Vitor Negrete, que também é colunista do Webventure, mandou seu primeiro relato do Nepal, na pré aclimatação para o projeto Everest sem Oxigênio. Confira
Direto de Lukla, no Nepal – Estou em Kunjung, a 3.700m, sentado em uma bakery, tomando chá preto e comendo um donnut. Estamos no terceiro dia da aclimatação, que começou em Lukla. Passamos a primeira noite em Monjo e a segunda em Namche Bazaar, a capital sherpa do Kumbu.
Quem conhece poderia perguntar: vocês não estão do lado errado da montanha? Sim estamos. Nós decidimos fazer uma pré-aclimatação na face sul da montanha. Amanhã vamos subir um pouco mais na encosta da montanha que esta atrás de Kunjung e descemos para Namche Bazaar, dormimos, descemos para lukla, dormimos e pegamos o avião de volta para katmandu.
Teremos um último dia para os preparativos e no dia 5 partimos de jipe para o Tibete. A viagem até o acampamento base da face norte deve levar 5 dias. Hoje efetivamente é o primeiro dia que temos algum tempo livre. As semanas que antecederam a saída do Brasil foram uma loucura e para deixar tudo mais corrido.
A Rede Globo confirmou a participação do repórter Clayton Conservani no grupo somente 4 dias úteis antes do nosso embarque. Nem sei como conseguimos viabilizar tudo para ele! Equipamentos, oxigênio, permits, passagem aérea, e toda a logística para envio de imagem desde o acampamento base avançado da face norte a 6.400m.
O repórter vai tentar chegar ao cume do Everest utilizando oxigênio suplementar. O importante é que agora faltam poucas compras em Katmandu e tudo está correndo muito bem para a partida para o Tibete. A vinda do Clayton possibilitou trazer o Guilherme Setani, mais conhecido como Totó. Ele vai ser o nosso apoio e também vai editar e enviar as imagens via satélite para a Globo. Totó foi o nosso apoio na escalada da parede sul do Aconcágua, quando o Clayton, juntamente como Guilherme Rocha cobriram a expedição. Fico muito feliz que ele esteja aqui.
Em Namche Bazaar ficamos no mesmo lodge (tipo de hotel de montanha) de uma expedição que vai escalar o Everest pela face sul. O líder da expedição, um neozelandês, escalou o Everest 6 vezes, chegando ao cume 3 vezes. Conhecemos também uma suíça que atingiu o cume com oxigênio pela face norte na sua primeira tentativa.
Ela saiu do acampamento 3 (8350m) a uma hora da manhã e chegou ao cume as 6h30 da manhã, simplesmente incrível. Ao meio dia ela estava de volta ao acampamento 3 e às 16 horas ela estava no ABC. Caraca!!!
O encontro com este grupo deixou muito claro que escalar o Everest sem oxigênio é muito, muito mais difícil. Estamos confiantes, mas cada vez mais percebemos que nossa escalada será extremamente difícil e dura. O neozelandês disse ao subir em direção ao acampamento 2, que fica na aresta nordeste da montanha completamente desprotegida do vento.
É comum ver barracas, sacos de dormir e outras coisas voando, que os ventos passam de 100km/h e que nenhuma barraca resiste a estes ventos. Assustador! Percorrendo as trilhas encontramos muitos pais levando crianças. Fiquei muito impressionado. São muitas crianças, pequenas, médias e grandes.
Mas, de maneira geral, os lodges e as trilhas estão vazias. Os turistas diminuíram. Pode ser que devido ao medo da instabilidade no Nepal, entretanto não encontramos nenhum problema, nenhuma ameaça e nada que importunasse os turistas. A trilha da face sul para o Everest base camp partindo de Lukla nunca apresentou riscos e neste ano tudo continua igual.
Este texto foi escrito por: Vitor Negrete
Last modified: abril 1, 2005