Os montanhistas Vitor Negrete e Rodrigo Raineri querem escalar o Everest e fazem um diário de montanha direto do Himalaia, rumo à escalada ao Everest. Confira as novidades.
Estou tomando café da manhã: omelete com batatas dorê, suco de laranja, cereais, suco de manga. Ontem (05/04) deveríamos deixar o hotel com destino ao Tibet, entretanto, como as estradas estão bloqueadas pelos guerrilheiros maoístas vamos esperar até quinta-feira (07/04) para ver se a situação melhora.
Caso os bloqueios continuem vamos voar de helicóptero até a fronteira do Nepal com China e de lá tomamos jipes até o Acampamento Base. Outra possibilidade é a de montar um grande comboio com todas as expedições que vão para o Tibet e solicitar uma escolta do exército até a fronteira. Esta é uma opção bastante provável. A opção do helicóptero é a ultima porque para alugar o helicóptero precisaremos montar um grupo de 21 pessoas.
Com este atraso ganhamos alguns dias em Katmandu. Nestes dias vamos comprar alguns equipamentos extras e enviar vídeos, fotos e textos da expedição para o Brasil.
Proteção – Ontem o Rodrigo conferiu e revisou o gerador de eletricidade e todos os equipamentos necessários para a nossa conexão satelital do Acampamento Base (BC) e do Acampamento Base Avançado (ABC).
Ontem (04/04) fomos receber a bênção de um Lama budista com o sherpa que acompanhará o nosso grupo. A cerimônia foi simples e interessante. Cada um recebeu um colar com uma pequena embalagem de tecido e papel, que foi colocada e amarrada em nosso pescoço enquanto éramos abençoados.
O Lama também abençoou um grande pacote de bandeirinhas de oração tibetanas e incensos, que serão colocadas no Acampamento Base e na montanha pedindo a proteção dos deuses para a nossa escalada. Os sherpas se preocupam bastante com o lado espiritual da expedição e os bons augúrios e bênçãos são muito importantes. Também acredito que exista uma espiritualidade nas montanhas. Um mundo que não vemos com os olhos, mas que esta por lá.
Katmandu é uma cidade bastante turística. Esta é a terceira vez que o Rodrigo está por aqui e a minha segunda: guiamos trekkings para o Everest Base Camp da Face Sul.
Neste ano tanto a cidade quanto o Kumbu nos pareceram bastante vazios. Acredito que a diminuição do número de turistas está relacionada com as ameaças dos guerrilheiros maoístas. Entretanto a situação no trekking do Kumbu está completamente normal. Fiquei bastante surpreso em ver famílias com crianças e grupos de adolescentes percorrendo a trilha. Era algo como grupos que escolheram o trekking como uma viagem escolar.
Em Katmandu também encontramos alguns dos outros alpinistas que vão dividir a estrutura de transporte e do BC e do ABC, na montanha. De fato, eu já vinha trocando e-mails com o Dan, um norte americano bastante simpático e boa gente. Comprei algumas roupas pela Internet, solicitei a entrega no endereço do Dan e ele trouxe tudo para Katmandu. O parceiro do Dan se chama Greg.
Conhecemos também um austríaco, Hans Goger, que tentará escalar a montanha pela segunda vez. Na primeira ele não chegou ao cume. Foi até 7.800m, mas teve que parar devido ao clima ruim e a um acidente com um dos integrantes da expedição. Em algum lugar ente 7.900 e 8.300 metros outro austríaco desapareceu e perdeu a vida. Isto deixou o grupo dele bastante abalado.
Até o momento não encontramos outros alpinistas que vão escalar a montanha sem oxigênio suplementar.
Família – Ontem recebi fotos do aniversário de um ano do meu filho, Leon. Ele ganhou uma barraquinha de camping pequena. Na foto ele estava dentro da barraca com alguns brinquedos e uma girafinha inflável. Uma gracinha! A Marina, minha esposa, contou que ele começa a balbuciar as primeiras palavras. Uma das primeiras que falou foi bola, que para ele é “bah”. Parece que ele vai escolher um esporte mais perigoso que o alpinismo….
Este texto foi escrito por: Vitor Negrete, da Try On Expedition 2 no Everest
Last modified: abril 6, 2005
