Roberta Borsari em treino no litoral norte de São Paulo (foto: Divulgação)
Roberta Borsari está na Costa Rica competindo no Mundial de Kayaksurf. Em seu último diário, a atleta brasileira escreve um balanço geral da sua participação na competição.
Direto da Costa Rica – Agora é domingo à noite e acabei de sair da festa de encerramento e premiação, que mais uma vez foi a cara da Costa Rica, uma grande festa! Churrasco, homenagens, muitos discursos, brincadeiras, presentes e por aí afora.
Neste fim de semana aconteceram todas as finais, tivemos boas ondas (não muito grandes) e muito sol. Encerramos nossa participação no evento nas provas de time, o que para nós não é significativo, pois na realidade não temos um time, para os americanos e europeus é a prova mais importante.
Apenas os atletas mais qualificados em seus países participam desta prova e a torcida em cada bateria é tão grande que vemos como ela é valorizada. Americanos e europeus já estão há duas décadas neste esporte, são profissionais, tem um grande número de atletas e muitas competições e festivais durante o ano. Nesta hora percebo como há um enorme abismo entre a nossa realidade e a deles.
Férias – Ainda vou ficar mais alguns dias aqui na Costa Rica, porque este lugar é muito especial, tem uma vibração da natureza muito forte e tenho que aproveitar ao máximo, pois depois volto à minha rotina. O mais importante de tudo é que a cada viagem que fazemos, temos muitas lições de vida, fazemos amigos e conhecemos lugares incríveis.
Para mim esta viagem foi muito especial, saio com a sensação de missão cumprida, apesar de saber que poderia ter ido mais longe. Mas agora sei que apesar de todas as dificuldades que tenho em meu país, que vai desde morar numa cidade sem praia, não viver para o esporte, não ter absolutamente nenhum incentivo do governo (apesar de ser um nome expressivo do esporte), não ter condições de ter um caiaque de ponta fabricado no Brasil a um preço viável, não ter campeonatos brasileiros para que possa ter treino de competições, não ter condições financeiras de participar de outras provas internacionais para ter uma evolução mais rápida, e outras coisas mais, ainda assim me sinto vitoriosa, sei que estou entre as melhores do mundo.
Aprendemos a dividir o pouco que temos. Estou muito feliz em deixar um dos meus caiaques com o Matt, um garoto sensacional de 13 anos, que mora na Costa Rica há dois, depois de sair fugido com seus pais do Zimbábue por motivos políticos.
Dominic, seu pai, era safetykayak no Zambezi, o rio mais forte, mais perigoso e mais sensacional do mundo, é o Hawaii dos rios. Matt é alucinado por kayak, com 13 anos já desceu o Zambezi de kayak e foi o garoto mais jovem do mundo a fazer um bungee jump de três mil metros na Victoria Falls, com apenas oito anos. Desde que veio para a Costa Rica não andou mais de kayak, já que não pôde trazer o seu.
Quando nos conhecemos em Hermossa, Matt pegava onda de prancha e Dominic o fotografava, o moleque pirou em mim e no caiaque, queria saber de tudo….
Saio daqui com algumas centenas de fotos de onda tirada pelo Dominc em troca do caiaque, e uma feliz sensação de que Matt vai arrebentar no kayaksurf daqui a alguns anos, será um grande nome do esporte e eu contribuí para isso. Essa é só uma historia entre muitas que vivi aqui.
Balanço final – Do campeonato saí feliz, pois me senti reconhecida pelo meu surf. Maurício e eu nos instalamos na praia Hermossa, ao lado da praia da competição. Nela surfamos absolutamente todos os dias e apenas nós e os espanhóis surfaram nesta praia, considerada muito perigosa pelos americanos, que preferiram fazer a competição na praia Esterillos Oeste, com boas ondas também, mas não tão cavada e forte.
Não posso deixar de terminar meu ultimo texto agradecendo a todos que me ajudaram e ajudam sempre para que eu possa batalhar pelos meus sonhos.
Ao UOL que viabilizou a minha viagem e me deu todas as condições para participar deste campeonato. Aos meus amigos do UOL, sempre me incentivando, aos meus apoiadores Tribo dos Pés, Adventure Gears, Hidro 2, Formula Academia e Aquabound, que estão sempre por trás dando o suporte para que eu continue praticando e treinando cada vez mais, com excelentes produtos, roupas e equipamentos, que não devem nada ao primeiro mundo, além de suporte financeiro. Ao Webventure, Cris e Daniel, sempre profissionalíssimos, com uma equipe surpreendente, ao qual tenho muito carinho há muitos anos, aos meus amigos e família que conseguem entender e incentivar esta maluca por kayaks, e principalmente ao meu irmão Maurício, na minha opinião o melhor do mundo no kayaksurf e uma pessoa muito especial na minha vida, pois tenho o privilegio de tê-lo como irmão. Tudo que sei do kayaksurf foi ele quem me ensinou e se hoje me sinto vitoriosa, devo isso a ele!
É isso, acreditem sempre em seus sonhos, façam de tudo para realizá-los, pois a vida passa rápido e se acomodar não leva ninguém a lugar algum!!!
Abaixo segue a classificação final:
Masculino Open – individual
1 – Irlanda
2 – Inglaterra
3 – Inglaterra
Feminino Open – individual
1 – EUA EAST
2 – EUA WEST
3 – Escócia
Times
1 – EUA EAST
2 – Irlanda
3 – Inglaterra
Obrigado a todos e grande beijo!!!!
PURA VIDA!!!!
Bebeta
Este texto foi escrito por: Roberta Borsari, atleta brasileira no mundial de kayaksurf