Foto: Pixabay

Diário de Porto 50: Diferenças visíveis, estratégias invisíveis

Redação Webventure/ Vela

Team ABN AMRO treina na Espanha (foto: Divulgação/ Team ABN AMRO)
Team ABN AMRO treina na Espanha (foto: Divulgação/ Team ABN AMRO)

Direto de Sanxenxo (Espanha) – Olhando de fora existem algumas diferenças fáceis de notar entre os Volvo 70 inscritos para a Volvo Ocean Race. As mais evidentes, além é claro das cores dos barcos e das decorações de seus patrocinadores, ficam por conta dos lemes e dos coffee-griders, aquelas grandes manivelas no convés que servem para levantar e regular as velas.

É que, em princípio, são três os projetistas que têm os seus projetos disputando a mais dura prova de oceano que existe, o verdadeiro Campeonato de Vela que é a VOR. O mais procurado foi o escritório do neozelandês Bruce Farr que fica baseado em Annapolis nos Estados Unidos. Brasil 1, Ericsson, Telefônica e Piratas do Caribe escolheram o escritório da Farr Designs para preparas os projetos de seus barcos.

A escolha é, em princípio, aquela que na teoria traz as maiores possibilidades de vitória já que os projetos do neozelandês venceram todas as Volvo Ocean Race (e as Whitbread Round the World como eram chamadas nas edições de 1985-1986, 1989-1990 e 1993-1994) até agora disputadas. Na oferta, pesquisa, apoio na fase de construção, assistência estratégica e apoio durante a prova.

Primos entre si – Partindo de um barco conceito, foram construídos 4 barcos que são muito parecidos e seguem uma mesma filosofia. Em termos de boca (largura do casco) estão a poucos centímetros um do outro, com o barco mais diferente sendo o Movistar que é mais anguloso na parte da popa. São, basicamente, 4 barcos do que já se convencionou rotular de 1ª Geração de V70, ou melhor o Movistar e o Ericsson são de 1ª Geração enquanto o Brasil 1 e os Piratas poderiam ser considerados de Geração 1,5, já que foram encomendados e construídos depois.

No outro extremo estão os dois barcos do TEAM ABN AMRO, projetados pelo argentino Juan Kouyoumdjian que tem seu escritório em Valência na Espanha. Conhecido por sua criatividade o jovem Juan K como é conhecido, resolveu que uma maior estabilidade era essencial e projetou dois barcos com a máxima boca permitida dentro das regras da VOR.

Com a maior largura vem teoricamente o maior desempenho em ventos fortes e de través em comparação com os barcos Farr que deveriam ter maior desempenho em ventos fracos e de proa. O ABN AMRO 2, construído e colocado antes na água, passa a ser então um V70 de 1ª Geração, enquanto o ABN AMRO 2 é um legítimo, e o único na edição deste ano, V70 de 2ª Geração.

Mas toda essa análise ainda não saiu de fato do papel, já que os barcos ainda não mediram forças um com o outro. Salvo os testes de fato entre os dois ABN AMRO, cujos resultados são mantidos em segredo, os embates entre eles não passaram de elegantes “troca de bolas” e “ensaios de serviços” muito comuns em jogo de tênis ainda por começar.

Como em todos os casos, também a vela é um esporte relativo onde o que vale é a comparação direta em mesmas condições e nos mesmos instantes. Não existe como julgar pelo absoluto que, definitivamente, não existe no dicionário dos esportistas.

Mas afinal, onde estão as diferenças visíveis? – As velas de todos os barcos apresentam diferenças sutis demais para serem percebidas por aqueles que não são versados no assunto. Mas são diferenças reais que serão responsáveis pelas performances que vamos acompanhar com entusiasmo nos próximos 7 meses.

Existem ainda duas diferenças que saltam aos olhos e que fazem os dois barcos, assinados por Juan K, do TEAM ABN AMRO se destacarem imediatamente, o fato de serem os únicos que possuem dois lemes da metade do tamanho e três coffee grinders, contra um leme grande e dois coffee grinders dos barcos Farr. Por que? Pois com dois lemes menores, posicionados nos extremos laterais do casco, é menor o arrasto (quando os barcos, na maioria das vezes, estão navegando adernados) e maior a eficiência hidrodinâmica (funcionam sempre perpendiculares) do que arrasto e eficiência de um grande leme central.

Quanto ao número maior de coffee grinders (aquelas grandes manivelas que comandam o hasteamento e regulagem das velas) a vantagem fica por conta de potência e precisão maiores. O quanto essas pequenas diferenças visíveis, combinadas com as diferentes estratégias invisíveis vão contribuir para o resultado final é a pergunta que todos se fazem e que vamos ter o privilégio de viver em cada detalhe.

Este texto foi escrito por: Carlos Lua, correspondente do Team ABN AMRO

Last modified: outubro 24, 2005

[fbcomments]
Redação Webventure
Redação Webventure