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Diário 2 de Torben Grael: Baleias e calmarias

O Bicampeão olímpico Torben Grael agora é comandante do Brasil 1, o primeiro veleiro construído no Brasil a disputar a Volvo Ocean Race. Grael é o líder de uma equipe de feras da vela brasileira e internacional que irá dar a volta ao mundo pela competição. O Brasil 1 saiu no dia 20 de agosto para Portugal, local que servirá de base da equipe até a largada em novembro. No caminho e durante toda a preparação e competição, o comandante escreve o diário que você acompanha a seguir:

Olá, pessoal.

Ontem foi um dia cheio de acontecimentos. Atravessamos os Doldrums, as calmarias equatoriais, com algum calor e calmaria, mas sem grandes problemas.

Ao anoitecer, Marcelo acabara de fazer o jantar e o resto da tripulação preparava o barco para uma zona de baixa pressão com possibilidade de ventos de 35 a 40 nós, com pancadas de chuva. O barco andava a 10 nós, eu acabara de assumir o leme, quando senti um leve toque levantando a proa, seguido de uma brusca colisão.

Já havia sentido essa sensação no passado, nas eliminatórias para as Olimpíadas de Los Angeles, há 21 anos. Na época, encalhamos no meio do mar.

Olhei para o lado e vi uma baleia a 30 metros. No mesmo instante, do outro lado (a barlavento), e bem juntinho ao Brasil 1, ouviu-se um urro e a baleia atingida apareceu, contorcendo-se. Acho que ela estava dormindo e foi acordada por nossa proa, seguida de uma bordoada com a quilha.

A bordo, a outra vitima: nosso Dr. Joca, que na súbita parada (de 10 para 1,8 nós), bateu com as costelas na cozinha e está sob observação, com dores. Só não sei se piores do que a pobre baleia.

Todos a bordo, refeitos do susto, ficamos tristes, pois desde o segundo dia temos curtido a presença de inúmeros animais como esse (embora não os víssemos desde a partida de Noronha).

Depois de uma minuciosa inspeção, parece que o Brasil 1 nada sofreu. Voltamos aos poucos a acelerar o barco, que agora anda de 12 a 15 nós com o balão. Joca está aqui ao meu lado, repousando, ainda com muitas dores, apesar dos sedativos. Acho que ele parece um pouco melhor.

Amanhã saberemos melhor se houve uma fratura na costela ou não. Estamos todos torcendo por sua recuperação. E da baleia também. Ao final, creio que tivemos sorte de não estar em grande velocidade, caso contrário, poderia ter sido muito pior para todos.

Bons Ventos,
Torben Grael

Este texto foi escrito por: Torben Grael, comandante do Brasil 1