Dicas servem para evitar choques e conflitos quando o mar está cheio (foto: Ricardo Sá)
Um dos atrativos da canoagem é a possibilidade de variar o esporte em diversos ambientes. Descer corredeiras, surfar, fazer travessias ou apenas dar algumas remadas em uma lagoa são algumas possibilidades de diversão possíveis dentro de um caiaque.
Para cada modalidade da canoagem existem equipamentos específicos para que se obtenha a melhor performance dentro do ambiente escolhido, mas isto não impede que você utilize um mesmo caiaque em diferentes situações. Claro que dentro de algumas limitações de performance e coerência.
O duck, caiaque inflável que surgiu como uma alternativa para iniciantes na canoagem em águas brancas sem o domínio do rolamento, e mais tarde se tornou mais conhecido no Brasil com as corridas de aventura, é um bom exemplo de equipamento usado em diversos ambientes. Hoje em dia você vê pessoas remando no mar, descendo corredeiras, surfando pequenas ondas na praia e fazendo treinamentos em locais como a raia da USP em São Paulo. O modelo inflável além de confortável é prático, uma vez que para a sua locomoção não é necessário ter um carro com rack ou caçamba.
Outra situação muito comum são os canoístas de águas brancas com seus caiaques de plástico que também se divertem no mar…mais especificamente, nas ondas. Assim como eu me iniciei na canoagem nas corredeiras e sempre gostei de praia, muitos canoístas aproveitam um final de semana no litoral para surfar.
Convivência – Para aqueles que dropam as ondas exporadicamente e testam as suas habilidades de freestyle, vale lembrar que no mar existem regras de convivência com outras tribos do surf, e que é de extrema importância que sejam respeitadas para que todos possam se divertir de maneira harmoniosa e sem confusões. E acreditem, em alguns locais as confusões são mais comuns do que se imagina!
O surf de prancha é um esporte popular e com tradição no nosso país, consequentemente o número de praticantes é grande, o que deixa as praias lotadas em dias de boas ondas. As regras de convivência entre as tribos do surf são chamadas de etiqueta do surf e são fundamentais para quem quer surfar de caiaque próximo ou junto aos surfistas e outros canoístas. Para quem não conhece estas regras vou passar a seguir algumas noções básicas para não entrar no mar desavisado.
O princípio básico destas regras é determinado pela ordem de preferência para surfar uma onda. Uma vez que o surfista (ou canoísta) tenha a preferência, ele não pode ter interferências no momento do drop ou enquanto ele estiver surfando a parede da onda.
Esta preferência é determinada por quem estiver mais próximo do momento crítico da onda. Para entender o que é este momento basta visualizar uma onda: temos a parte branca (espuma, onde a onda já estourou) e a parede lisa (onde a onda ainda vai estourar). O momento crítico é exatamente aonde a onda começa a quebrar (figura1).
Isto quer dizer que em um local cheio surfistas, se aquele que estiver melhor posicionado com preferência do drop por algum motivo não entrar na onda, a vez passa para o seguinte mais próximo, e assim por diante.
Atenção: Nunca entre numa onda sem olhar para trás e ver se tem alguém na posição de preferência. Se por acaso você entrar na onda de alguém e só perceber isto depois de algum tempo, imediatamente se posicione para sair da onda e faça isso o mais rápido possível!
Mas nem sempre as ondas são perfeitas e muitas vezes temos formações que podem confundir quem não está acostumado. É preciso ter muita atenção para evitar acidentes. Outra situação que deve ser considerada é quando em uma mesma onda existem dois pontos críticos, isto quer dizer que ela começa a quebrar em duas extremidades e coincidentemente cada surfista que estava posicionado de maneira certa em relação ao seu ponto de preferência, durante o deslocamento acabam indo na mesma direção podendo vir a se chocar. Aí o melhor a fazer é antecipar o choque invertendo a direção do caiaque ou saindo da onda (figura2).
Outra situação que gera confusão e pode atrapalhar é o momento em que os caiaques estão passando a arrebentação e se deparam com alguém surfando na sua frente. A tendência natural dos canoístas é procurar a parte da onda ainda não estourou evitando a espuma (uma vez que não passamos por baixo dela como os surfistas), mas neste caso você corre o risco de estar indo de encontro ao surfista (ou canoísta), atrapalhando-o ou até chocando-se com ele. O correto é sempre deixar a espaço da parede da onda para o “dono” dela e se direcionar para espuma (figira3).
Estas são apenas algumas regras básicas, que valem ser aprofundadas aqui por quem quer se aventurar nas ondas do mar. O importante é entender que para surfistas e banhistas o kayaksurf é novidade, portanto eles desconhecem como nos deslocamos, velocidade, força e peso. O kayaksurf é um esporte que evoluiu muito nos últimos anos e nossa performance se aproxima cada vez mais do surf de prancha, mas os surfista ainda tem a imagem deste esporte como algo sem direção na onda e muito perigoso de se chocar, por isso muitas vezes exageram na apreensão quando vêem um caiaque em sua direção. Em uma situação de possível choque ou risco, antecipe-se você e não fique esperando atitude da outra pessoa, pois poderá ser tarde demais.
Outra sugestão é evitar entrar no mar no meio do bolo de pessoas ou que estejam nadando ou principalmente que estejam surfando. Posicione-se um pouco mais afastado, o mar é bem grande e sempre sobram ondas, apesar de que se você seguir estas regras básicas para a segurança nos deslocamentos ou definição da preferência não terá problemas.
Boas ondas!
Este texto foi escrito por: Roberta Borsari, especial para o Webventure