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E por falar em conservação…

Redação Webventure/ Aventura brasil

Nós que vivemos nossas aventuras em ambientes naturais não podemos deixar de falar em conservação. Afinal, muitas das nossas atividades dependem da sua manutenção e, em geral, muitos de nós procuram um maior contato com a natureza em estado natural, além da atividade física e esportiva em si. Não que devamos nos tornar militantes ecológicos ultra-radicais, lutando pelo fechamento dos parques e reservas em grandes redomas de vidro. Mas devemos parar para pensar no que podemos fazer para podermos continuar desfrutando destes locais, ou ao menos no que fazer para não sermos mais um dos motivos da sua destruição.

A princípio, evitar influenciar estes ambientes com as nossas atividades é uma tarefa inglória. Em geral, a nossa simples presença já é suficiente para perturbar e modificar estes lugares. Andando no mato, podemos alterar o comportamento dos animais que não estão habituados com este grande, ruidoso e por vezes numeroso mamífero, que é o ser humano. E abrindo picadas e trilhas, aumentamos muito a quantidade de alguns tipos de ambientes abertos que surgem apenas esporadicamente com distúrbios como a queda de grandes árvores. Sem falar na destruição que a erosão de trilhas muito usadas podem causar ou na introdução de plantas invasoras que não pertencem ao ambiente aonde jogamos os restos da sua fruta com suas sementes (veja no EcoBrasil anterior).

E estes são apenas alguns exemplos dos impactos diretos ou indiretos, de grande ou pequeno efeito de uma lista praticamente interminável. A nossa presença a atividade nestes ambientes, quando não destroem, é o suficiente para perturbá-los e alterá-los em muitas das suas características naturais.

Por outro lado, confesso que esta é uma visão extremada. Afinal, querer andar em um ambiente na sua forma natural, totalmente isento de qualquer alteração causada pelo homem em suas características naturais, no Brasil, também é uma tarefa difícil a pelo menos 10.000 anos. Mesmo o homem pré-histórico já perturbava o comportamento dos animais, já abria picadas e trilhas e assim por diante.

Se considerarmos estes homens pré-históricos, os índios modernos e o seu impacto como parte do ambiente natural que encontramos depois do descobrimento, será difícil achar um só pedaço de terra, água, mata ou campo que não tenha sofrido a nossa influência, muito antes mesmo da invenção da mountain bike e do excursionismo.

E quanto ao efeito individual destes impactos que eu mencionei, eles dificilmente alteram o ambiente a ponto de nós mesmos sentirmos grandes diferenças. A alteração do tipo de vegetação vegetação por causa da trilha, o fato de bandos de macacos alterarem suas rotas devido a presença humana ou a presença de uma laranjeira perto da trilha costuma ser percebida por pessoas treinadas como mateiros ou especialistas. Inclusive, o efeito individual destes pequenos impactos é pouco notada até o uso de indicadores e índices ambientais como por exemplo, a diminuição da diversidade de espécies.

Entretanto o efeito acumulativo dos pequenos impactos causados pelas nossas atividades pode ser muito visível e o efeito combinado de vários impactos diferentes pode ser desastrosamente perceptível. Quem não sente a diferença da vegetação crescendo em uma trilha fechada provavelmente nota quando esta trilha fica larga o suficiente para passar um carro e as densas samambaias, lianas, urtigas e outras ervas impedem que se entre na mata. Que antes era possível caminhar com pouca dificuldade, ou ainda no encontro de várias trilhas largas, formando uma clareira tão grande que o capim praticamente impede que se passe. E quem não nota uma goiabeira crescendo ao lado de uma trilha, facilmente percebe quando a trilha cheia de inúmeras diferentes árvores fica tão repleta de goiabeiras que até parece um pomar.

Para nós que queremos freqüentar estes ambientes naturais, ou quase, sendo radical, nós os perderemos ou em redomas de vidro, achando que qualquer coisa que fizermos estará destruindo irremediavelmente estes lugares ou os perderemos descaracterizados, parecendo lixões ou fazendas se acharmos que podemos fazer de tudo sem perturba-los ou altera-los. Para nós, conservar estes lugares significa manter as características que nos atraem e que nos fazem lembrar do nosso ideal de natureza. Significa também manter as características que nos permitem exercer nossa atividade de “aventura”.

Para dar exemplos extremos, imagine o desespero de quem adora praticar rafting em rio cheio de corredeiras encontrando neste rio canalizado. Ou a raiva de quem gosta de escalada esportiva em rocha e encontra naquela via quase impossível uma agarra talhada, ainda um monte de pedaços de plástico. Quem gosta de mountain-bike, corre o risco de encontrar aquela bela trilha selvagem calçada com pedaços de pedra? Não que eu seja contra alterações humanas no ambiente em estado mais natural possível podem não ficar satisfeito em fazer trekking em meio a um pomar. Vale a pena pensar sobre o assunto.

Este texto foi escrito por: Cláudio Patto

Last modified: novembro 12, 1999

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