Webventure

Diário de Porto 39: A mitologia, a linha do equador e o trote

A qualquer coisa como 3 mil anos atrás, a mitologia grega com a sua criatividade e genialidade povoou céu, terra, mares e mundo subterrâneo de deuses, semi deuses e heróis. O Panteão grego foi intensamente povoado por divindades que assumiam formas humanas e personificavam as forças e as origens, então ainda mais desconhecidas, do Universo.

A coleção de lendas, primeiramente criada e difundida pela tradição oral e poética, recebeu incontáveis transcrições e revisões literárias e um maior número ainda de representações em pinturas e esculturas.

Foi assim que esse acervo cultural encontrou terras férteis e adaptações diversas na civilização romana e se congelou para, preservada em seus detalhes, chegar aos nossos dias com toda a sua alegria e equilíbrio. Ironicamente narrando sistematicamente comportamentos impiedosos, imprevisíveis e impressionantemente humanos.

O Rei Poseidon, mas pode chamar de Rei Netuno.
Entre os deuses maiores vamos encontrar o Posêidon dos gregos (Netuno dos romanos), irmão do deus supremo Zeus (Júpiter para os romanos) e rei dos mares, terremotos, dos cavalos e das águas correntes. Pois Netuno apesar de ser uma reedição de Posêidon tinha um caráter menos violento, mais previsível, conservava porém a figura de um velho forte e barbado, empunhando um tridente, acompanhado por golfinhos e cavalos marinhos.

Em sociedades tão dependentes do mar para o comércio e a comunicação não é de se estranhar que Posêidon/Netuno tenha sido um deus ainda mais importante (basta ver o seu papel principal na Odisséia de Homero) que o próprio Zeus/Júpiter. Capaz de criar ilhas e mares calmos com a mesma facilidade que criava maremotos, afogava gente e afundava navios, dependendo de seu humor.

Nada de anormal em quem, quando pequeno, fora devorado, junto com seus irmãos e irmãs, pelo próprio pai Cronos e regurgitado por interferência do irmão Zeus/Júpiter, único que tinha sido originalmente poupado. Nada de se espantar vindo de quem teve 32 filhos e filhas (entre eles Pégaso o cavalo alado!) com 24 mulheres diferentes e mais 10 filhos de mães não assinaladas.

No ultimo boletim das 11 horas da manhã (horário de Brasília) de 4ª feira, dia 22 de junho, o ABN AMRO VO60 estava exatamente no ponto determinado pelas coordenadas de Latitude 0º 42’88”N e 1º 25’24”O, a apenas 860 milhas da chegada em Point Noire no Congo, com uma vantagem de 261.10 milhas sobre o 2º colocado e progredindo a uma velocidade de 8.8 nós.

Faltava bem menos, porém, apenas algumas horas, para atravessar a linha do equador, conhecido local de encontro com o Rei Netuno para aqueles que a cruzam pela primeira vez. É esse o caso de 10 entre os 12 tripulantes do ABN AMRO VO60 e diz a tradição (bem mais recente do que a mitologia) que devem passar por um ritual de batismo em honra e homenagem ao poderoso e simpático personagem.

Nada mais do que o conhecido trote tão comum para aqueles que passam nos vestibulares. Como bem já disse Camões “os reis têm braços compridos, vão as leis onde querem os reis”, então a alternativa dos 10 velejadores, entre eles Lucas Brun e André Mirsky, é de se sujeitaram e aparecerem no Congo com cortes de cabelo de estilos variados e nada ortodoxos. É esperar para ver. E rir.

Este texto foi escrito por: Carlos Lua, correspondente do Team ABN Amro