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Diário de bordo: reparos e mais reparos no Bravo


Matias consertou o barco para continuar a viagem (foto: Arquivo Pessoal/ Matias Eli)

Minha estadia em Darwin está mais longa do que o previsto. Inicialmente pretendia partir meados de julho, mas tive alguns problemas técnicos e continuo aguardando neste porto ao norte da Austrália.

Para vocês entenderem o que aconteceu, assim que cheguei em Vanuatu detectei uma rachadura no leme, continuei navegando até a Papua Nova Guine e finalmente cheguei em Darwin no início de julho. Aí não teve jeito. Tive que tirar o Bravo da água e fazer o reparo do leme. A pá do leme foi removida, pois apresentava uma “delaminação” muito séria e poderia quebrar a qualquer momento. Isso porque, o leme havia sido “concertado” em Fiji, mas o serviço foi mal feito e teve que ser refeito aqui em Darwin.

Quando percebi que teria que remover o leme, fiquei bem chateado, pois sabia que isso significaria um atraso significativo na viagem, além do custo extra e do trabalho envolvido na retirada desta peça que pesa quase 100 quilos e mede mais de dois metros. Entretanto a remoção do leme foi providencial, pois pude detectar outros problemas associados à transmissão, feita por cabos de aço e roldanas, que poderiam ter me deixado na mão no meio do Oceano Índico. No final das contas foi uma sorte remover o leme. Parece que meu santo está me ajudando!

O barco voltou para água no dia 18 de julho e na navegação de volta da marina para a ancoragem o “chart-ploter” deu problema. Este havia sido trocado por um novo depois do acidente e, portanto, estava na garantia, mas continuo aguardando a chegada de um novo equipamento.

Outro problema foi o alternador que se recusava em carregar as minhas baterias. Um dos “guarda mancebos” quebrados teve que ser trocado, as entradas de ar substituídas, o sistema de “prevent” da mestra reformulado, enfim um mundo de coisas precisou ser ajustado, concertado ou trocado para fazer uma travessia segura do Oceano Índico, onde não vou encontrar porto com a infra necessária para fazer futuras manutenções. O Bravo tem que estar 100%, pois daqui para frente só poderei encontrar novas peças na África do Sul.

Sequência da viagem – Minha próxima escala é nas ilhas Cocos Kelling. Vai ser uma navegação longa e que deve durar uns 14 dias. Depois mais 10 dias para Chagos e por fim outros 10 dias até chagar em Madagascar.

Enquanto aguardava a chegada do “chart ploter” aproveitei para conhecer Kakadu, que é uma grande extensão de terras que o governo australiano reconheceu como terras dos aborígenes.

Kakadu é um parque, espécie de reserva, onde é possível fazer caminhadas, conhecer as cachoeiras e grandes cânions. A vida selvagem é fantástica e os crocodilos de água salgada chegam a medir seis metros e comem qualquer coisa, até mesmo outros crocodilos. São muito agressivos rápidos e perigosos. Após a proibição da caça destes animais a população destes gigantes canibais cresceu muito e por este motivo as restrições do parque são muito severas. Só se pode acampar em áreas determinadas e as beiradas dos rios, que cortam o parque, devem ser evitadas. Além dos crocodilos, habitam no parque os walabies (pequenos cangurus) e vários tipos de pássaros.

Os aborígenes habitam aquelas terras a mais de 40.000 anos e dá impressão que não mudaram muito desde então. Vivem da caça e da coleta de frutos e sua cultura é passada de geração para geração de forma verbal. Nas cidades vivem de forma marginalizada, muitos se recusam em colocar os filhos na escola preferindo ensinar as crianças através de pinturas que fazem nas paredes (algumas delas tem mais de 4.000 anos) e através de varias histórias.

Apesar dos passeios e da nova cultura e estou impaciente de esperar as coisas ficarem prontas aqui em Darwin e não vejo a hora de me lançar novamente ao mar. Dou notícias quando estiver pronto para partir!

Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure