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Dois gigantes, dois estilos diferentes de organizar o Enduro a Pé

O colunista e capitão da equipe Caravana George Hirata fala das diferenças entre as maiores organizações de trekking de regularidade do país. Analisa também o perfil de cada uma delas e o segredo de seu sucesso. Confira.

O mês de julho foi um prato cheio para os “viciados” em Enduro a Pé. Tivemos provas em todos os finais de semana em diversas partes do Brasil. E dizer que houve uma época em que os organizadores evitavam marcar provas nas férias escolares, com receio de ter poucos competidores.

No domingo, dia 24 de julho, 40 equipes de graduados e mais 81 equipes de trekkers competiram na sétima etapa do Campeonato Paulista de Enduro a Pé (www.enduroape.combr) . No último domingo do mês, 26 equipes graduadas e 112 equipes trekkers participaram da sexta etapa da Copa North de Enduro a Pé (www.northbrasil.combr) .

Foram, portanto, mais de 120 equipes competindo em cada um dos dois últimos domingos de “férias”, dando uma pequena mostra da força atual do esporte.

Duas exigências técnicas diferentes – A prova do Paulista teve 12,5 km percorridos em 3,5 horas. Foi uma prova bastante técnica com diversos trechos em alta velocidade (acima de 70 metros por minuto) para competições de Enduro a Pé. Alguns trechos longos ultrapassaram os 90 m/min, dificultando muito o trabalho dos contadores de passos na aferição da distância, principalmente em quatro postos de controle virtuais (postos em que são anotadas a distância percorrida e não o tempo de passagem da equipe).

O terreno plano não exigiu muito da parte física dos competidores, mas a grande quantidade de postos de controle (PCs) tornou a prova bastante disputada e qualquer distração causava a perda de pontos preciosos que foram decisivos no resultado final.

Já a prova da North mais uma vez trouxe uma novidade para os graduados. Um total de 160 azimutes indicou o caminho a ser percorrido pelas equipes. As equipes tiveram que navegar sem referências visuais. Colocou-se em prova a agilidade e o entrosamento das equipes exigindo precisão e rapidez, pois além das constantes tomadas de bússolas, as distâncias eram na maioria muito curtas e as velocidades não permitiam momentos de reflexão.

O stress competitivo foi sentido do início ao final da prova. Vale destacar a impressionante performance da equipe Trackless Revista Terra, que perdeu apenas 391 pontos, em uma prova em que todas as demais equipes de graduados perderam mais de mil pontos.

Há algum tempo observamos diferenças marcantes no estilo de cada um desses organizadores. O Paulista, mais conservador, sempre colocando a técnica em primeiro lugar, com pouca exigência física, poucos pontos perdidos e muito equilíbrio entre as equipes. Alguns detalhes precisam ser melhorados. As equipes que cometem um erro grave, perdendo muitos pontos em um determinado pc, tem poucas chances de se recuperar pois a prova não impõe grandes dificuldades de navegação. Falta emoção.

Falta colocar as equipes em situações de pressão e adrenalina constantes. Outro ponto que sempre questionei e que considero como seu tendão de Aquiles é não realizar a premiação das equipes no final de cada etapa. Pontos fortes: um site equilibrado, de fácil navegação e uma transmissão on-line das etapas extremamente eficiente.

A divisão da categoria Graduados em A e B também é um grande atrativo para as equipes recém promovidas da categoria Trekkers. Apesar de competirem com a mesma planilha e o mesmo percurso, a premiação é distinta, o que permite competir contra as melhores equipes tendo a possibilidade de figurar no pódio. É gratificante quando uma equipe da graduados B obtém um desempenho superior às equipes da graduados A.

Ousadia – A Copa North, mais ousada, sempre corre o risco de sofrer críticas. Entretanto, temos observado uma grande aceitação por parte das equipes de provas recheadas de laços com distâncias curtas e bússolas demandando grande agilidade e um perfeito sincronismo das equipes; com omissão de distâncias que dificultam os cálculos e requerem maior precisão dos contadores de passos e uma crescente exigência física dos graduados.

Em todas as provas o que não falta é adrenalina nas veias. Seu ponto forte: a organização, extremamente preocupada com a satisfação dos participantes. Precisa melhorar sua página de divulgação na web, muito difícil de navegar e de localizar as informações desejadas. O número elevado de equipes em cada categoria muitas vezes desmotiva algumas equipes pois é muito difícil ficar entre as primeiras. Foi anunciado, na última etapa, que no próximo ano serão criadas duas novas categorias, uma medida que pode solucionar esse problema.

Enfim, não existe a organização perfeita. Ela depende também das características dos participantes. Para a nossa alegria, a cada dia surgem novos organizadores, todos buscando satisfazer o maior número de “clientes”. No final, quem ganha é o Enduro a Pé, que está cada vez mais consolidado em todo o país, atraindo novos patrocinadores, novos praticantes e, quem sabe, maior interesse da mídia. Um dia ainda estaremos nos principais noticiários de esporte.

Este texto foi escrito por: George Hirata