O piloto ganha abraço de Beto Gardano da equipe Mitsubishi. (foto: Luciana de Oliveira / Webventure)
Ele confessa que chegou a se achar um azarado. Mas o dia de ontem mostrou que a má fase ficou mesmo para trás: ao lado de Marcelo Vívolo, Guilherme Spinelli conquistou seu primeiro título do Campeonato Brasileiro de rali cross-country após quatro anos na equipe Mitsubishi. Em entrevista exclusiva após o Rally Águas de Lindóia, ele diz que o que aprendeu com os piores momentos foram a receita para a virada: “é preciso acreditar que não foi por acaso que uma coisa não deu certo”.
Webventure – É inevitável perguntar qual é a sensação de conquistar este título…
Guilherme Spinelli Foi um fim de semana inesquecível: aqui em Águas de Lindóia vencemos o prólogo, as três especiais e o título. Consagrou um trabalho de muitos anos da equipe Mitsubishi e a L200 Evo, que é um carro fantástico andamos em todos os tipos de piso neste ano e ela se saiu muito bem. Conquistar o título por antecipação (esta foi a penúltima etapa do Brasileiro) tem um gostinho especial. E foram grandes concorrentes, mas conseguimos colocar a equipe Mitsubishi novamente no lugar mais alto do pódio, posto que ela havia perdido há três anos.
Webventure – No ano passado vocês tiveram um projeto de carro que não deu certo e mudaram muitas coisas para este ano. Como foi essa transição?
Spinelli A equipe nasceu em 1999 e de lá para cá a gente foi tentando primeiro com a L200, partindo de um carro de rua com algumas adaptações para o rali. Depois veio a L200R e em cima dela fizemos um carro para a equipe, que ficou apelidado de Catedral. Em 2001 nasceu a L200 Evolution. No ano passado partimos para um carro a gasolina, que não deu certo, e terminamos aquele ano com a L200R com a intenção de desenvolver a R3 para venda e competições. Só que começamos este ano com a L200 Evolution diesel, que foi criada para rali, para disputar a ponta. Faltava acertar alguns detalhes e foi o que fizemos no começo do ano. Foram fundamentais os testes e treinos, mas ainda temos muito a melhorar, o carro só tem três anos de uso.
Webventure – Nesse tempo todo em que os resultados não surgiam, você chegou a pensar em largar tudo?
Spinelli Confesso que cheguei a me achar um azarado. Porque víamos potencial no equipamento, no piloto, no navegador, mas tinha sempre um obstáculo que atrapalhava a gente. Por duas vezes fomos vice-campeões do Sertões, então ficava aquela sensação de “será que algum dia a gente vai chegar lá?” Apesar de termos ganho o Terra Brasil e o Sertões neste ano, sempre teve um problema no meio do rali que complicou a vitória. Mas hoje tivemos um desfecho perfeito, impecável. Os maus momentos ensinaram muito a gente até a encarar esses momentos ruins com mais naturalidade. Esporte é isso, vencer sempre é impossível.
Webventure – O que segurou você nesse tempo todo?
Spinelli Acreditar que as coisas não dão errado por acaso. O Sertões deste ano foi uma grande escola porque eu fiquei muito abatido no segundo dia, em que capotamos. Tomei bronca de um monte de gente que perguntou se eu ia me dar por vencido… Foi uma grande lição, tenho certeza que o próximo grave problema que eu tiver num rali eu vou encarar de forma diferente.
Webventure – Você está pronto para encarar a pressão pela manutenção desses bons resultados?
Spinelli Pressão maior do que a que tivemos em 2003 não existe. Com a saída do Ulysses (Bertoldo, piloto), que de certa forma dividia um pouco esse peso comigo na equipe, e a entrada do Ingo (Hoffmann), que é um piloto de quem a gente não pode exigir excelentes colocações por ainda estar muito cru nos ralis, ainda que seja um piloto fantástico, ficou uma grande pressão sobre o Marcelo e eu. Mas se por acaso vier uma pressão ainda maior, a gente vai encarar.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: outubro 13, 2003
