Inspirada por comentários sobre as recentes mudanças na escalada do Costão do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, Helena Artmann reflete na coluna deste mês sobre a postura de certas pessoas de reclamarem de tudo…
Lendo os e-mails dos participantes da lista de discussão da Femerj (Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro) não posso deixar de me surpreender com a incrível capacidade do ser humano em reclamar, sempre. Comentando sobre o assunto das alterações na escalada do Costão do Pão de Açúcar, aqui no Rio (veja a coluna anterior), reclama-se porque a pedra estava lá, prestes a cair e “ninguém” fazia nada. Reclama-se porque alguém foi lá e fez alguma coisa, mas não era “o certo”. Reclama-se porque nada, nunca, está ao agrado de todos. Afinal, isto é mesmo impossível de acontecer e devíamos aprender a aceitar isso…
O mais interessante é o quanto a Internet facilitou os reclamões de cadeira que, confortavelmente sentados atrás de um teclado, digitam furiosamente suas mágoas e, desgostosos, atiram pedras – sem trocadilhos – para todos os lados. Uma pena. Pena maior porque, quando convocamos estas mesmas pessoas da lista para trabalhos voluntários, apenas meia dúzia de gatos pingados se dignam a responder. Aparecer e executar o trabalho? Isto sobra para um número ainda menor.
Por uma causa – Lembro de um que respondeu, seriamente, que se o trabalho voluntário não fosse atrapalhar seu lazer semanal, ele o faria de bom grado. Esqueceu-se de lembrar que qualquer trabalho voluntário atrapalhará alguma coisa em sua vida… E, pior, também esqueceu que todos que trabalham por esta federação o fazem voluntariamente, doando seu tempo, sua energia e, muitas vezes, seu dinheiro para uma causa.
Li outro dia uma frase interessante, que dizia: “Não me peça para dar a única coisa que tenho para vender”. Pois muitos que trabalham pela federação estão dando e doando o seu ganha-pão – e o fazem pelo amor que têm pela montanha. E não posso deixar de me lembrar do nosso presidente desde a fundação, Bernardo Collares Arantes, que me comentou ter sua conta de telefone aumentada em pelo menos 100 Reais(valor de cerca de dois anos atrás) por causa da Femerj, pagos mensalmente de seu próprio bolso. Acredite se quiser, mas ele já foi acusado de querer “enriquecer” às custas da Femerj…
Por estas e outras que nosso País está como está…
Este texto foi escrito por: Helena Artmann
Last modified: março 23, 2004