dificuldades em termos de variação de altitude e fortes aclives. Com o esforço despendido nestas caminhadas e os dados coletados, fizemos projeções de que seria possível correr a trilha inteira em menos de nove horas, talvez oito.

Com o apoio da Osklen (www.osklen.com) e do movimento e-brigade (www.e-brigade.com), decidimos marcar o dia 4 de agosto para o “Desafio Volta na Floresta”. Porém, com a aproximação da data, as previsões meteorológicas pintaram os céus destes dias com todos os matizes de cinza molhado que se possa imaginar.

Como nosso objetivo era correr, não caminhar, tentamos evitar ao máximo a passagem por terrenos lamacentos e escorregadios, principalmente depois de nossa encharcada experiência na noite da Volta na Ilha Grande, quando perdemos bastante tempo evitando os tombos causados pelo liso solo molhado, além de diminuirmos drasticamente a velocidade.

Acreditando nas previsões dos meteorologistas, que prometiam “de céu meio encoberto a sol”, transferimos o Desafio para o dia 7 de agosto. Na véspera, à tarde, porém, o Rio de Janeiro foi o epicentro de ventos que atingiram 90 km/h e as previsões oficiais, claro, foram alteradas para “chuvas e trovoadas”. Como o preparo logístico e psicológico (leia-se “sem vontade nenhuma de adiar novamente!”) estava mais do que pronto, decidimos manter a data combinada.

O início – A manhã do dia do Desafio, apesar de a rede mundial de computadores, torres e satélites dedicados à previsão do tempo garantirem muitas trovoadas, presenteou-nos com um céu completamente esquecido de pendurar uma nuvem sequer para nos refrescar com uma pequena sombra durante a corrida. Tá certo que não queríamos chuva, mas…

Chegamos cedo ao Parque e, após estacionarmos perto do local da partida, fizemos um leve aquecimento seguido de uma boa sessão de alongamentos. Exatamente às 7h07 do dia 7 (pura coincidência!) iniciamos nossa corrida, sem pretensão esotérica alguma, saindo do Portão da Praça Afonso Vizeu (altitude 370 metros), início oficial do Primeiro Dia da Trilha Externa Major Archer.

Na primeira hora de corrida passamos pela Trilha dos Bancos, Play Ground (alt. 460m), chegando ao desvio onde se pega a Trilha do Alto da Bandeira até o pico do mesmo nome (alt. 563m), passando antes pelo Areão (alt. 558m).

Escalaminhadas – De volta à trilha principal seguimos pelo Caminho da Pedra do Conde até a cota 660m, ponto em que nos desviamos para a Pedra do Conde (alt. 821m), um pico de média altitude mas com os trechos finais da subida em “escalaminhadas” suficientemente íngremes para elevar nossas freqüências cardíacas a níveis suportavelmente cansativos.

A descida, em compensação, proporcionou-nos um bom descanso até atingirmos a Trilha do Anhangüera (alt. 650m), já de volta ao caminho principal, de onde, ao final, subimos o Morro do Anhangüera (alt. 693m), com seu cume maravilhosamente cravejado de eucaliptos.

A descida suave até a altitude de 648 metros levou-nos à Estrada do Excelsior, onde corremos para a direita por alguns minutos até o Mirante do Excelsior, retornando em seguida e passando novamente em frente ao ponto em que saímos da mata, continuando até chegarmos ao fim do Primeiro Dia. O relógio registrava 8h36. Paramos para nosso primeiro sanduíche de queijo e alguns chocolates.

Iniciamos o Segundo Dia da Trilha Externa Major Archer cerca de cinco minutos depois, pelo Caminho da Caveira, continuando pela Trilha da Serrilha da Caveira, passando rapidamente da cota 640m à cota 791m, ponto conhecido como Alto da Serrilha, de onde nos desviamos para a Trilha do Andaraí Maior que nos levou ao pico do mesmo nome (alt. 861m), tendo ainda uma pequena trilha até o mirante, a 840 metros de altitude.

De volta ao Alto da Serrilha seguimos pela Trilha do Tijuca Mirim, continuando pela Subida do Costão do Tijuca Mirim até a cota 913m, encruzilhada em que seguimos ao Pico do Tijuca Mirim (alt. 917m) e voltamos para, em seguida, atingir o ponto mais alto de toda a Trilha Externa, o Pico da Tijuca (alt. 1022m).

Esforço – Nossos organismos começavam a se ressentir do excesso de esforço após subirmos os 117 degraus cavados na rocha no início do século passado para a visita do (creio eu!) Rei da Suécia, reconhecido escalador, que se recusou a usar esta artificialidade encomendada por um governante brasileiro bem intencionado, mas que não entendia coisa alguma de escalada em rocha.

A descida pela Trilha do Pico da Tijuca, passando pelo Colo da Serra dos Três Rios e encerrando no Bom Retiro (alt. 661m), foi o descanso que necessitávamos para encerrar o segundo dia.

Clique aqui e leia a segunda parte do Desafio Volta da Floresta.

Este texto foi escrito por: Carlos Sposito

Last modified: setembro 24, 2002

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