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Direto da Fonte: repórter do Webventure compete o Rally dos Amigos


André Azevedo (foto: Divulgação)

Um caminhão de mais de quatro toneladas descendo a 118km/h uma estrada de areia com lombadas, passa por uma delas, salta e tira as quatro rodas do chão para depois frear, reduzir a marcha e fazer uma curva fechada. Isso com vários galhos batendo no vidro e a impressão que ele vai estilhaçar a qualquer momento.

Tudo aconteceu em apenas dez segundos, uma mísera parte da uma hora e quarenta minutos que a dupla André Azevedo e Maykel Justo levou para completar os 92 quilômetros da prova para caminhões do Rally dos Amigos. A bordo do Mercedes 1728, estava a dupla e um convidado especial: Eu.

Em uma entrevista antes da prova, André me convidou para participar do Rally dos Amigos no banco do meio do caminhão (que tem três e geralmente o mecânico vai no meio). Em 5 minutos já estava pronto, de macacão, sapatilha e capacete. Apesar da minha ansiedade, a dupla estava muito calma. Conversaram no deslocamento como se fosse uma viagem a passeio.

Dakar – Mas o assunto não poderia ser outro era o Dakar. “A vista lembra um pouco essa, com um vale enorme, que dá pra ver até o horizonte, só que sai as plantações e entra a areia do deserto”, disse André Azevedo. O navegador comentou que está fazendo aulas de inglês e francês, para poder interpretar a planilha. “Rios secos são um perigo muito grande, o Hodômetro tem que ficar sempre justado”, falou o piloto. “Com isso eu estou tranqüilo, porque é o que eu uso sempre no raid, com isso dá pra se ganhar uma prova”, disse Justo, lembrando suas origens no raid.

A largada dos caminhões atrasou em mais de uma hora. “Dá até pra dormir”, brincou Azevedo. Mas a dupla não teve descanso. Logo se formou uma roda de competidores de caminhão para fechar idéias e propor para as organizações de rali no ano que vem.

Depois da espera, alinhamos para a largada. O relógio da organização entrou na contagem regressiva. Três, dois, André acelera e o giro do motor sobe, um, vai! A areia prende o caminhão na arrancada, mas logo depois, ao passar de marcha, o gigante pega o embalo e engole os 500 metros de reta. Na primeira curva para a esquerda, percebi que o caminhão de rali é pilotado como um carro. Azevedo espera até o último minuto para frear, reduz a marcha, o caminhão enterra e faz a curva.

Três curvas depois já estávamos no meio do reflorestamento de eucalipto da fazenda da Eucatex em Itatinga. Uma descida de quase um quilômetro com lombadas. Foi lá que registramos a maior velocidade da prova, 118km/h, segundo o GPS. Em plena velocidade máxima o caminhão levantou vôo e caiu com as quatro rodas do chão. Ameaçou ir para o mato, mas o piloto freou e corrigiu, para logo entrar em uma das muitas curvas fechadas do circuito.

Segredo – André e Maykel formam uma dupla calma dentro do caminhão. Com o intercomunicador, falam baixo e não se exaltaram em nenhum momento da prova. É difícil manter a concentração em um ponto fixo dentro do caminhão. É difícil até tentar ficar sentado no banco. Foram 153 quilômetros cansativos, mas só de imaginar as especiais de 600 quilômetros do Dakar, imagino o nível de stress que os competidores são submetidos.

Além da comunicação interna, a planilha e o percurso, o navegador fica esperto no rádio ligado na freqüência dos pilotos, que conversam durante toda prova assuntos de emergência. “Carro capotado no quilômetro 80”, avisa um competidor. “Dá passagem?”, pergunta outro. “Vem pela esquerda!”. Não encontramos nenhum carro capotado, pois o corporativismo entre os competidores é grande na trilha e ninguém passa muito tempo de aperto. Porém, a areia e o percurso travado vitimou 12 veículos, que não completaram a prova. Ficaram na trilha até a passagem do último caminhão, esperando resgate.

No final dos cerca de 92 quilômetros, não havia sinalização para onde sairmos da prova. Sorte que um dos membros da organização estava no local para marcar o nosso tempo, se não a prova toda teria sido à toa. “Eu anotei o número de vocês e fui embora. Só tem vocês de caminhão na prova, os outros quebraram”, disse. “Ah, se soubesse nem corria tanto”, concluiu Azevedo.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa