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Diário de um estreante: As surpresas do final

Redação Webventure/ Offroad

Cada dia tem sido desafiador para Paulo Pichini (foto: David Santos Jr/ www.webventure.com.br)
Cada dia tem sido desafiador para Paulo Pichini (foto: David Santos Jr/ www.webventure.com.br)

Ontem foi um dia para marcar minha vida como piloto. Depois de todos estes dias de dedicação e esforço, me senti apto a mais. Sensação boa essa, de que sou capaz de mais do que estou superando. O Dakar existe para nos desafiar, e ele faz isso de diversas formas.

Os dias não são iguais, e mesmo que tenhamos que andar por lugares parecidos, há sempre armadilhas e circunstancias permanentes. Pensávamos, minha equipe e eu, que a 12ª etapa realizada ontem, já não traria maiores dificuldades, mas surpreendentemente foi considerada por muitos a mais difícil da competição.

Larguei e logo percebi que com aquela areia tão fofa e sem ligadura o dia seria “dos bons”! De praxe, administrar temperatura, embreagem e levar o carro na ponta dos dedos, porque esta edição conseguiu consumir mais peças de reposição que o previsto.

Atolar e desatolar era parte do percurso, e difícil mesmo era fugir dos funis que o vento e a areia criam junto às dunas. O carro parece até ser “atraído” para aquele buraco sem saída fácil e que funciona como uma boa armadilha para nos segurar pelo caminho.

O calor faz parte do jogo, e a organização nos avisou que naquela zona específica, bom seria redobrarmos o cuidado com a hidratação. Eu tripliquei, e usei todo o meu estoque. Vou explicar melhor, lidamos com o calor externo, o interno e ainda com o esforço físico sob sol escaldante, e sem vento a cada descida para desatolar o nosso carro.

Paradas vencidas, nosso momento mais crítico foi no km 170. Ao subirmos a duna mais alta do dia, conseguimos “enganchar” nossa Pajero no topo dela. Pneu pra cima e sem tração, o negócio era sair daquela gangorra. Quando desci do carro, me senti afundando e quando olhei pra baixo, meu pé desaparecera naquela areia e parte da canela também! Que sensação ruim! Mas, tudo bem, uma hora e meia depois, obstáculo vencido seguimos pra continuar na batalha.

Fim do dia – Só que, ao chegar ao km 178 demos de cara com a organização da prova, que nos informou o fim da especial para nós, ali, naquele quilômetro, apesar da especial do dia ira até o 253 para as motos e ponteiros. Entendemos então, que a organização optou por cortar a especial para que os amadores e retardatários pudessem completá-la com sucesso. Por outro lado, me sentia apto a continuar, capaz de ir até o fim, ainda que avisado das grandes dificuldades que ainda teríamos que enfrentar.

Conversamos com a organização e solicitamos dar continuidade a nossa prova, mas ela foi irredutível e nos mandou seguir por um caminho alternativo rumo à chegada.

Talvez por isso eu discorde que esta tenha sido a especial mais difícil, talvez se tivesse tido a oportunidade de ir até o fim minha opinião fosse outra. Mas, de fato, acredito que cada etapa trouxe seu grau de dificuldade peculiar. Os dias de fesh fesh, o Atacama e agora as dunas brancas e suas areias de grão fino e sem ligadura nos ofereceram dias inesquecíveis.

O que sei é que, ontem, me senti forte, guerreiro suficiente para encarar aquele mundão de areia e conseguir completar tudo. Mas, ao chegar em La Rioja, e olhar para o parque fechado e compará-lo com o dos primeiros dias, percebo como esta bem mais vazio.

Creio que a organização busca, à sua maneira, promover um rali que seja um marco, mas que trouxe, até mesmo para os seus responsáveis, armadilhas climáticas, dificuldades além do previsto com a passagem de tantos veículos em determinados pontos e situações de extremo cuidado com a segurança de todos. A grande maioria dos competidores que aqui estão, assim como eu, não pretende ficar pelo caminho. Aprendi gradualmente a superar meus limites neste lugar, mas existem outros que para conquistarem seus objetivos vão além dos seus próprios limites. Ser responsável por tudo isso não deve ser fácil, e percebo que a ASO, antes super rígida com suas normas, tem se tornado mais maleável e, parece de fato, estar contando as horas para que cheguemos todos a Buenos Aires.

Quanto a mim, sigo feliz, consciente de que a prova só acaba na bandeirada final. Até lá, não me deixo levar pelas conquistas momentâneas. Alegro-me por cada etapa vencida, mas continuo de olho no alvo: Buenos Aires.

Este texto foi escrito por: Paulo Pichini

Last modified: janeiro 16, 2009

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