Comida a bordo de um dos VO70 do Team ABN Amro (foto: Divulgação)
Direto de Sanxenxo, Espanha – Nunca estivemos tão cercados pela tecnologia como nesse começo de século 21. A ciência aplicada ao nosso dia-a-dia tomou uma posição importantíssima e cada vez maior na maneira como fazemos nossos trabalhamos, estudamos nossas lições, interagimos com o mundo inteiro, nos divertimos sempre que possível, tratamos dos nossos males e aproveitamos os esportes.
Os esportes, por sua vez, também mudaram muito para acompanhar os avanços que a tecnologia tornou possíveis e a vela não ficou atrás. Do aumento das performances à interação possível para os fãs, toda uma atitude inteiramente nova se firmou com o resultado imediato de uma difusão maior da evla para uma audiência mais ampla.
Ao mesmo tempo os velejadores continuam a dar as boas vindas aos confortos relativos que a tecnologia trás para o seu mundo. Um mundo conhecido que sempre foi por seu perfil realista de desafio e confronto às extremas condições dos mares.
Seb Josse o skipper do ABN AMRO TWO na edição 2005-2006 da Volvo Ocean Race tem um ponto de vista bem claro sobre como é a vida a bordo cercada por tecnologia.
O tempo e os barcos – “Hoje”, começa Seb, também um navegador como todo velejador em solitário precisa ser, “não vou falar sobre a previsão do tempo e trodas as informações que a VOR vai mandar para os navegadores dos barcos para que eles encontrem, por exemplo, o melhor caminho para passar pelas calmarias da Zona de Convergência Inter Tropical. Mesmo sendo esse um campo que me fascina e impressiona constantemente pela qualidade e precisão a que chegaram, graças às informações dsiponíveis dos satélites e dos postos meteorológicos.” e ele continua com a certeza de alguém que conhece o assunto, já que participou da edição 2004-2005 da Vendée Globe, terminando em 5º lugar depois de 93 dias de uma viagem de volta ao mundo solo e sem parada, em um barco já com 5 anos de idade.
“Hoje também não vou falar dos avanços feitos aos barcos com o uso de materiais compostos que tornam possível a materialização de novas idéias ou a melhoria de projetos ou soluções conhecidas como a quilha basculante, por exemplo. Hoje vou falar da tecnologia como um tripulante extra no que diz respeito ao conforto e ao bem estar dos velejadores.
Comidas e bebidas – Para um francês, nascido no sul e transferido para o norte para seguir a sua carreira na vela, a comida faz parte da cultura. Respeitada e tratadas com especial atenção e interesse por toda a nação, mas que é um assunto muito delicado a bordo dos barcos de competição devido ao espaço de armazenagem que ocupa e ao ritual de preparação que exige.
As comidas liofilizadas foram a solução para a falta de espaço, mas no quesito gosto estava muito atrás do que todo mundo esperava, ainda mais se você teve uma correta educação francesa. “Apenas 5 anos atrás” explica Seb, “a comida liofilizada não tinha gosto ou consistência, era um pesadelo. Hoje já houve uma melhora muito grande e alguns dos pratos são bastante bons, diria mesmo que são surpreendentemente bons”.
Mesmo com essa sua nova fase de aparência e gosto no entanto, a comida liofilizada combinada com a água dessalinizada usada na sua preparação, ainda é deficiente em algumas vitaminas e sais minerais qu são essenciais para corpo e mente. Isso não chega a ser um problema já que essa deficiência pode ser compensada por complexos encontrados em bebidas especiais que as tripulações têm a bordo. “Não bebemos apenas água, temos também bebidas muito saborosas e completas que ajudam a manter as necessidades nutricionais durante longos períodos no mar.”
Com que roupa eu vou? – Já vão longe os dias do estereótipo do homem do mar usando pesadas botas de borracha, casaco volumoso de lona dita impermeável, cachecol de lã e garrafa de rum na mão. Os velejadores modernos são provavelmente os primeiros a surfar a onda da tecnologia dos produtos sintéticos que têm funções múltiplas. Uma onda, podemos dizer, causada por eles mesmos que a cad vez que voltam de suas aventuras no mar despejam uma quantidade constante de informações e necessidades.
A tecnologia entrou em cena e as empresas desenvolveram uma série de novas fibras e polímeros usados para criar roupas que vestem melhor e têm melhor performance para atletas do mar que se exigem cada vez mais eficientes. Gore-Te, uma membrana unidirecional usada entre camadas de outros tecidos sintéticos, foi “inventada” 20 e poucos anos atrás e virou de ponta cabeça o mercado de alta performance sob condições extremas. Com a possibilidade que tem de deixar que a transpiração saia sem deixar que vento e água entrem, rapidamente se transformou na escolha certa quando o que se busca é deixar que os velejadores aproveitem todas as aventuras no mar não importam quais sejam as condições.
“O micro clima em um barco a vela de competição é muito especial, variável e precisa ser preservado para que os velejadores tenham a performance adequada.” é a visão que tem Seb Josse. “As diferenças de temperatura entre o dia e a noite são enormes, muito maiores do que aquelas que temos em terra firme e, depois, temos que ter liberdade de movimentos para poder trabalhar direito. Essas roupas, luvas e botas que são dry fit e tudo mais são imprescindíveis quando estamos fazendo aquilo que mais gostamos que é velejar rápido em qualquer hora ou condição.” ele terminou sorrindo antes de sair para o seu reino diário de bicicleta, como um bom fanático do Tour de France que é.
Este texto foi escrito por: Sebastien Josse, comandante do ABN AMRO 2