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É possível produzir imagens com qualidade profissional

Sá Monte ensina, na coluna deste mês, como você pode registrar sua aventura e obter um bom resultado.

Ok, você acaba de voltar de viagem e trouxe na mochila horas e horas de gravação dos momentos mais significativos de sua última aventura. No entanto, logo na primeira exibição do material gravado, você percebe que as imagens estão muito aquém daqueles momentos tão especiais e emocionantes que passou. As imagens estão trêmulas, o som está ruim, a iluminação e as cores estão desequilibradas, o tema está mal enquadrado e as tomadas são longas e desconexas entre si. O que houve de errado durante a gravação?

Produzir imagens com qualidade profissional é algo que está ao alcance dos videomakers amadores sem grandes complicações. Basta tomar alguns cuidados básicos na hora de planejar e fazer as suas tomadas. A partir desta edição de nossa coluna vamos tratar de dicas que irão ajudá-lo(a) na hora de partir para uma gravação e, assim, melhorar o resultado final de seu trabalho.

Planejando uma tomada – Um erro básico que o videomaker amador comete é gravar sem fazer o planejamento antecipado daquilo que está sendo gravado. Ele simplesmente aperta o botão REC (de record) e sai mirando a câmera para os assuntos que lhe interessam num determinado momento. Não que isso esteja errado, mas se ele não souber exatamente como captar a acão provavelmente a imagem será de baixa qualidade e sem sentido.

Para fazer uma boa gravação é importante saber antecipar a ação, visualizar o melhor enquadramento e saber como posicionar a câmera para obter este enquadramento.

1) Antecipando a ação
Se você pretende gravar uma de tomada sobre um determinado assunto, em primeiro lugar, deve antecipar a ação que irá se desenrolar em torno deste assunto. Se você não faz isso, acaba captando imagens fora do contexto, fora de enquadramento e fora do tempo, diferente daquilo que você gostaria de ver representado na telinha.

Antes de mais nada, pergunte-se: qual é o tipo de ação que você irá gravar? Um diálogo? Um movimento lento? Uma queda brusca? Um grupo de pessoas correndo? Ou simplesmente uma paisagem, entre inúmeras possibilidades? Se você sabe como se dará a ação daquilo que quer gravar, tem a oportunidade de visualizar a tomada (ou variações da tomada) que pretende fazer desta ação, pois saberá o que irá acontecer com os elementos que compõem esta ação antes que aconteça de fato.

Esse primeiro passo, é uma forma de pesquisa, ou estudo, se preferir, para que você tenha informacões suficientes para fazer a concepção de uma imagem que seja interessante e representativa daquilo que está sendo gravado.

Em segundo lugar, você deve determinar como irá enquadrar esta ação ou, em outras palavras, como você quer que essa ação seja representada na tela. O enquadramento da ação pode ser feito de várias maneiras diferentes e vai depender da forma que você quer representar esta ação. Tente visualizar tudo numa tela mental. Imagine como os elementos da ação devem estar enquadrados durante uma tomada. Este passo é a onde você fará a concepção da imagem que irá gravar.

3) Planejando o posicionamento e a movimentação da câmera
Sabendo como você quer enquadrar a ação, ou seja, tendo nítida em sua tela mental a imagem que você busca, agora terá como: planejar o posicionamento da câmera e o movimento dela em relação à trajetória da ação, planejar o ângulo de enquadramento do assunto e seus elementos durante esta trajetória e definir os tempos de início e fim da tomada. Nesta etapa, basicamente, você estará determinando o ponto de vista da gravação a partir do enquadramento desejado.

Para ilustrar, imagine que você está ao lado de uma estrada por onde irá passar um ciclista e que você pretende fazer uma tomada desta ação. Assim:

  • a trajetória da ação, neste caso é dada pela própria estrada;
  • o posicionamento da câmera, por exemplo, pode ser á beira da estrada, quase que de frente para o ciclista, a meio metro de altura;
  • o ángulo de enquadramento irá acompanhar o ciclista num zoom out (que vai do ângulo mais fechado ao mais aberto), variando à medida que ele se aproxima, passa e se afasta da câmera;
  • o movimento da câmera será horizontal, acompanhando esse movimento de passagem do ciclista pela câmera;
  • o início da tomada será a cerca de 20m de distância antes da câmera e o fim a 10m depois.

    Pronto, acabamos de planejar uma tomada. A ação não aconteceu ainda mas você já visualizou as imagens, antecipando e o que irá acontecer a cada instante da tomada. Assim fica simples determinar onde a câmera estará posicionada e como ela deverá ser operada para obter as imagens da forma que foram visualizadas.

    Poderia haver variações? Claro, inúmeras, de acordo com a sua imaginação e vontade. Essa mesma sequência de ação poderia ser segmentada em várias tomadas distintas, a partir de pontos de vista distintos.

    Dando sequência ao exemplo anterior, imagine outras variações de enquadramento para a mesma ação:

  • uma tomada geral, distante da estrada e com o enquadramento fixo, mostra a paisagem e a passagem a distância do ciclista;
  • um outro ponto de vista poderia ser tomado da própria bicicleta, mostrando aquilo que o ciclista vê;
  • outro ponto de vista poderia ser tomado de um veículo que acompanha-se o ciclista; enfim, as opções são ilimitadas.

    Uma outra grande vantagem de se fazer a antecipação, é que ela também permite o ensaio da tomada. Antes de fazer a captação pra valer, você pode ensaiar livremente os movimentos de operacão da câmera para determinar a melhor forma de fazer a captação da imagem de acordo com a sua visualização.

    Engenharia reversa da imagem
    Bom, agora que você já tem uma idéia dos passos básicos para a obtenção de uma boa imagem, que são:
    1) Antecipar a ação de um assunto;
    2) Visualizar o enquadramento desta ação;
    3) Planejar o posicionamento e a operação da câmera para a captação da imagem que foi visualizada.

    Você pode exercitar livremente o trabalho de planejamento mesmo sem ter uma câmera, bastando apenas observar filmes e programas de televisão. Faça este exercício: experimente assistir a uma determinada cena de um filme de sua preferência onde haja uma ação interessante e, a partir disso, tente imaginar onde a câmera estava e como ela pode ter sido operada para fazer aquele enquadramento. Tente determinar o movimento da câmera. Tente descobrir qual foi a variacão de ângulo que o cameraman utilizou. A imagem estava estabilizada ou não?

    Esse tipo de exercício, bastante útil para obter noções de enquadramento, é similar ao exercício da leitura para se obter um bom vocabulário. Quanto mais você exercitar, mais referencias terá na hora de visualizar e planejar suas próprias tomadas. Afinal, o próprio cinema vem evoluindo na base das referências nos últimos 100 anos.

    Próxima coluna – Na próxima edição vamos aprofundar um pouco mais sobre a questão do enquadramento e da variação de ângulo. Vamos conhecer os tipos clássicos de movimento e modos de operação de câmera.

    Ficamos por aqui e até a próxima! Se você tiver interesse em comentar esta coluna, fazer perguntas ou mesmo sugerir temas, me escreva.

    Este texto foi escrito por: Marcelo Sá Monte