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Desafios do Raid Atacama


Sair de situações complicadas faz parte do espirito do Atacama (foto: Gustavo Mansur)

Depois de um dia intenso vivendo o Raid Atacama é fácil entender o que faz com que mais de 3.000 pessoas se reúnam em pleno deserto de Atacama em um simples raid, um simples evento de off-road. Elas vêm para desafiar o deserto. A competição realmente não importa no aqui, o que realmente importa é vencer as dificuldades naturais do Atacama. O que já não é pouco.

O primeiro dia de trilha do Raid, considerado pelos organizadores como o mais fácil, não tem nada de simples, muito menos de fácil. A grande caravana com mais de 400 veículos saiu da cidade de Caldera, litoral norte do Chile, precisamente às 11 horas da manhã desta quarta. Viajando no carro de imprensa junto ao assessor de imprensa da competição, Gerardo Fontaine, e ao jornalista chileno do La Tercera, Mauro Vidal, seguimos a frente do comboio nos primeiros trechos de trilha.

A trilha teve início junto ao litoral do deserto, subindo pelas montanhas da pré-cordilheira junto à costa chilena. Logo no início o gigantesco comboio tem que parar esvaziar os pneus dos carros e ter um melhor desempenho nas dunas. Seguimos todos por um trecho de pequenas montanhas e areia dura.

Participantes são livres para escolher o caminho

No Raid Atacama as trilhas são apenas trechos de passeio, o desafio é pessoal de cada um em conseguir vencer os difíceis obstáculos. Sendo assim o controle da organização não é forte sobre os participantes que ficam livres para decidir o caminho em meio ao grupo. Os guias da organização apenas indicam as direções e as opções de trilhas aos participantes que escolhem e decidem por onde seguir.

Logo que os comboios atingem as primeiras grandes dunas do Atacama, fica claro que existem muitos caminhos no deserto e as vezes nenhum deles é simples. Na primeira grande duna de areia fofa, com mais de 50 metros de altura, na região conhecida como Cerro Caracoles é impossível não lembrar das tradicionais cenas do Paris-Dakar, com carros e motos atolados em gigantescas dunas.

A cena se repete no Raid Atacama. Carros 4×4 de todos os tipos tentam sem sucesso chegar até a crista da duna com força suficiente para atravessar ao outro lado, a maioria não consegue na primeira investida e tem que retornar para baixo e tentar novo impulso. E o pior ainda estava por vir.

Vencida a primeira grande duna, o comboio entrou em uma região a mais de 800 metros acima do nível do mar, também repleta de dunas. Montanhas com mais de 60 metros de alturas formadas por pura areia fofa. Uma região onde todos os caminhos são difíceis e por vezes parece não haver saída.

Bem ali, no meio do mar de dunas, o carro de imprensa se prendeu em um buraco e o pneu dianteiro direito se soltou da roda. É assustador ver a roda, sem pneu, completamente atolada na duna. Após alguns minutos trabalhando no macaco hidráulico e com a pressão das rodas conseguimos colocar o carro novamente em movimento. O que não percebemos foi que no momento em que remontamos o pneu na roda boa, parte da areia em que ele se atolou ficou dentro do pneu.

O resultado não podia ser pior, poucos minutos depois o pneu novamente se desprendia da roda, e desta vez em um lugar onde nosso macaco simples não tinha apoio para levantar o carro. Foi necessário esperar ajuda de um carro-guia da organização com um macaco com melhor apoio. Foram necessárias quase duas horas para se remontar o pneu.

Noite – O sol já próximo do horizonte cheio de dunas avisava que teríamos que enfrentar a noite ali no meio do mar de dunas. No verão do Atacama a luz do se acaba por volta das 21:30 da noite. Seguimos mais 300 metros com e mais uma vez um buraco, mais uma vez o pneu sai do lugar. A impressão era de que teríamos que passar a noite ali, no meio do deserto, no meio das dunas. É quando aparece o carro de Patrízio Nuñes, organizador do Raid Atacama. Junto a ele outros cinco veículos da organização fechando a trilha e ajudando problemáticos como nós.

Com ajuda da equipe de resgate da organização conseguimos trocar o pneu já sem luz natural. É impossível não lembrar das cenas de ralis como Paris-Dakar, ou Master Rally quando competidores passam a noite no deserto tentando se livrar das dunas. O Raid Atacama não tem competição, mas também não é um desafio simples.

Finalmente as 22h30min conseguimos voltar a andar. Junto aos carros da organização descemos para rumo a uma estrada de terra usada por mineiros do deserto rumo ao acampamento-base. No meio da estrada uma parada para um último café do dia que alguém conseguiu fazer com fogareiros improvisados. Sujos, cansados, porém felizes após um dia desafiando as dunas do Atacama. E pensar que me avisaram que este seria o dia mais simples. Como será o pior?

Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur