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Entenda melhor a relação entre o dexametasona e o mal de atitude

Redação Webventure/ Aventura, Aventura brasil, Montanhismo, Saúde

Como já é sabido por todos, o ar rarefeito pode causar uma série de problemas de saúde para os praticantes de escalada em alta montanha. E é exatamente por isso que todo cuidado é ainda muito pouco para se fazer uma correta aclimatação, que nada mais é do que um processo fisiológico no qual o organismo humano se adapta aos efeitos da altitude.

O mal de montanha

Neste período, é importante observar o organismo, que está sob os efeitos da hipoxia (diminuição da quantidade de oxigênio). Com uma observação sutil, antenada, você sabe que está sob os efeitos da hipoxia e, portanto, todos os sintomas são importantes não para imobilizá-lo, mas para você saber quando estará em ordem para continuar a subida aos pontos mais altos. Sentir-se bem, ter bom apetite, urina abundante e clara são alguns sintomas de que você pode estar bem aclimatado. É um processo relativamente lento, variando em tempo de indivíduo para indivíduo. Mas, à medida que vai continuando a subida, este processo torna-se parcial e gradativamente menor.

Em geral, os acidentes em alta montanha acontecem ou por um grande imprevisto, e neste caso não há muito o que fazer, ou por imperícia, ou por imprudência, como foi o caso do filme, quando os três alpinistas insistiram na escalada mesmo com o mau tempo chegando. Muitas vezes, as pessoas, pressionadas por um modo de vida em que acreditam que uma melhor performance pode ser induzida por medicamentos, acabam mascarando sintomas e forçando a aclimatação. Inicialmente, sob efeito de medicamentos, pode haver melhora e, depois, na parte superior da montanha, os sintomas que ele não prestou atenção reaparecem sob a forma de, por exemplo, edema cerebral de altitude.

Um edema cerebral de altitude se caracteriza por alguns sintomas do tipo de severa dor de cabeça que não passa com analgésicos normais, náusea ou vômito persistentes, tontura, perda de coordenação motora, dupla visão ou visão borrada, confusão mental, etc.

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O dexametasona é um corticóide poderosíssimo que age em edema cerebral, “desinchando” o cérebro. Mas, atenção, o tratamento não é tomar, via oral, ou injetar dexa. O tratamento é descer para altitudes mais baixas, onde o problema rapidamente desaparece. O dexa é uma opção drástica para situações onde o risco de vida é altíssimo e o único tratamento é descer. Acontece que, em alta montanha, é muito difícil que alguém carregue outra pessoa. Por isso, ou ela vai andando ou será muito difícil descê-la. Se ela apresentar os sintomas de edema cerebral, você poderá fazer uso do dexa para lhe dar condições de descida.

Também não dá para se pensar que uma pessoa que necessite deste medicamento vá aplicar ela mesma uma injeção para ter condições de descida. Acima de oito mil metros de altitude, se aparece um edema desse tipo, a confusão mental pode ser grande e esperar que ela consiga injetar o medicamento de forma adequada é demais – é coisa de filme. Com os alpinistas normais, o bom é que essa aplicação seja orientada por um médico da equipe ou alguém mais experimentado.

Melhor seria ter um cilindro de oxigênio para ministrar à pessoa doente e fazê-la descer imediatamente. O uso de oxigênio, neste caso de emergência, não tem efeitos colaterais ruins para o organismo do socorrido. Porém, como o ser humano ainda não se educou o suficiente, após o uso ele deixa o cilindro jogado em qualquer lugar da alta montanha. Aí o efeito colateral torna-se forte pelo impacto causado na natureza.

Por isso, moçada, nada de achar que é só colocar uma caixinha de dexa na mochila, subir tomando o Diamox para aclimatar-se rapidinho e, se pintar algum problema, abrir a caixa de dexa, mandar e “tá safo”. Até porque este medicamento deve ser usado apenas nos casos de risco sério de vida e por um curto período de tempo, pois é bem capaz de, como efeito colateral, abrir um grande rombo no seu estômago.

Prevenir é melhor

A incidência de edema cerebral de altitude em pessoas que caminham ou escalam em altitudes acima de 3.500 m é de aproximadamente 1%. Não se justificando, portanto, a existência quase doentia desse medicamento na mochila de todos os alpinistas do filme.

Na verdade, o melhor é ir se observando para que não se chegue a isso. Se você, em alta montanha, quando sobe a um novo local de acampamento, tiver dificuldades para montar sua barraca, não conseguir trocar suas meias por um par que esteja seco, se não estiver disposto a preparar água ou comida e se não conseguir dormir bem, o melhor mesmo é descer tão rápido quanto você possa. E recomeçar a subida, quando estiver melhor.

Para além dessas considerações, quero deixar bem claro que não somos, eu e o Paulo (Coelho, marido de Helena e também alpinista), adeptos de uso de medicamentos para apressar a aclimatação, nem do uso de medicamentos para induzir o sono, etc, etc. Não pensamos que o uso do dexa seja panacéia para todos os males. Somos adeptos de aclimatação com trabalho de subida e descida de trechos da montanha, carregando todo o material, procurando caminhos, estabelecendo seu tempo, conhecendo melhor a montanha e nós mesmos. Afinal, escalar uma montanha dopado não vale tanto quanto escalá-la, vencendo as dificuldades a cada momento.

Não somos médicos e nem entendemos muito da área, mas conversamos um bocado com Eduardo Vinhaes, médico e montanhista, participante da primeira expedição brasileira ao Everest e membro correspondente da Comissão Médica da UIAA (entidade internacional que congrega Associações de Alpinismo). Esta coluna é um pouco resultado de uma dessas conversas.

Este texto foi escrito por: Helena Coelho

Last modified: fevereiro 2, 2018

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