Dois mundos diferentes: o ambiente da montanha… Na foto o El Captain nos EUA. (foto: Divulgação)
É… Parece que neste ano a federação saiu do papel e engrenou de vez. A FEMESP (Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo), em conjunto com os ginásios, se organizou e, pela primeira vez nestes últimos anos, temos um calendário de competições para 2002. Últimos anos sim, pois em 1995, 1996 o Tom (Papp), Ricardo Laiser e mais uma galera conseguiram o feito de realizar várias etapas com aquele monstrinho nas camisetas, que muitos ainda têm perdidas no fundo do armário.
Hoje toda esta organização é resultado de muito trabalho do Silvério Nery (presidente da FEMESP), a galerinha dos ginásios e colaboradores: Marcelo (Vertical Indoor), Paulo Gil (90 graus), Renata (Crux), Goro Shiraiwa, Tom Papp, Rosita Belinky, Jussara, eu (Casa de Pedra), entre outros.
Foi exatamente nestas conversas, na busca de soluções para organização, regras, busca de patrocínio, e outros detalhes, que mais uma vez falamos na filiação dos atletas aos clubes e voltamos ao inicio de um antigo problema… Antes de continuar, por falar de patrocínio, palmas para o Roberto e o Francisco, da Serelepe que, com uma visão atual e empreendedora, foram os primeiros a fechar uma cota de patrocínio para todas as etapas deste ano, com a marca Kailash.
Clubes de montanhismo – Voltando aos atletas, teoricamente, a filiação aos clubes seria uma forma de organizar os praticantes de cada estado, separá-los por categorias e termos nas mãos uma lista de todos os escaladores interessados em competição.
No entanto, quem são os clubes hoje? CAP, CEU, CMSM? Sem faltar com respeito a essas entidades mas, da mesma forma que os interesses delas são outros e de certa forma muitos de seus integrantes não vem com bons olhos a escalada esportiva, ou pior, os escaladores de plástico, muitos destes atletas também não querem filiar-se a este tipo de clube.
Afinal, que benefícios eles teriam? Palestras, cursos, exposições e vantagens diversas numa modalidade de escalada que muitos nunca tocaram as mãos e muitos nem querem… O montanhismo cresceu, os interesses divergiram muito ao longo do tempo.
Dois mundos diferentes – Hoje a escalada esportiva de competição em nada, ou muito pouco, tem a ver com o montanhismo clássico. Dois mundos completamente diversos foram criados. No entanto, ainda insistimos em vê-los como o mesmo esporte. Quais são as semelhanças e interesses dos atletas que pedalam o Tour de France com aqueles que fazem dirt jump nos X-Games, na Califórnia? Qual a semelhança de interesse ou mesmo de perfil entre esses atletas?
Seria mais fácil perguntar quais são as diferenças, pois, fora andar em duas rodas, todo o resto é diferente. Na escalada, o que acontece é basicamente isto: de um lado temos atletas que curtem aplausos, barulho (entenda musica eletrônica), premiação, competição, agarras de plástico e lances acrobáticos; do outro, montanhistas assíduos por conquistas de cumes isolados, grandes paredes de pedra, silêncio, sossego e introspecção.
Espero que o tempo separe de forma saudável os dois mundos, sem richas ou brigas. Quando todos perceberem que não estamos mais falando da mesma coisa, ficará mais fácil resolver o problema. Afinal o que é mesmo um crampon?
Este texto foi escrito por: Alê Silva (arquivo)
Last modified: março 26, 2002