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E falta água…

Por incrível que pareça, em pleno ano 2000 ainda há quem pense que a água é um recurso infindável. Neste momento, muitas das grandes cidades brasileiras estão enfrentando racionamento enquanto muita gente ainda tira folhas da frente da calçada com o esguicho da mangueira, quando uma simples varrida economizaria litros e mais litros de água limpa e potável. Alguns bairros têm ficado sem abastecimento por até dois dias consecutivos e este quadro ainda deve piorar muito até agosto ou setembro.

Falta água em nossas cidades, apesar de vivermos em uma região de alto índice pluviométrico, porque poluímos os pontos nos quais poderíamos coletar água para nosso abastecimento e porque consumimos água demais.

Mas quem pensa que a falta de água é um problema exclusivamente urbano está muito enganado. A mesma falta de planejamento e cuidado com nossos recursos naturais está levando à diminuição dos pontos de água potável ao longo das trilhas que utilizamos para nossas caminhadas e nos locais para acampar em contato com a natureza. Atualmente já não contamos com toda aquela plenitude de água até mesmo no meio do mato.

Quando “o governo” ou “os empresários” poluem um rio com esgotos residenciais e industriais, diminuem o nosso próprio abastecimento de água. Ou você pensa que é fácil e barato limpar a água do Rio Tietê para consumo humano? Poluindo a água de um rio, um lago ou uma represa estamos colaborando para a diminuição da nossa própria oferta de água.

E eu com isso? – Por que você acha que todo livro de caminhada e o regulamento de toda área de caminhada ou acampamento que se preze sugere que se acampe, cozinhe ou vá ao “banheiro” a pelo menos 30 metros de distância da fonte d’água e que se enterre devidamente os nossos dejetos? O que você acha que acontece quando um hiker faz seu “banheiro” muito próximo a um rio ou lago ou não enterra direito suas fezes? Na primeira chuva, às vezes no primeiro vento, tudo pode ir para dentro do rio, poluindo o que pode ser sua própria fonte de água naquela caminhada.

Se por um acaso este hiker descuidado tiver com ameba ou giardia, já será suficiente para contaminar a fonte d’água que muitas outras pessoas necessitarão usar por muitos anos, isto sem falar em doenças mais sérias como a hepatite tipo A.

(*) Cláudio Eduardo Patto, colaborador da Webventure, é biólogo, mestre em Ecologia Evolutiva e doutorando na UNICAMP. Especializado em biologia tropical, atualmente está realizando sua pesquisa de doutorado nas florestas do Espirito Santo.

Lembre-se que quem contamina a água dos outros é sempre quem pensa que é um cara saudável, higiênico e que não é vetor de nenhuma dessas doenças ou que vive em regiões desenvolvidas onde “não existem” essas mazelas. No entanto, a grande maioria das trilhas dos Parques Nacionais americanos estão fortemente infestadas de Giardia. Beber água, lavar louça ou simplesmente escovar os dentes com a água de trilhas, sem filtrar ou ferver, mesmo no país mais rico e desenvolvido do mundo significa pegar Giardia na certa.

E mesmo que você ache tudo bem em sujar com seus dejetos orgânicos a água que você, seus amigos e outros adoradores da natureza irão beber, outras pessoas podem não achar legal. No Brasil, já existem muitas caminhadas em que temos de sair da trilha por vários minutos, às vezes horas, para poder pegar água para beber. Se isto não é falta d’água, eu não sei então o que é…

O que fazer?

Para não poluir:

  • Nunca permita que seus dejetos, sejam eles fezes, lixo ou resto de comida, entrem em contato com fontes d’água;
  • Despeje-os a pelo menos 30 metros de distância da água;
  • Enterre seus dejetos a pelo menos um palmo de profundidade e cubra com bastante terra e bem prensada

    Se for consumir água duvidosa:

  • Filtre ou ferva a água duvidosa. Em princípio, considere toda água não tratada como duvidosa;
  • Ferva ou filtre toda a água a ser consumida ou usada para lavar louça, escovar dentes ou lavar frutas e verduras;
  • Se você costuma consumir água não tratada, faça exames de fezes pelo menos trimestralmente. Caso contrário, faça-o anualmente.

    Este texto foi escrito por: Cláudio Patto