Matias parte com destino a Papoua Nova Guiné (foto: Arquivo Pessoal/ Matias Eli)
Depois da cerveja com os amigos, assim que cheguei ao barco observei que as baterias não estavam carregando. E olha que o alternador havia passado pelo service pouco antes. Por causa da falta de energia a bordo, fui obrigado a cancelar as férias e voltar ao trabalho antes da minha partida para Vanuatu. Nesse curto período, tive tempo de testar velas, calibrar os instrumentos de navegação e relaxar por dois dias em companhia do Philip e da Fai, um casal de 30 anos que conheci na marina.
Eles foram contratados pelo dono do barco como únicos tripulantes de um veleiro clássico de 65 pés muito bonito. O dono quase nunca esta e eles vivem no barco, o transportam de uma ilha para a outra e efetuam, ou administram a manutenção e limpeza do barco. E ainda ganham em torno de três mil euros cada um, sem nenhum gasto, pois todos os custos, inclusive comida, são pagos pelos proprietários.
Volto para a marina e alguns dias depois de retomar os trabalhos no barco ligo para o Steel, um amigo que conheci nas ilhas Galápagos e que mora em Fiji. Ele veio me buscar num pequeno barco a motor. A idéia era seguir de barco até Nandi, uma cidade próxima de Vuda, onde o Bravo estava parado desde outubro do ano passado. Passamos em frente do local do acidente, e confesso que me deu arrepios. Alguns segundos depois de passar o local, BUM! Não é que o Steel meu amigo (que mora em Fiji) também enfia o barco no recife! Inacreditável! Por sorte não foi nada grave, pois estávamos bem devagar e o barco era pequeno e leve. Bem feito! Quem mandou não acreditar em bruxas, disse o Tonni com sua camisa florida.
Agora sim estava tudo pronto! Fiz as compras, dei uma saída no porto e cumpri com os tramites imigratórios. No dia seguinte bem cedo sai de Vuda! Os meus amigos italianos, Massimo e Fabio, tocaram a corneta em sinal de despedida. O Bravo atravessou o canal e se dirigiu novamente para mar aberto.
Os avanços – Durante o primeiro dia avancei contra o vento e um mar com ondas de até quatro metros bate no costado, tornando a navegação mexida e bastante desconfortável. Fiquei um pouco mareado no primeiro dia, mas no segundo dia já estava acostumado ao balanço do mar. Continuo com problemas para carregar as baterias utilizando o motor. Mas por sorte o sol e o vento mantêm minhas baterias em dia. Antes da chegada pesquei o meu primeiro peixe, um dourado de quase um metro.
Depois de três dias e meio cheguei em Vanuatu. Já passava da meia noite e novamente me encontrei frente a frente com uma passagem entre recifes que deveria me levar para dentro do porto. Estava quase desistindo e voltando para mar aberto para esperar o sol nascer, quando vi as luzes de sinalização da entrada do canal, tomei o risco e com o coração na boca entrei no porto sem maiores inconvenientes.
Agora estou em Port Vila. O local é fantástico. Aqui o povo é malaio e meus primeiros amigos foram o eletricista Rod, um gigante australiano de quase 2 metros de altura e praticamente cego, e o taxista Michael, um pigmeu de não mais do que 1 metro e meio de altura que ficou tão feliz em conhecer o Bravo que não me cobra as corridas. Subi no carro e meu motorista pigmeu me levou para comprar algumas peças que precisava repor no barco. Ao chegar na loja o vendedor (que devia ser australiano) me viu ao lado do Michael e brincou “seu guarda costa?” O pigmeu respondeu de forma brilhante: “if you touch him I eat you!” (algo como “se você o tocar eu te devoro!)”.
Na semana que vem chega o meu amigo Carlos Delgado, que trabalhou comigo no banco e que deve me acompanhar até Papua Nova Guine, mas antes de partir devemos explorar um pouco as ilhas ao norte de Port Vila.
Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure
Last modified: junho 11, 2010