O experiente irlandês Damian Foxall conta sobre a rotina dos tripulantes na viagem do Brasil 1 até Cascais, em Portugal. Nesse diário, o timoneiro e regulador de velas fala o que fazem nos tempos de descanso e sobre o cardápio a bordo
Olá, amigos.
Continuamos velejando no contravento nessa viagem de classificação do Brasil 1. Tudo corre bem e nosso objetivo é estipular o ritmo ideal de velejada e quais são as áreas mais frágeis do barco. Todo veleiro tem algum componente que pode quebrar depois de algum tempo. E é esse tipo de problema que, se prevenido, pode fazer a diferença no final de uma perna, quando tudo no barco já começa a dar sinais de desgaste.
Estamos a 1300 milhas (2418 km) de Cascais (coordenadas 22 43 norte e 26 34 oeste), com o vento batendo em nossos rostos. Hoje, fora alguns reparos sem importância, tudo parece estar muito bem nesse puro-sangue que acabou de deixar os estábulos.
Enquanto estamos no mar, a equipe de terra já termina a primeira mudança das muitas programadas para os próximos meses. Com a travessia, todo o material de trabalho que estava no Rio segue para Portugal, onde faremos os últimos ajustes antes da largada da Volvo, em novembro. Como se fosse a primeira perna da regata! A logística é complicada, afinal, transportar oficinas e escritórios do Rio até Cascais, além de encontrar acomodações para os membros da equipe não é fácil. Quando o trabalho é bem feito, ganhamos preciosos dias extras a cada etapa. Da nossa parte, somos privilegiados por ter uma equipe tão experiente nos esperando. A tripulação está ansiosa para chegar a nossa nova base, na costa de Portugal.
A vida a bordo chegou a uma boa rotina: velejamos, trabalhamos, comemos e dormimos, basicamente. Como todos os aspectos da viagem estão sendo testados, a comida não podia ficar de lado. Os pratos são os mais variados possíveis, assim teremos um grande leque de opções para escolher o que vamos comer na volta ao mundo. Os favoritos são colocados no topo da lista de pedidos. Um exemplo é o cordeiro assado com legumes e batata. Um sucesso, mesmo que, em circunstâncias normais, nem mesmo um cachorro apreciasse seu sabor.
Nosso tempo livre é consumido, em sua maioria, por listas do que fazer. No resto do tempo, grande parte da tripulação está melhorando seu desempenho em línguas estrangeiras. Chuny está trabalhando intensamente em seu inglês e eu e Stu estamos arranhando o português. Quem não faz isso, lê. Martin tem um bom livro e Adrienne estuda meteorologia. Ela nos mantém atualizados sobre áreas de convecção, taxas de mudança das variáveis climáticas ou coisas assim. Quem não entende, não está interessado ou não trouxe nada para ler (como é o caso da maioria de nós), se diverte com os rótulos das embalagens de comida.
Até a próxima,
Damian Foxall
Este texto foi escrito por: Damian Foxall, irlandês timoneiro e regulador de velas do Brasil 1
Last modified: setembro 2, 2005
