Paulo e Lourival comemoram na linha de chegada (foto: Tom Papp/ www.webventure.com.br)
Cruzar a linha de chegada da última especial do Dakar foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Emoção de sobra, felicidade de menino, sonho realizado.
Nos últimos quilômetros, Lourival, meu navegador, gritava: acelera, ta acabando!
Eu pisei tudo, vislumbrando a minha meta chegar rápida, veloz, perfeita. Cruzamos a linha de chegada. Eu gritava feito criança de tanta felicidade. Descemos do carro, abri a bandeira que eu tão cuidadosamente guardará o rali inteiro para aquele momento, e esbravejei toda a minha alegria!
O público a nossa volta parecia estar recebendo o campeão da prova. Senti-me o próprio De Villiers. Eles gritavam, aplaudiam e dividiam conosco uma alegria indescritível. A chegada em Buenos Aires foi quilômetros depois do fim da especial. Mais gente, mais felicidade e só hoje, ao tirar o carro do parque de fechado e dar a volta final pela cidade, subir a rampa de chegada, receber minha medalha de participação foi que, de fato, percebi: o rali acabou.
Acabou hoje a prova mais importante que já fiz na vida. O rali mais impressionante e marcante do qual já participei. Nele experimentei algo que sabemos, mas nem sempre aplicamos, que a vitória esta em nós, na nossa força de vontade e fé.
Lembranças – Ao parar para pensar, relembro que fiquei noites sem dormir, que vivi aventuras incríveis, que sofri dias inteiros, que mesmo quando tudo parecia estar a beira do fim, Deus olhava lá de cima e ouvia a nossa vontade de continuar. Fé que nos impulsionava a não desistir, a persistir e agora, vejo o tamanho da recompensa alcançada.
Ouço as pessoas falarem em prova mais dura de todas, que o Dakar fez história na América do Sul, e que após cumprirmos 9.574 quilômetros percorridos, dos quais 5.652 de trechos cronometrados, somos sobreviventes em meio a um número de baixas estonteante. Dos 530 veículos que largaram apenas 268 terminaram, índice que beira os 50% de abandonos.
Por tudo isso, penso que foi a América do Sul que fez história para o maior rali do mundo. Que ele fez jus a sua fama de mau e que já paira sobre mim uma saudade sem comparativos. Me pergunto: como isso é possível? Então entendo que o sofrimento passa, a felicidade compensa o esforço e o que fica é a certeza que ao superar limites compreendemos que somos capazes de fazermos mais e melhor. Saí do Brasil um Paulo, agora volto outro! Esse é o grande e impagável presente que o Dakar me deu.
Abraços a todos e muito obrigado por estarem comigo aqui!
Este texto foi escrito por: Paulo Pichini