Diário da Expedição Everest sem Oxigênio - 28 de abril - Webventure

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Diário da Expedição Everest sem Oxigênio – 28 de abril

Redação Webventure/ Montanhismo

Vitor Negrete e Rodrigo Raineri se preparam para voltar ao acampamento base (foto: Arquivo Pessoal)
Vitor Negrete e Rodrigo Raineri se preparam para voltar ao acampamento base (foto: Arquivo Pessoal)

Neste relato de montanha, direto do Everest, o montanhista e colunista do Webventure Vitor Negrete conta como é a rotina em Tingri, no descanso para a escalada ao cume da montanha mais alta do mundo.

Estou tomando café em um lodge em Tingri. Pemba, uma garota tibetana olha para o monitor enquanto digito esta mensagem. Estamos no nosso ultimo dia de descanso, necessário para a aclimatação. Amanha, bem cedo, voltamos para o BC do Everest.

Tingri é uma cidade importante nas rotas comerciais do Tibete. Aqui vemos os clãs dos tibetanos. Tingri é o ponto de partida, ou chegada de uma rota comercial que liga a cidade à Namche Bazaar, no Kumbu – Nepal. Os homens deixam o cabelo crescer e na ponta de uma trança amarram um feixe de linhas de tecido vermelha, que é enrolada na cabeca como um coque, só que bem aberto. Nesta trança eles também colocam um anel de osso e jóias.

Esta estadia em Tingri foi excelente. Nós tivemos tempo para descansar o corpo e a mente. Neste lodge conhecemos um grupo de russos que estão fazendo uma viagem cultural. Eles se intitulam nômades e percorrem diferentes paises, sempre com um interprete, mas sem um roteiro pré fixado. Eles vão decidindo o percurso a medida que viajam e filmam tudo em uma câmera MiniDV. Nossa despedida foi emocionante e recebi deles um amuleto tibetano, que eles receberem de um lama, e dois cds com as viagens deles. Quem sabe eles passam pelo Brasil um dia. Agora estou comendo uma egg-soup, que é uma sopa de omelete cortado em fatias com vegetais e curri, e estou tomando um café preto de saquinho. Esse é o café da manha.

Diferenças culturais – Ontem vimos uma cena inusitada: um comboio de carros de policia, com as sirenes ligadas, seguidos de um caminhão com alguns homens e duas mulheres em pé na caçamba. Estavam com a cabeça abaixada, mãos algemadas e segurados por guardas. Em alguns minutos o mesmo cortejo, mas agora os presos seguiam dentro de um jipe. Mais tarde descobrimos que os homens e mulheres brigaram na noite anterior com facas e por isto passavam pela humilhação publica e depois ficariam presos por algum tempo, talvez por três meses.

No Tibete é muito difícil se comunicar com as pessoas. Elas não falam nada de inglês, absolutamente nada. Fizemos alguns amigos e tentamos nos comunicar por sinais, mas é difícil. Ficamos bastante surpresos em perceber que as pessoas de forma geral nem conhecem o Brasil. A região é dura e podemos ver o rosto das pessoas queimado pelo vento e pelo sol. As mãos de homens e mulheres são duras, grossas pelo trabalho no pó e no frio. O padrão tibetano de construção é bastante diferente. As janelas são decoradas com pequenos parapeitos coloridos. E na fachada o topo dos muros é coberto com lenha e pequenos gravetos. Apesar de tudo, Tingri é um paraíso para nós, onde podemos encontrar quartos duplos, comida saudável, telefone e lojas comerciais.

Este texto foi escrito por: Vitor Negrete, da Try On Expedition 2 no Everest

Last modified: abril 28, 2005

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