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Ecomotion/Pro utilizou trilhas que iriam ser abertas ao público em Itatiaia e caminhos turísticos na Ilha Grande

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Canoagem em caiaques duplos levou equipes até a Ilha Grande (foto: Theo Ribeiro/ Ecomotion)
Canoagem em caiaques duplos levou equipes até a Ilha Grande (foto: Theo Ribeiro/ Ecomotion)

A polêmica foi grande entre a comunidade de montanhismo por causa do evento Ecomotion/Pro, a mais importante corrida de aventura brasileira e que faz parte do calendário mundial das corridas de aventura (ARWS). O motivo: a passagem das equipes competidoras não apenas pelo Parque Nacional de Itatiaia (PNI) o primeiro parque nacional do país mas por trilhas que estão fechadas ao público há pelo menos 15 anos.

Na Ilha Grande, que pertence à baía de Angra dos Reis (RJ), a preocupação de ambientalistas não foi menor: os competidores tinham em seu mapa de navegação uma trilha que passava por uma reserva ecológica.

O Ecomotion/Pro reuniu 52 equipes há quase um mês atrás, em um evento competitivo que teve largada em Resende (RJ) e seguiu em direção à Visconde de Mauá, entrando pelo parque nacional em Maromba, utilizando a trilha da Serra Negra, via Vale do Aiuruoca, e depois descendo a trilha Rui Braga, que liga o Planalto de Itatiaia à sede baixa do parque, duas trilhas que estavam fechadas ao público.

Os presidentes das federações de montanhismo que representam os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente Silvério Nery (que também é presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada) e Bernardo Collares, escreveram uma carta ao chefe do PNI pedindo uma posição oficial do por que não foram informados antes que a competição passaria pelo parque e por trilhas que foram consideradas degradadas há anos.

Foi uma carta aberta, divulgada também aos participantes de listas de discussão de montanhismo, e que mostrava a preocupação com o manejo das trilhas, o grau de impacto que haveria nas trilhas após a travessia das equipes e o número excessivo de pessoas dentro da área do parque em um mesmo momento. A não divulgação do evento nas reuniões mensais ou em listas de discussão pela internet para os membros do Conselho Consultivo e Câmaras Técnicas também preocupou os representantes dos montanhistas, segundo a carta.

Trilhas de uso extensivo – O fato é que as trilhas já estavam em estudo para serem abertas pelo parque e estavam sendo discutidas sua abertura com as câmaras técnicas que acontecem pelo menos desde o início do ano com membros da sociedade civil, clubes de montanha, militares da Academia Militar das Agulhas Negras, representantes de guias de turismo, entre outros.

As trilhas usadas foram as chamadas Zonas de Uso Extensivo, como indica o Decreto nº 84.017, de 21/09/1979, que regulamenta os parques nacionais brasileiros. Segundo o decreto, as trilhas de Serra Negra via Aiuruoca e Rui Braga seriam “trilhas constituídas em sua maior parte por áreas naturais, podendo apresentar alguma alteração humana”.

Segundo o decreto, a zona tem como objetivo o manejo a manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, mas oferecer acesso e facilidade públicos para fins educativos e recreativos.

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Autoridades no assunto de mínimo impacto, como o geógrafo Roney Perez dos Santos, também montanhista e membro do Centro Excursionista Universitário, observa em um de seus textos enviados às listas de discussões (Algumas observações sobre a corrida de aventura no Parque Nacional de Itatiaia e política de visitação em parques, de 20/11), que para haver estudo de impacto ambiental relevante em áreas de conservação deveria ser feito um estudo detalhado antes e depois, porque os montanhistas registraram fatos como “pisoteios em algumas áreas” e presença de lixo na trilha.

A boa notícia que veio da gestão do PNI na última reunião do conselho consultivo foi que não houve impacto ambiental relevante nas trilhas no Ecomotion/Pro 2006. Em 2006 foi registrado mais impacto ambiental pela gestão do parque em ao menos três períodos de alta temporada no inverno, por visitantes em geral e também por montanhistas e escaladores.

Os competidores começaram a chegar no Abrigo Rebouças, já no Planalto de Itatiaia, nas primeiras horas da manhã, e pela noite as últimas equipes ainda chegavam, após um percurso semi-expedicionário. Nas zonas de uso extensivo usadas na prova (Serra Negra e Rui Braga), em que 52 equipes passaram entre aproximadamente 7 horas do dia 10/11 até a noite daquele mesmo dia, foram mais de 70 quilômetros de trekking sem assistência.

O número contabilizado de pessoas que entraram na parte alta foi de 202 pessoas. Os compedtidores que chegaram na base das Prateleiras foram apenas 132. Já no Cume das Prateleiras chegaram apenas 100. Se esse número foi ultrapassado, foi por muito pouco, não mais que 10 pessoas. À esta altura da prova, as equipes já estavam separadas em mais de 16 horas.Isso proporcionou um espaçamento grande ente cada integrante de cada equipe.

Em dia de visita normal, o parque recebe visitantes e esportistas entre 7 horas até o horário de fechamento, aproximadamente às 21h.

Parcerias com o setor privado – Outra informação importante que foi divulgada por vários veículos de comunicação antes da realização da competição (inclusive o Webventure) é o compromisso de a organizadora do evento realizar benefícios diretos, como colocação de placas de sinalização, recuperação das trilhas Mauá- Rebouças e PNI. . (Veja aqui a matéria antes da largada da corrida).

A médio prazo o compromisso assumido também pelo Ecomotion Outdoor Sports é ajudar a viabilizar os investimentos necessários para recuperação e utilização pública e de mínimo impacto em vários pontos do parque via instituições privadas que sejam seus patrocinadores.

Um dos grandes patrocinadores do evento Ecomotion/Pro, a empresa de cosméticos Natura, já esteve em contato com o Ibama através dos responsáveis pelo PNI.

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Muitos competidores foram entrevistados durante o Ecomotion/Pro 2006, brasileiros e estrangeiros, e dentre as perguntas este ano esteve presente o tema responsabilidade e mínimo impacto.

Mesmo porque, antes da corrida, o capitão da equipe e seus integrantes tiveram de assinar um termo de compromisso redigido pelo Ibama (fato inédito), responsabilizando-se pela conduta sua e de sua equipe dentro do PNI.

Para Walter Behr, chefe do Parque Nacional de Itatiaia e responsável por uma fase de transição importante do primeiro parque nacional do país, essa era uma das ações importantes a ser realizada, para inserir a cultura de mínimo impacto diante de uma autoridade mais forte, no caso, o Ibama.

Mesmo antes da autorização, Behr se antecipou e elaborou um Termo de Compromisso entre o Ibama e a organizadora do evento, o Ecomotion Sports Marketing, em que o empresário Said Aiach Neto ficou responsável por ações diretas antes mesmo no início do evento.

Benefícios imediatos – As ações imediatas são a colocação de placas sinalizadoras das trilhas que foram reinauguradas (Serra Negra e Rui Braga); a elaboração de 3 mil folders das travessias conforme normativas do parque e conselhos consultivo, assim como a aquisição de uma residência no início da trilha de Maromba – Parque Nacional de Itatiaia para servir de nova portaria ao parque pela região de Visconde de Mauá e o pagamento de 1 ano de salário para um funcionário autônomo auxiliar a monitorar a entrada por esta trilha.

Além disso, no Termo de Compromisso, há uma cláusula que pede a garantia de uma patrocinador para o projeto de recuperação integral do parque que tem um custo de 300 mil reais aproximadamente o mais importante e discutido pelos membros do conselho consultivo do Parque Nacional de Itatiaia.

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Em nota de 10/11, o Ibama aprovou a realização da corrida Ecomotion/Pro 2006 que passou pelo Parque Nacional de Itatiaia. Leia a nota de Luis Lopes (Ibama) com os principais trechos:

Ibama apóia o esporte de aventura

Começa no domingo mais uma edição do Ecomotion/Pro, a corrida de aventura mais importante da América Latina (…). Os participantes percorrerão cerca de 500 km em seis dias e seis noites cheias de emoção e obstáculos.

Os locais da largada e as trilhas são mantidos em segredo até o momento da partida. O certo, porém, é que, nesta edição, os competidores passarão por dois de nossos parques nacionais: o parque nacional do Itatiaia e o parque nacional Serra da Bocaina.

As provas anteriores do Ecomotion/Pro (…) sempre contaram com o apoio do Ibama na autorização de uso dos parques nacionais. Para o chefe do Parque Nacional do Itatiaia, Walter Behr, esse tipo de atividade gera mínimo impacto e traz máximo retorno para a instituição.

“Os organizadores se comprometeram a recuperar as trilhas usadas na competição, pois estavam degradadas há muito tempo”, explica. Além disso, afirma que os organizadores irão colocar placas de sinalização nas trilhas e abrirão um posto de controle em Mauá, que será repassado ao Ibama. “É um projeto de recuperação integral e que prevê condições ideais de sustentabilidade”, informa.

“Agora teremos monitoramento e poderemos fazer um trabalho de prevenção e manejo em uma área abandonada”, comemora Walter. O local vinha sendo usado como passagem de ruminantes ou como pasto para o gado, além de outras utilizações clandestinas. “Tinha até uma pessoa construindo casa em uma área sensível do parque”, revela.

Além disso, o chefe do parque informa que após as corridas as trilhas serão abertas ao público, “uma reivindicação antiga cuja falta de infra-estrutura não permitia a abertura”. Com a aprovação do projeto pela DIREC e com o termo de compromisso assinado pelos organizadores, Walter espera que esse exemplo seja seguido pelas demais unidades de conservação do Ibama.

“Os organizadores de corridas de aventura ganham muito com a utilização dos parques nacionais nas competições e o Ibama também, não só pela visibilidade, mas, também, pela possibilidade do desenvolvimento de projetos e ações que visem à melhoria dos parques e, conseqüentemente, do acesso da população às unidades”, diz.

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Além de Itatiaia, outro local de ataque dos ambientalistas na corrida de aventura Ecomotion/Pro 2006 foi a trilha que seria percorrida pelos competidores que conseguissem passar um corte de prova no PC 19, em Mangaratiba (RJ). Esses conseguiriam fazer o trecho de canoagem dupla e um trekking pela Ilha Grande, na baia de Angra dos Reis (RJ).

O traçado original da trilha que foi feita em trekking passava não apenas pelo Parque da Ilha Grande, desembarcando na Vila de Abraão, passando por Lopez Mendes, mas também pela Reserva Biológica da Praia do Sul, um feito impossível para qualquer organizador de evento, ainda mais sem comunicação oficial com a Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) responsável pela administração da Reserva.

Uma carta aberta assinada pelas entidades Assembléia Permanente de Entidades de Defesa do Meio Ambiente, Comitê de Defesa da Ilha Grande, Guias da Ilha Grande, Instituto Sócio-ambiental da Baía da Ilha Grande e Sociedade Angrense de Proteção Ecológica questionou nas listas de discussão por que uma competição esportiva passaria numa área frágil e eles e os turistas não poderiam usufruir dela.

A carta dizia que “De forma ética e profissional, abrindo mão de ganhos financeiros, (os guias) cuidam da preservação do meio ambiente local e tacitamente colaboram com os órgãos ambientais. A regra básica dos guias é: ninguém utiliza trilhas não-oficiais e muito menos entrar na REBIO (Reserva Biológica do Sul)”.

Mudança de planos – A articulação da organização do Ecomotion foi rápida quando não conseguiu a permissão para passar nas áreas originalmente escolhidas, depois que a prova já havia começado. Houve uma mudança no trajeto do trekking em Ilha Grande, que passou a ser litorâneo e turístico, percorrendo o mar de dentro da ilha: Enseada das Estrelas, Saco do Céu, Freguesia de Santana, Bananal, Matariz, e Sítio Forte, onde ficou o PC 23, na Praia da Longa.

João Batista Andrade é o chefe da Divisão de Recursos Ambientais, responsável pela gestão das unidades de conservação da Feema e está na fundação há 12 anos. Andrade falou com a Redação do Webventure que não foi consultado e nem comunicado oficialmente que um evento esportivo passaria na ilha, principalmente em sua área de gerenciamento.

“Gostaria de enfatizar que é importante ouvir com antecedência os órgãos gestores das unidades de conservação, porque isso acaba criando um embaraço para quem organiza o evento e para quem gerencia essas áreas”, explicou. Ele diz que algumas dúvidas poderiam ser equacionadas se fossem discutidas alternativas de trechos. “Acontece que não tivemos nem essa oportunidade”.

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O trecho escolhido pela organização antes do início da prova, entre a Vila de Abraão e Dois Rios, foi vetado pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas), já a Reserva Biológica do Sul seria vetada pela Feema, apesar de não ter sido comunicada oficialmente. “O que eu tenho certeza é que eles não cruzaram a reserva, houve uma mudança nos planos e não entraram nas áreas em que pudessem ser advertidos”, sinalizou Andrade.

O erro comum, tanto para alguns ambientalistas, guias e até montanhistas é o desconhecimento da competição corrida de aventura. O esporte, que é praticado em equipes de quatro pessoas, é realizado com mais vigor em seu primeiro dia, mas depois as equipes se distanciam e chegam a fica com até dois de diferença, dependendo de cada caso.

Quando se fala em uma prova que tem 208 competidores (52 equipes) na largada, a falta de informação sobre o esporte faz com que se crie uma expectativa de que todos pisarão ruidosamente nessas unidades de conservação de uma vez só.

Fácil, turística e de dificuldade quase inexistente, a trilha no mar de dentro da Ilha Grande foi feita por apenas 18 equipes, que conseguiram chegar neste ponto da prova, passando o segundo corte da prova, no PC 19, em Mangaratiba. A trilha utilizada por fim não era de parque e nem de reserva, mas de uso público, e teve início na Vila de Abraão e término na Praia da Longa.

“Acho importante registrar que isso não é uma punição reativa em principio. É na realidade uma busca de compatibilizar essas atividades importantes e saudáveis de maneira que obedeçam à legislação ambiental. E isso às vezes depende de pequenos ajustes”, concluiu Andrade.

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Este texto foi escrito por: Cristina Degani

Last modified: dezembro 6, 2006

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