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Diário do Bravo: Matias recebe primeira visita na segunda etapa da viagem


Segunda etapa começa com chegada em Port Morsby (foto: Matias Eli/ Arquivo pessoal)

Nessa segunda etapa da viagem contei com a presença do meu amigo Carlos Delgado de Carvalho, ou simplesmente “Delgado”. Durante sua estada no barco, ele foi um tripulante excepcional, não enjoou, aprendeu tudo muito rápido, além de ser muito disciplinado e pró-ativo. Assim que ele chegou fomos ao mercado de Auckland. Era impossível não ficar fascinado com o visual das bancadas cheias de folhas, verduras, frutas e raízes diferentes. Alguns produtos estavam bem acondicionados em bolsas feitas de folhas de coqueiro trançadas.

Depois abastecemos o barco e partimos no final da tarde para a primeira velejada do Delgado. Velejamos com uma brisa constante e muito agradável, além de um mar sem ondas que fez com que o Bravo navegasse rápido. E tão logo o dia amanheceu! Jogamos nossa linha e anzol na água torcendo para pegar alguma coisa durante o resto da viajem. De repente a catraca começou a girara e fazer aquele barulho. Tínhamos fisgado um peixe! E era dos grandes, pois era muito pesado e brigava muito.

O peixe era tão grande que decidimos dar mais da metade para o primeiro nativo que encontrássemos em terra. Assim acabamos fazendo nosso primeiro trading nas ilhas: 3/4 de um peixe de carne branca, suculenta e super fresca por dois cocos. O Delgado até hoje não se conforma com o nosso “trade”. Ainda na ilha, o “Jorge Soros” nos apresentou ao seu amigo que nos levou para a cidade, que nada mais é do que algumas ruas, de terra batida e casinhas simples. Foi a primeira vez que percebi como chamávamos atenção, pois toda a vila olhava para nós e muitos nos seguiam de longe, tentando disfarçar.

Cultura e próxima parada – Visitamos uma escola e conhecemos um coral de crianças maravilhoso, que cantou só para nós. Ganhamos frutas, pão e um convite para tomar “cava”. O “cava” é uma espécie de chá, preparado com a raiz de uma planta e é frequentemente tomada pelos homens da aldeia. A bebida tem um gosto não muito agradável, por isso é recomendável virar o cava de uma só vez. Naquele mesmo dia partimos para a ilha de Pentecoste e no caminho um enorme vulcão em erupção nos iluminava com uma luz vermelha, que contrastava com a luz branca da lua cheia.

Navegamos pela costa de Pentecoste durante o dia inteiro e a noite continuamos navegando rumo a Espírito Santo, uma das ilhas mais ao norte do arquipélago, onde pretendíamos reabastecer o combustível, já que estava ventando pouco. Quando chegamos a Espírito Santo havíamos consumido 100 litros do total de combustível, mas conseguimos abastecer. Porém, as condições eram pra lá de precárias, o combustível que eles tinham na aldeia era o que eles utilizavam para o gerador e acabamos abastecendo apenas 50 litros, pagando bem caro por isso.

O restante da viagem foi de pouco vento e a leitura abordo era muito apropriada, pois nós lemos os três volumes da coleção Terra Brasilis, sobre a história do Brasil desde o descobrimento até a colonização. As histórias que líamos nos livros nos conduziam para outro tempo, onde os descobridores navegavam sem a ajuda de instrumentos eletrônicos, nem de motor e nem mapa.

Ao por do sol tomávamos chá e conversávamos sobre a brutalidade e selvajaria daqueles tempos onde os portugueses capturavam e escravizavam nativos. Assim o tempo passou e chegamos a Port Morsby com apenas quatro litros de combustível no tanque e duas horas antes do término dos trabalhos de imigrações daquele dia.

Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure