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Direto do rali: competidores, organização e diretores avaliam o Rally dos Sertões 2006 na metade da prova


Ulysses Marinzeck corre pela 1ª vez nos caminhões (foto: André Chaco/ www.webventure.com.br)

A 14ª edição do Rally dos Sertões chega à metade no Estado da Bahia e com isso já dá para se ter uma avaliação mais fiel do que está sendo essa prova, que destruiu as chances dos favoritos em carros de vencerem, faz um rodízio nos melhores de motos e até agora consagra o campeão do ano passado na geral de caminhões, Amable Barrasa, que compete na categoria mais leve da modalidade.

Para Deco Muniz, que navega para o piloto Murilo Serrano, o rali está difícil, mas muito bom. “Está muito duro, mas eu acho válido. Eu estou gostando e acho que o rali é isso, misturando trechos quebrados com trechos rápidos, com areia, está uma prova muito prazerosa”. Deco, que organiza provas como o Campeonato Paulista de Cross-country e Copa Troller, diz que o ruim é que nos primeiros dias eles terminavam muito tarde.

“Quanto a percurso, situação de prova, dificuldade, acho que está muito bem dosada, muito difícil, mas eu acho que quanto pior melhor. Tudo o que podia ter acontecido de ruim aconteceu com a gente, mas estamos na briga e o importante é ter chegado, meio estourado, mas estar chegando”, completa o navegador da Super Production Diesel.

Dimas Mattos – O experiente Dimas Mattos, piloto de moto da ASW Racing, faz sua avaliação: “O rali começou diferente, pois normalmente começa tranqüilo, vai esquentando, chega no auge no meio e depois relaxa. Esse ano já começou quente, os primeiros quatro dias já foram muito fortes, hoje também, e a tendência agora é ir um pouco mais tranqüilo”.

Dimas, que já correu dois Rally por Las Pampas e no fim do ano fará seu primeiro Rally Dakar, achou excelente o Sertões este ano e principalmente em termos de pilotos estrangeiros. “Eu ajudo convidando mais pilotos estrangeiros para cá, alguns amigos meus vieram, então eu acho que quanto mais estrangeiros aqui, mais o rali tem a ganhar, mais a gente aprende, mais eles aprendem um pouco com a gente aqui também. É muito bom ver os pilotos brasileiros disputando ali, junto com os estrangeiros. Apesar deles terem equipamento muito superior, principalmente em velocidade final, eu acho muito produtivo, muito bom”.

O piloto, que corre na Super Production até 450 cc, acredita que nos últimos dias o rali vai fica mais tranqüilo. “Dizem que agora o rali vai dar uma relaxada, em termos de grau de dificuldade, não vai ser mais tão difícil. Mas eu acho que vai ter muita serra daqui pra frente. Então quem acha que o rali já sossegou está enganado: essas serras, com erosões, vão revelar muitas surpresas até Porto Seguro”.

Com reportagem de Daniel Costa.

O português Jaime Santos veio pela quarta vez ser diretor de prova de carros e caminhões no Rally dos Sertões. São 22 anos dedicados ao rali cross-country e uma paixão pelo Rally Dakar, que teve início em 1983, quando três equipes foram participar do rali franco-africano pela primeira vez. No ano passado, Jaime foi o responsável por levantar o percurso das etapas européias até a Mauritânia.

O diretor de prova de carros e caminhões, faz uma avaliação que os cinco primeiros dias foram decisivos: “Ninguém estava esperando isso: está tudo do avesso e as coisas estão acontecendo ao contrário. Por um lado é muito bom, pois prova que o cross-country é uma modalidade em que qualquer piloto poderá sempre ganhar, como um piloto particular, sem tantos recursos como os de equipe de fábrica podem ganhar”, explica. Para ele não tem um favorito, uma zebra. “É uma loteria, cada dia muda o líder”.

Motos e quadris – Já o diretor de prova de motos e quadriciclos, o gaúcho Adilson Kilca, analisa que, com a chegada da metade do rali, chegou o limite de resistência dos pilotos. “Até agora a gente sabe que a prova está bem difícil, a gente vê pela fisionomia dos pilotos. O cansaço e a alegria de ter chegado até aqui, o fato de muita gente estar voltando no outro dia, é um sinal de que estão recuperando forças para seguir”.

Sobre as mudanças no regulamento, de aumentar a velocidade para 160km/h, ele diz que a direção de prova está tentando facilitar para que o piloto ande mais. “A preocupação é fazer com que eles andem dentro da especial, para que eles possam se ajudar entre eles, e assim procuramos penalizar o mínimo possível. Se todos tiverem condições de andar sem serem atrapalhado por ninguém e, principalmente, acelerar, é aí que vemos quem são melhores”.

Com reportagem de Daniel Costa.

O organizador do Rally dos Sertões e presidente da Dunas Race Marcos Ermírio de Moraes fala da alternância de posição entre os melhores colocados e do perfil do rali este ano: “Tivemos novas baixas, principalmente nas motos, como Tiago Fantozzi que vinha em segundo lugar no rali teve um problema na especial de ontem, está com a clavícula quebrada; o Jean Azevedo também vinha conquistando novas posições de pouco em pouco, mas atropelou uma vaca na etapa de ontem e perdeu um bom tempo pra voltar na competição”.

Areia vai desaparecer das especiais? Marcos garante que não, mas dá sinais de que vai diminuir: “Eu acho que daqui pra frente o rali tem boas especiais, mas com bem menos areia e que vai ter uma demanda de condicionamento físico bem menor do que havia tendo até então. Temos de aguardar os próximos quatro dias”.

O organizador do Sertões avalia um rali bem diferente de outros anos, quando algumas categorias foram praticamente decididas nos primeiros dias. “Essa é a vantagem de você ter um número maior de pilotos de ponta andando. Nas motos, temos pelo menos 10 pilotos com chances de vitória, nos carros também não é diferente e por isso toda essa expectativa de quem vai abrir um tempo que possa já administrar. Acho que o único caso que a gente tem que está praticamente definido são os caminhões. O Amable conseguiu logo nos primeiros dias abrir uma vantagem para o segundo colocado e com isso já pode administrar o seu tempo para garantir a vitória mais uma vez”.

Com reportagem de Daniel Costa.

Carlos Salvini, piloto do caminhão Mercedez-Benz que corre na categoria T4.2, venceu a especial de ontem entre Corrente (PI) e Barra (BA), disse que estava ansioso pela primeira vitória em uma especial do Sertões 2006. “Foi uma especial bastante pesada, onde valeu bastante a capacidade do caminhão, com um motor muito forte, um conjunto muito bom e a experiência que a gente tem de andar na areia. A gente tem andado bastante na região que a gente treina, na praia, isso ajuda bastante”.

O piloto conta que fazer a Corrente/Barra ao contrário, a tal especial dos 10 anos, foi uma lembrança muito boa: “Conhecemos essa especial ao contrário, em 2002, andamos bem nela até um determinado lugar, o Brejo do Urubu, onde nós furamos dois pneus. esse ano aconteceu a mesma coisa, mas nós escolhemos o pneu certo. Então furaram os dois traseiros. Se nós estivéssemos andando com um só, eu ia ter que trocar. Furou os dois e nós conseguimos chegar assim mesmo”. Para ele a sorte é importante. “O caminhão andou bem, fizemos em 5h50seg, com quase 3 horas de folga e deu tudo certinho, tem que dar certo pra acontecer”.

Já Willem Van Hees e Doris Van Hees, em carros, fazem a sua segunda participação no Rally dos Sertões e estão achando tudo ótimo. “Até agora as especiais foram muito legais, bastante areião, terreno que o Troller gosta muito e eu também. Gosto mais de trilha em vez de trechos de alta velocidade e até agora para nós está muito legal”, conta Willem. O casal participa da Copa Troller Sudeste e está contente com o décimo primeiro lugar na geral que conseguiram na especial de Corrente/Barra.

“Não foi nem um pouco esperado, realmente uma grande surpresa pra gente o 11º lugar, pois eu estava apostando pegar talvez um 20º lugar, mas do jeito que está indo agora está bom demais!”, disse o piloto.

Com reportagem de Daniel Costa.

Vanderlei Cassol, que esteve melhor na categoria Production Diesel, analisa que a sua categoria e a geral do Sertões até ontem era quase a mesma coisa: “A gente tenta subir um pouco cada dia e não consegue, porque o pessoal da Production não tá quebrando. Dentro dos 10 carros que estava na primeira da geral, oito eram Production até duas etapas atrás”.

Cassol fala da disputa na categoria: “Por exemplo, ontem passamos o Varela, ficamos atrás, passamos de novo. Nós seríamos os terceiros a completar a especial. Quando faltavam apenas 1,5km para completar, o carro do Klever e do Palmeirinha vieram muito rápido, mas rápido mesmo atrás de nós. Aí abrimos, mas para o lado errado e atolamos, terminando em décimo”.

Campeão em 2005 – O navegador cearense Marcos Rogério Almeida, que foi campeão no ano passado, disse que este ano a dupla (ele e Edu Piano) não tinham foco no bicampeonato. O rali para eles era estar bem na Production e promover o melhor desenvolvimento da picape Ford Ranger. Rogério brinca depois do problema sério na primeira especial (que não passaram no rio de vido a um problema mecânico) que, se o foco fosse mesmo estar nos melhores da Production, deveriam ter acompanho as duplas que subiram de lugar após a especial do Jalapão.

“A ocorrência mecânica que tivemos no primeiro dia nos tirou qualquer possibilidade de bom resultado no rali”. Para ele, haviam dois objetivos na prova, um de tentar a melhor colocação na categoria e outro o desenvolvimento da Ranger. Só continuam no segundo objetivo, “porque essa é nossa segunda casa”.

Com reportagem de Daniel Costa.

Ulysses Marinzeck faz a estréia em caminhões no Rally dos Sertões e segue na mesma categoria de caminhões leves de Amable Barrasa, o primeiro colocado na modalidade até agora.

Para Ulisses, que competia em carros, é bem diferente a corrida no caminhão, mesmo sendo um Ford F4000, mais ágil. O piloto confessa que antes do rali não teve muito tempo de conhecer o veículo. “Para mim é diferente mesmo porque já peguei o caminhão e fui direto entrando no rali. No começo dei umas erradas, porque o caminhão é bem maior. Quando você calcula a passagem numa taboa por exemplo, tem de esperar, fazer o cálculo melhor, porque não é igual ao carro, que você vem e passa direto. Mas é muito bom andar de caminhão, estou bem satisfeito”.

Já Stanger Welerson Eler, navegador de Roberto Reijers, que corre na Protótipos e está em sexto na categoria, o rali não passa um dia sem que eles não tenham problemas. “Será que não vamos ficar um dia sem problemas? Estava até brigando com o meu piloto”, brinca Stanger. Eles correm também com uma picape Ford Ranger e Stanger adianta o contentamento com o rali.

“Foi a melhor especial da minha vida, a de Corrente e Barra, tanto pelas emoções como pelos problemas do carro, pois conseguimos solucionar, arrancando a suspensão do carro no meio da especial, faltando ainda 180km para completar”. Stanger conta que a dupla veio só nas molas para a chegada, faltando 20 minutos para forfetar.

No prólogo eles largaram bem, mas os erros vieram depois, segundo o navegador: “Largamos bem, mas atolamos na primeira especial. No outro dia andamos bem, no seguinte (do Jalapão) ficamos meia hora agarrados e depois estourou o pneu e ontem caiu uma roda. Estávamos fora da prova, voltamos em segundo lugar e agora nem sei mais. Não dá mais para sonhar entre os cinco primeiros, que era o que queríamos, mas queremos terminar bem. Queremos deixar o carro bem afinado para o Brasileiro de Cross-country”.

Avanti Palestra – Palmeirinha, que este ano veio de BMW X3, não está mais na briga, apesar de ter vencido hoje a especial de carros. “Estou satisfeito de entrar numa equipe grande, de estrangeiros, e deles estarem aqui para conhecer o rali. Claro, estou frustrado por não estar mais brigando pelo título deste ano, mas feliz porque o Sertões mostrou-se uma prova de nível fantástico e mesmo um carro top do Dakar não tem facilidade aqui, como muitas pessoas achavam no início da prova”.

Com reportagem de Daniel Costa.

Este texto foi escrito por: Redação Webventure