Dados preliminares indicam que a Amazônia continuou perdendo áreas de floresta para pastos, exploração predatória de madeira e plantio de soja, entre agosto de 2002 e agosto de 2003. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ainda não concluiu o levantamento, mas informalmente já comunicou ao Ministério do Meio Ambiente que a taxa de desmatamento está próxima dos 25.476 quilômetros quadrados registrados entre 2001/2002. Uma área semelhante à do Estado de Alagoas e a segunda maior perda já registrada.
Este é o primeiro indicador de desmatamento no governo Luiz Inácio Lula da Silva. A notícia não é boa. A taxa se aproxima do recorde de desmatamento de 29.059 quilômetros quadrados, registrados entre 1994/95. O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, reconhece que o índice continua “altíssimo”. Mas diz que o desmatamento vinha apresentando uma “curva ascendente rigorosa” desde 1997, quadro que não se pode reverter de imediato.
No ano passado, ao anunciar o índice que ainda refletia a atuação do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), decidiu-se criar um grupo com participação de 11 ministros para discutir medidas que revertam as altas taxas. As medidas iniciais não foram suficientes para mudar esta tendência.
Sistema de alerta – Ainda este mês, entretanto, deverá entrar em operação o Sistema de Alerta Desmatamento, que facilitará o combate ao problema no País. “Teremos informação em tempo quase real”, informou Capobianco. Imagens de satélite captadas em intervalos menores fornecerão dados mensais, permitindo o deslocamento de fiscais para a área a tempo de impedir a derrubada de árvores. Pelo atual sistema, a informação é anual, quando o desmatamento já ocorreu.
O sistema de alerta é uma das medidas que o grupo interministerial anunciará até o fim do mês para frear o desmatamento na Amazônia. O pacote inclui fiscalização mais rigorosa e estímulos para mudar o processo econômico na região. Entre eles, créditos especiais, programas de desenvolvimento e investimentos públicos. “Queremos reverter o desmatamento de forma permanente”.
Polícia e política – Para Arnaldo Carneiro, coordenador de Pesquisas em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o sistema de alerta dará uma boa ajuda no controle do desmatamento, mas não será suficiente. “O problema só começará a ser resolvido quando houver maior repressão”, diz. “Desmatamento ilegal é caso de polícia. Mas isso só também não basta. É preciso definir uma política para a Amazônia.”
Quanto aos números, Carneiro acha que eles estão subestimados. “Quem trabalha no campo na Amazônia sabe que serão maiores”, diz. “A soja está chegando e empurrando a fronteira agrícola para áreas de floresta. E o pior é que isso é feito com financiamento do Banco do Brasil, que, no fundo, está patrocinando o desmatamento.”
Este texto foi escrito por: Webventure