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Divulgado relatório sobre trilha na Pedra do Baú

Redação Webventure/ Montanhismo

Pedra do Baú (foto: Cristiane Savieto/ www.webventure.com.br)
Pedra do Baú (foto: Cristiane Savieto/ www.webventure.com.br)

Depois das polêmicas surgidas em torno de um passeio à Pedra do Baú, a prefeitura de São Bento do Sapucaí (SP) decidiu acatar as sugestões da Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo (Femesp) e Clube de Montanhismo da Serra da Mantiqueira (CMSM) e mudar algumas coisas.

O passeio aconteceu no último domingo (28) com cerca de 50 pessoas. Inicialmente, a prefeitura abriu 300 vagas, por isso que as entidades se manifestaram, alegando que a trilha não suportaria essa quantidade de pessoas.

“O lugar não comporta tudo isso de gente por dois motivos: pela questão ambiental, o Baú é muito delicado, é um ambiente frágil; e pela questão de segurança. Associações internacionais dizem que para se controlar um grupo em uma situação de emergência em uma montanha, é necessário um monitor para cada 6/8 pessoas. Estamos em uma época de chuvas torrenciais e as trilhas estão encharcadas. Está perigoso levar essa quantidade de pessoas”, explicou Mônica Fillipini, coordenadora do Projeto do Baú e diretora de meio ambiente do CMSM, em entrevista ao Webventure no dia 22 de janeiro.

Tanto a Femesp quanto o CMSM enviaram cartas a prefeitura da cidade propondo uma série de mudanças no passeio, a qual foram atendidas. O número de inscrições foi reduzido e monitores do CMSM acompanharam os turistas durante todo o passeio. “Mesmo tendo havido um número reduzido de participantes se considerarmos as estimativas iniciais, a participação de monitores auxiliando a organização foi fundamental, principalmente por causa de algumas pessoas que tiveram dificuldades na caminhada pelo esforço físico e pelo tipo de trilha”, explicou Udo Wagner, diretor do CMSM e um dos monitores responsáveis.

“Tudo aconteceu conforme o planejado. Na nossa avaliação não haveria condições de três pessoas da organização darem conta de auxiliarem estas pessoas adequadamente, ainda mais por não possuírem treinamento adequado para isso. Se o grupo fosse maior, como previsto inicialmente, a situação poderia se realmente caótica sem mais monitores”, concluiu Udo.

Veja na continuação dessa matéria a carta enviada pelo CMSM para a prefeitura de São Bento do Sapucaí com a avaliação do evento.

Abaixo um relatório enviado pelo presidente do CMSM, Udo Wagner, à Prefeitura de São Bento do Sapucaí. Na carta, Udo conta como foi o passeio e dá sugestões para os próximos eventos.

Os voluntários encontram-se com o grupo de participantes do evento em torno das 8h20 do domingo.

O grupo já havia saído do centro de São Bento do Sapucaí com aproximadamente 25 pessoas, sendo 2 pessoas da organização para guiar o grupo. A este grupo juntaram-se os seis voluntários do CMSM, Udo, Márcio, Wallison, César, Rafael e Jorge já no inicio da estrada do Paiol.

Inicialmente o grupo caminhou até a Cachoeira dos Amores e seguiu por uma estradinha e uma trilha íngreme e bem erodida até no Chico Bento. Daí seguiu pelo asfalto até as proximidades da Casa Cara de Cão e subiu até a Fundação Pedra do Baú pela trilha “Deus me Livre”. Na Fundação Pedra do Baú o grupo fez uma pausa para lanche, tendo sido muito bem recebido pelo João Alieve. Na volta passou pelo estacionamento do Bauzinho, sendo que apenas uma parte dos participantes chegou a subir no mirante, devido a uma tempestade que atingiu o local, enquanto os participantes se preparavam para subir em pequenos grupos. Neste momento 3 pessoas deixaram o grupo e retornaram com um carro particular.

Depois de esperar cerca de 10 minutos o grupo continuou debaixo de chuva pela trilha do Baú, até o Chico Bento, No Chico Bento mais 6 ou 7 participantes voltaram de carro, pegando carona na ambulância (ninguém estava ferido) e em um carro particular. O restante retornou até a Cachoeira dos Amores pelo mesmo caminho que o grupo subiu, onde novamente foi atingido pela chuva. Nesta altura os participantes restantes se concentraram em uma lanchonete, onde uma Kombi da Prefeitura de São Bento buscou as pessoas.

Segundo a Sra Petrolina, existe o interesse de fazer eventos deste tipo com mais freqüência, como forma de promover São Bento do Sapucaí como destino de ecoturismo.

Com base nisto, e na experiência deste evento os voluntários se reuniram e tiraram algumas lições da experiência, que relatamos abaixo nossa opinião:

– Considerando-se o objetivo do evento, o trajeto foi muito puxado. Com quase 20 Km e desnível de cerca de 1.000 metros (subindo e descendo), passando por algumas trilhas difíceis, muitos participantes tiveram dificuldades, o que causou diversas desistências ao longo do trajeto. Toda a caminhada, descontando o tempo parada na Fundação Pedra do Baú teve 9 horas e foi muito exaustiva considerando-se que foi dirigida a turistas e não esportistas.

– Houve uma estrutura de apoio boa para a caminhada: ambulância com motorista da prefeitura e carro da polícia ambiental com 2 soldados, além de lanche e local de descanso na Fundação Pedra do Baú. Também haviam vários locais ao longo do caminho onde os participantes podiam usar banheiros. Mas a organização não disponha de rádio comunicadores, muito úteis na coordenação de um evento deste tipo. Os voluntários levaram rádios talk about emprestados por uma agência de ecoturismo de Campos do Jordão, suprindo esta deficiência.

– Mesmo tendo havido um número reduzido de participantes se considerarmos as estimativas iniciais, a participação de monitores auxiliando a organização foi fundamental, principalmente por causa de algumas pessoas que tiveram dificuldades na caminhada pelo esforço físico e pelo tipo de trilha, (cerca de 30% dos participantes). Na nossa avaliação não haveria condições de 3 pessoas da organização darem conta de auxiliarem estas pessoas adequadamente, ainda mais por não possuírem treinamento adequado para isso. Se o grupo fosse maior, como previsto inicialmente a situação poderia se realmente caótica sem mais monitores.

Assim recomendamos para outros eventos deste tipo:

– Escolher percursos mais fáceis, com duração máxima em torno de 5 horas, que não forçam demasiadamente as pessoas menos experimentadas, mas não deixam de agradar quem tem mais condicionamento.

– Contratar monitores de ecoturismo locais para acompanhamento dos grupos, de forma que seja mantida uma média de 1 monitor para cada 6 pessoas em percursos mais técnicos e de impacto maior e até 1 monitor para até 10 pessoas em percursos de baixo impacto e baixa dificuldade. Assim além de agregar qualidade ao evento, se estará gerando renda e estimulando a profissionalização das pessoas da cidade em torno do ecoturismo. O custo de um monitor é de R$ 30,00 a R$ 50,00 por dia e pode ser absorvido através de um pequeno aumento de preço de inscrição. Outra opção para absorção do custo dos monitores é que pousadas e restaurantes patrocinem o trabalho destes profissionais nestes eventos. (O evento cobrou uma inscrição de R$ 10,00 por pessoa)

– Limitar o número de participantes em função da disponibilidade de monitores, das características do percurso (impacto ambiental e dificuldade) e da estrutura de suporte disponível. Este cálculo precisa ser feito caso a caso.

– Fazer um seguro de todos os participantes da atividade. Os organizadores tem responsabilidades civis e criminais sobre o que ocorrer na atividade, como acidentes com os participantes. Existe um seguro no mercado específico para este tipo de atividade e custa menos de R$ 1,00 por pessoa.

É importante ressaltar que quando se promove um ou mais eventos deste tipo, principalmente se ocorrer visita a locais de grande beleza paisagística, existe a tendência de algumas pessoas que fizeram a atividade, voltar a fazer espontaneamente o percurso, agora acompanhados de amigos, e alguns destes amigos resolvem trazer outros amigos, e/ou fazer mesma trilha de moto etc. Pode existir um efeito multiplicador a longo prazo e o impacto social e ambiental que podem trazer pode ser negativo para a cidade como destino de ecoturismo. Um bom planejamento integrando gestão dos recursos naturais, uso de mão de obra especializada e marketing pode minimizar este tipo de problema. Isto é função da prefeitura da cidade em parceria com a comunidade local.

Destacamos que o CMSM se continua a disposição da Prefeitura de São Bento do Sapucaí para atuar como parceiro em projetos que levem ao desenvolvimento sustentado da região.

Aventurosamente,

Udo A. Wagner
CMSM

Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni

Last modified: fevereiro 1, 2007

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